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SPFW: Desfiles longos e uma boa estreia

Inez Rozario -
Viviane Orth abriu o desfile do Lino Villaventura com aplicações de leques plissados sobre estilo quimono bordado
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SÃO PAULO - As novidades de cores, comprimentos e detalhes interessam como conteúdo de moda. Se ficar neste ponto, basta uma exposição em um showroom para informar tudo aos interessados. Já em uma semana especializada, com passarelas, plateia e apresentações, a coisa se complica. Mais do que a roupa, deve haver um lado espetáculo, coerente com o figurino.

Isto ficou mais evidente em alguns desfiles de quarta-feira, na 46ª edição da São Paulo Fashion Week. Primeiro, na apresentação da Beira, marca carioca liderada por Livia Campos: roupas impecáveis, em tecidos descoloridos, com aspecto marmorizado, quase branco. Macacões com fecho, em lugar de botões (imaginem a pericia para aplicar este fechamento, em lugar de botões), chemises longos, calças retas, versatilidade de vestir homens e mulheres. Um estilo fácil de vestir, bem executado, limpo. Mas o desfile...muito longo, com trilha soporífera, dando a impressão de repetição de looks. Bastavam 10 looks, um compacto que daria vontade de ver mais. Foi um caso real de menos ser mais. Menos tempo, mais atenção.

No caso do Lino Villaventura este risco nunca existe, porque suas roupas variam em técnicas, cores, cortes. Sempre um verdadeiro patchwork, sem repetir temas. Desta vez, havia leques plissados montando longos, tecidos inteiramente nervurados, maravilhas em azuis changeants (ou furta-cores). Lino tem o dom de combinar um visual vintage, romântico com a ousadia de tempos novos. Como exemplo, um caminho de decotes esculturais, armados. O mesmo efeito 3D aparece nas luvas, arrematadas por tecidos armados, ondulantes. E ai vem o desfile: este tipo de coleção suntuosa merece mais do que um piso de cimento e uma ausência de cenário. Pelo menos uma passadeira vermelha, que lembrasse os red carpets onde estas roupas serão usadas. E um sofá na boca de cena, daqueles bem barrocos, como Lino já instalou em outras edições. Ele pode repetir sofá, cortina, tapete, o que quiser como complemento. Porque roupa, em se tratando do Lino Villaventura, nunca será uma igual à outra.

Novos na Estufa

O projeto que prestigia novos criadores, com o patrocínio do Santander, traz visões de futuro para a moda brasileira. A pernambucana Helena Pontes sai na frente, é uma marca pronta, um trabalho lindo, em looks de linho inspirados em pássaros. A Korshi sugere peças utilitárias, cobertas de bolsos de vários tamanhos, em tons do cinza ao vermelho. Nos bastidores, anunciava-se a maior novidade: Henrique, filho do Paulo Borges (diretor do evento) faria parte do elenco do desfile. A terceira coleção do Estufa foi a ÃO, uma apresentação engraçada, as modelos de rostos pintados de azul, sapatos de cirurgia cobrindo os saltos e sorrisos forçados na frente dos fotógrafos. Vestidas com roupas montadas em franzidos, em tons de azul, também lembrando trajes hospitalares. À primeira vista, apenas cômico. Analisando melhor, admira-se a solução da difícil modelagem, com tantos franzidos no corpo, nas mangas, nas calças. Afinal, todo evento de moda deve incluir algo assim, fora do circuito comercial.

Mais westerns

A influência das propostas internacionais resulta na onda cowboy. A Bobstore segue este rumo, interpretando como versão das obras de Georgia O´Keefe em sua fase mexicana. Entre as camisas de palas trabalhadas, as botas recortadas e as bolsas franjadas, destacam-se os tricôs listrados. Boa sugestão de mudança: vamos deixar de lado os casacos, parkas e pashminas e nos aqueceremos com lindos xales pendurados em um ombro, presos nos cintos dos vestidos. Arremata-se com um chapéu stetson, e enfrentamos o inverno como heroínas de filme western.