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Exposição inédita na Caixa Cultural reúne fotos do extinto "Correio da Manhã"

Erno Schneider -
A cidade e a beira-mar
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Um olhar sensível e apurado sobre o Brasil e o Rio de Janeiro das década de 1960 sob as lentes de uma geração de talentosos fotógrafos. A Caixa Cultural abre hoje ao público a exposição “Correio da Manhã: uma revolução de imagens nos anos 1960”. Dividida em cinco módulos, a mostra apresenta uma seleção de 88 fotografias publicadas no extinto jornal carioca garimpadas pela curadora Maria do Carmo Rainho. As imagens registram os principais acontecimentos da vida pública do país numa década que mudou o mundo.

Pesquisadora do Arquivo Nacional, a historiadora observou cerca de 12 mil fotos produzidas entre 1964 e 1969, período em que o premiado fotógrafo Erno Schneider (ganhador do Prêmio Esso de 1962, com uma icônica fotografia do então presidente Jânio Quadros com as pernas tortas) trocou o JORNAL DO BRASIL pelo “Correio”. “Neste período, o jornal investiu pesado em equipamentos modernos, incluindo máquinas com grandes teleobjetivas. Sob a liderança do Erno, a atuação dos fotógrafos foi ampliada: a equipe passou a intervir, propor e produzir reportagens como os ensaios fotográficos que se tornariam comuns, sobretudo no intenso ano de 1968”, destaca Maria do Carmo.

Em termos de linguagem, a preocupação do time de fotógrafos do jornal era promover um registro poético sobre o cotidiano da cidade e do país. “O próprio Erno declarou muitas vezes que exercitou esse olhar ético e não sensacionalista em sua passagem pelo JB”, conta a curadora. Outra preocupação do profisisonal era o respeito ao trabalho autoral de seus colegas, que passaram a assinar as fotografias publicadas, prática incomum até então.

E assim profissionais do quilate de Osmar Gallo, Luis Pinto, Sebastião Marinho, Rodolfo Machado, Rubem Seixas, Fernando Pimentel e Manoel da Costa Pinto (Prêmio Esso de 1966) passaram a ser reconhecidos pelos leitores. “Essa exposição é uma grande homenagem aos fotojornalistas brasileiros”, justifica a historiadora.

Protestos de estudantes, passeatas e manifestações de artistas contra a censura eram amplamente noticiados nos ensaios fotográficos do jornal que fechou as portas em 1974. Nas páginas dos cadernos de esportes, moda e cultura, os editoriais quebravam a rigidez do padrão figurativo que dominava o fotojornalismo por décadas na imprensa.

Para cobrir temas que iam da vida cotidiana no Rio de Janeiro à Copa do Mundo de 1966, passando pela surgimento da minissaia, o “Correio” apostava em imagens com ângulos e cortes inusitados, iluminação especial, técnica apurada e grandes ampliações, uma ousadia para o fotojornalismo da época.

A publicação já era conhecida pela qualidade e densidade dos textos que publicava: foi oposição a praticamente todos os governos brasileiros desde a sua fundação, em 1901. Mas dez anos depois, o jornal inovou ao utilizar recursos gráficos, como o recorte e a superposição, para dar mais destaque às imagens.

No módulo político, a mostra exibe imagens marcantes de manifestações de estudantes e passeatas durante os anos 1960; o fechamento do Congresso Nacional em 1966; a visita do presidente francês Charles De Gaulle ao Brasil; o fim da empresa de aviação Panair; e registros dos presidentes do período militar. Outra parte da exposição aborda flagrantes do cotidiano carioca, suas belezas naturais, personagens, mazelas e muitas cenas do carnaval, com baianas, ritmistas e blocos.

A moda e as políticas do corpo também ganham destaque na exposição: fotografias que revelam os novos modelos de gênero; a sensualidade feminina nas fotografias de moda; o unissex; os agentes da moda: prestigiados costureiros internacionais em viagem ao país. Nos esportes, destaque para a primeira cobertura internacional de uma Copa do Mundo (Inglaterra,1966) realizada pelo jornal. Na exposição, o público terá acesso a imagens curiosas de treinos e jogos amistosos e da participação brasileira na disputa. Na cultura, destaque para a cobertura dos famosos festivais da canção, que revelaram grandes nomes da Música Popular Brasileira; literatura; os espetáculos teatrais e shows que marcaram a década. “São fotografias que revelam a diversidade e a riqueza da produção cultural do país.

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SERVIÇO

EXPOSIÇÃO CORREIO DA MANHÃ: UMA REVOLUÇÃO DE IMAGENS NOS ANOS 1960

Caixa Cultural (Av. Almirante Barroso, 25 - Centro;

Tel: 3980-3815) Hoje a 23/12 - Ter. a dom., das 10h às 21h - Entrada franca.