Cena 1: o superclose em uma janela é afastado gradualmente para percebermos uma cozinha, uma mulher e uma criança, a câmera se afasta totalmente até sair do cômodo, atravessar um corredor e adentrar o próximo, em plano aberto, um senhor se movimenta em um quarto, até que o plano volta a fechar em superclose na janela; 15 minutos. Cena 2: o senhor se embrenha pelas ruas de madrugada a recolher garrafas dos vizinhos e ajustá-las num bambu, com o intuito de encher seus conteúdos num rio próximo; 13 minutos.
Esses são os dois primeiros planos de “A árvore”, coprodução Portugal-Bósnia dirigida pelo luso André Gil Mata, que abusa da admiração pelo casal Bela Tarr e Agnes Hranitzky, ao contar uma engenhosa trama de acerto de contas com o passado. Por trás da contemplação dos planos, reside a investigação que o longa propõe ao espectador através do detalhamento. Cada plano esconde uma camada para investigar o mistério, cada nova tomada representa um capricho ainda maior com a carpintaria sonora do longa e um apuro sem igual da sua luz. Das mais belas e radicais experiências do Festival do Rio 2018.
* Membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro
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A ÁRVORE: **** (Muito Bom)
Cotações: o Péssimo; * Ruim; ** Regular; *** Bom; **** Muito Bom
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SESSÕES
Hoje, às 14h20, Estação NET Gávea 3
Amanhã, às 16h30, Kinoplex São Luiz 1
Dia 6, às 14h30, Estação NET Ipanema 2
Dia 7, às 19h, Estação NET Rio 4