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Minas Trend: Mudanças na organização cortam custos sem, no entanto, mexer na essência do evento

Ines Rozario -
Quimono e pijama aveludado da Chris Gontijo, look para dormir e sair de casa
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BELO HORIZONTE - A 23ª edição do Minas Trend fecha o ciclo de lançamentos da moda Brasil para 2019, depois do ID Fashion, de Curitiba, do Veste Rio e da São Paulo Fashion Week. Mas, em Belo Horizonte, a grande novidade passa longe das cores e tendências: o evento mudou geral, graças à entrada de Flávio Roscoe, empresário da Color Têxtil, como presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e a volta de Ronaldo Fraga como diretor criativo. Esta dupla promete reduzir custos, abrir mais frentes de patrocínio e critérios justos na seleção de participantes. O resultado já se notou na ambientação com containers coloridos, na simplificação dos looks e na abertura para o público.

“Pedi ao João Paulo Weisberg e à Clarissa Neves, responsáveis pela ambientação, que fizessem um visual colorido, meio Lego. Contamos com patrocínios fora do circuito da moda. Um bom exemplo, a Arcelor Mittal, maior grupo produtor de aço do mundo, autor do portal de entrada do ExpoMinas”, contou Ronaldo Fraga, recém-chegado do próprio desfile em São Paulo, se preparando para se apresentar em dezembro, em Montevidéu.

Flávio Roscoe teve 120 dias para conseguir algumas das mudanças que pretende instalar. “Acabamos com o paternalismo de marcas que só topam participar se for de graça. Reduzimos o déficit em 50% sem mexer na essência do evento, que é a moda. Trouxemos 800 compradores, demos aval para 15 eventos paralelos, criados pelo Museu da Moda de Belo Horizonte. Nossa intenção é fazer do Minas Trend o maior salão de negócios da América Latina”, antecipou Roscoe, que realizou esta edição com orçamento de R$ 6 milhões (atualmente eventos com porte menor chegam a quase R$ 20 milhões).

A moda, enfim

Se os bastidores prometem facilitar a continuidade do MT, o que se viu como moda também parece animador. A maior aposta se dirige às marcas autorais, o que foge do conceito de apegos exagerados às tendências. A roupa de festa, típica de Minas, ganha colegas como moda praia, jeans e plus size.

O desfile de abertura mostrou o talento dos autorais com “peças editadas sem subterfúgios”, como definiu Ronaldo Fraga. Nada de chapéus, flores, excessos de styling.

Joias e bijuterias abriram o desfile do segundo dia, com grandes correntes de elos coloridos, pérolas e brincos de longas borlas de seda. Em seguida, um coletivo de marcas de Alagoas se destacou pelos trabalhos em crochê e filé, tipo de renda típica de Maceió. Toques de luxo em cristais e fios metalizados tiraram o tradicional aspecto folclórico. O destaque também para os vestidos de linho.

O contraste de listras multicoloridas com partes pretas encantou na seleção assinada por Victor Dzenk. Um belo conjunto de longos, macacões e capas, visto ao som de música portuguesa, coerente com a inspiração no Algarve.

O segundo dia de desfiles reforçou o luxo no estilo mineiro. Patrícia Motta, especializada em moda em couro apresentou primeiro a linha de vestidos e calças em degradês de azul, depois, o melhor, a linha de couro preto nervurado, marcando as formas do corpo. A tendência cowboy apareceu com brilhos e franjas prateadas em bases pretas na coleção de Denise Valadares. O Jardim das Tulherias, em Paris virou casacos, calças, saias de paetês, quase sempre com barras de plumas, até um vestido todo franjado, em verde fluo, lembrando uma melindrosa, na Manzan, uma das marcas queridas das celebridades. E o auge do luxo foi a Chris Gontijo, pela versatilidade da lingerie e roupa supostamente de dormir. Ou não, já que os quimonos, pijamas e muitas camisolas podem sair de casa para as baladas festivas.

Luxos do salão

Instalados nos containers coloridos, expositores de todo o Brasil atendiam lojistas interessados principalmente nos acessórios. Para Rosana Bernardes, designer carioca de bijuterias, as linhas de cordões com medalhas religiosas quase esgotaram. O paulista Lenny Matos havia criado uma retrospectiva de bolsas para celebrar 33 anos de trabalho. “Era edição limitada, mais para vitrine. Uma clientela levou tudo!”, comentou Lenny. De Natal, veio Sheila Morais, com todas as lindas bolsas de madeira e resina da sua “clutcheria”, feitas por artesãos de Seridó, interior do Rio Grande do Norte. Também de lá, as pulseiras que viram gargantilhas graças ao acabamento com lenços de seda, da Palone Leão. Na ala de calçados, Margot Vilas Boas recebia lojistas quase em fila de espera aguardando para fazer os pedidos de versões leves das botas western e dos mocassins com forma quadrada. E enquanto várias marcas de roupas mantinham espaços fechados, a Unity Seven estava com um grande estande aberto, três modelos vestindo os longos minimalistas com recortes e decotes elegantes. O criador Fernando Silva apostou na coleção mais moderna, “porque a clientela está cansando dos tules, rendas e bordados” afirmou o designer, que acrescentou vestidos de coquetel e o casual chic à Unity Seven.