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Mostra na Caixa Cultural revê diretores que combateram ditadura de Franco com filmes autorais

Divulgação -
"Morte de um ciclista" (1955), de Juan Antonio Barden, é um dos 12 filmes da mostra raramente exibidos nas telas brasileiras. Trata de conto moral sobre adultério
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Tem Almodóvar saindo do forno: “Dolor y gloria” estreia em fevereiro trazendo o ator Antonio Banderas no papel de um cineasta que revê seus erros e acertos do passado. Aos 69 anos, o mestre manchego finaliza seu novo longa-metragem de olho numa vaga na briga pelo Urso de Ouro do Festival de Berlim 2019 (7 a 17 de fevereiro) num momento em que a produção audiovisual espanhola engata uma fase de bonança comercial e prestígio de crítica. Na seara da teledramaturgia, só se fala em “La casa de papel” e Élite”, grifes de sucesso da Espanha nas plataformas de streaming. No cinema de gênero, o país se consagra na seara do terror (com a obra do valenciano Paco Plaza, em longas assustadores como “Verónica”) e do thriller (com o trabalho do madrilenho Rodrigo Sorogoyen em “Que Dios nos perdone” e “El reino”). Já no terreno autoral, diretoras como Isabel Coixet (“A livraria”) e Carla Simón (“Verão 1993”) e o cineasta catalão Isaki Lacuesta (“Entre dos águas”) garantem à produção cinematográfica de sua nação uma ebulição criativa que não se via há tempos.

Macaque in the trees
"Morte de um ciclista" (1955), de Juan Antonio Barden, é um dos 12 filmes da mostra raramente exibidos nas telas brasileiras. Trata de conto moral sobre adultério (Foto: Divulgação)

Não há nada igual por lá pelo menos desde os anos de luta contra a intolerância e a violência do franquismo, assunto de uma retrospectiva que começa amanhã na Caixa Cultural e segue até o dia 11 de novembro resgatando um time de diretores-autores que fizeram história entre as décadas de 1950, 60 e 70. Hoje dedicado a documentários e a uma cinebiografia ficcional de Picasso, Carlos Saura é o mais consagrado dos realizadores no pacote da mostra, que dele exibe “A caça” (1965), no dia 1º, às 17h. O mais cultuado, contudo, é o recluso Victor Erice, escritor e cineasta bissexto que deslumbrou cinéfilos em 1973 com “O espírito da colmeia”, com sessão agendada para 31 de outubro, às 19h.

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Premiado em Cannes, "Bem vindo, mister Marshall" (ao lado), de 1953, do anarquista José Luis Berlanga, é uma sátira ao imperialismo americano (Foto: Divulgação)

Com coordenação de Julia Dias e curadoria de Marta Sánchez, o festival “Os filmes que driblaram a censura de Franco” abre sua maratona de 12 títulos de rara circulação em nossas telas com “Furtivos” (1975), de José Luis Borau, ganhador da Concha de Ouro do Festival de San Sebastián. A sessão dele será na terça, às 17h. Na sequência, às 19h, o evento garimpa uma pepita de ouro da Espanha franquista: “Bem-vindo, mister Marshall” (1953), a fim de revisar a cinematografia de um artesão das telas, José Luis Berlanga (1921-2010). Poeta anarquista, cujo pai foi perseguido por Franco, Berlanga ganhou o prêmio de Melhor Comédia no Festival de Cannes por esta sátira moral sobre o imperialismo americano. Berlanga regressa à telona da Caixa Cultural no dia 6, às 17h, com “O carrasco” (1963).

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E o icônico diretor Luis Buñuel participa da mostra com o clássico "Viridiana" (abaixo), de 1961 (Foto: Divulgação)

Entre os filmes obrigatórios deste panorama da Espanha nos tempos do governo de Franco, destaca-se “Morte de um ciclista” (1955), de Juan Antonio Bardem (1922-2002), um conto moral sobre adultério laureado pelo júri da Crítica de Cannes. Prolífico roteirista, ele é tio do astro Javier Bardem. Se alguém aí sentiu falta de Luis Buñuel (1900-1983), que já vinha fazendo filmes desde os anos 1920, ele participa do evento com “Viridiana” (1961), agendado para o dia 8, às 17h.

*Roteirista e crítico

Divulgação - Premiado em Cannes, "Bem vindo, mister Marshall" (ao lado), de 1953, do anarquista José Luis Berlanga, é uma sátira ao imperialismo americano
Divulgação - E o icônico diretor Luis Buñuel participa da mostra com o clássico "Viridiana" (abaixo), de 1961