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SPFW: Tolerância para vestir

Ines Rozario -
Figuras de uvas e folhas recortadas em ponto richelieu enfeitam vestidos e macacões
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SÃO PAULO - Kipás, keffiehs, peyots e xales de oração foram os acessórios que identificaram a intenção da mensagem de tolerância do desfile do Ronaldo Fraga. A mesa com 50 lugares coberta de velas, flores e quitutes árabes no centro da sala serviu de cenário para a passagem dos modelos. Além de vestirem a coleção, três duplas __ dois homens, duas mulheres e um senhor e uma senhora de cabelos brancos _ se beijaram de verdade na boca em frente aos fotógrafos.

Mais uma vez, Ronaldo faz da moda um espetáculo emocionante. Desta vez, ao contrário de outras edições, a coleção não ficou abaixo do conteúdo da mensagem: as roupas, maioria em jeans sem lavagem, são lindas, provocam o tão ansiado desejo de uso, meta cobiçada por todos os profissionais da moda.

Destaques do estilo Ronaldo Fraga

Ao som de “Preciso me encontrar “, obra-prima do Cartola e de musicas em ídiche, passaram as camisas com estrelas de Davi vazadas em bordado richelieu nas costas, os vestidos soltos, os trajes masculinos com estrelas bordadas, as batas com listras na barra, as saias com os nomes de cristãos novos na barra _ Oliveira, Pereira, Carvalho, Pinheiro. Fora do show de jeans há peças com pinceladas azuis, representando sangue azul. Foi perfeito, como intenção, conceito, cenário e mostrou uma moda sem babados, franjas e couros, temas repetidos nesta 46ª edição da São Paulo Fashion Week.

Os detalhes da tolerância

Os acessórios reforçaram a expressão da tolerância: kipás são solidéus usados nas cabeças dos homens. Keffieh é o lenço palestino; peyots, cachinhos nas costeletas dos cabelos masculinos a partir dos 13 anos, representados no desfile no lugar das hastes dos óculos e xales de oração serviram de echarpes no espetáculo que terminou ao som de Hava Nagila e a plateia convidada a participar da ceia dos quibes e esfihas do restaurante Arabek.

Macaque in the trees
Negra e branca, representando judias e muçulmanas, se beijam na passarela do Ronaldo Fraga (Foto: Ines Rozario)

Macaque in the trees
Cena de tolerância: árabe e judeu se beijam na abertura da coleção (Foto: Ines Rozario)
Glória Coelho revisitada

Uma volta às origens foi o tema escolhido por Glória Coelho, uma das mais prestigiadas criadoras de São Paulo. Quem pensou que assistiria a reproduções de modelos passados, acompanhando a trilha de Beatles e Pink Floyd, se surpreendeu com as sutis releituras. Nem as golas da referência Henrique VIII, nem os spikes da coleção punk ou as jaquetas da série cowboy. Tudo isto foi sutilmente revisitado, difícil de identificar a que parte de sua história Glória se referia. Menos surpreendente é a qualidade do trabalho minimalista de alfaiataria, a sensatez da aposta no preto e branco e a sutileza dos brilhos...no forro de um casaco.

Para não dizer que era impossível identificar as voltas às origens, um par de botas entregou a proposta cowboy de um look.

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caderno b | desfile | moda | SPFW