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Das arenas esportivas para o escurinho do cinema

De amanhã a domingo, CCBB e CCJF abrem as portas para exibir 13 produções, nacionais e estrangeiras, durante a mostra competitiva do 3º CineEsporte

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"1932 - a medalha esquecida" conta a saga da delegação brasileira que foi transportada para Los Angeles em um navio cargueiro para disputar os Jogos Olímpicos
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Além da busca por resultados e da superação dos limites do homem, o esporte exerce uma poderosa linguagem movida por plasticidade, cores e movimento. E atitude. O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e o Centro Cultural Justiça Federal (CCJF) abrigam, a partir de manhã, a terceira edição do Festival CineEsporte, que este ano apresentará 13 filmes, entre curtas e longa-metragens, sendo oito produções brasileiras e cinco estrangeiras (Espanha, Itália, Alemanha e Estados Unidos). Todas as sessões terão entrada franca.

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"1932 - a medalha esquecida" conta a saga da delegação brasileira que foi transportada para Los Angeles em um navio cargueiro para disputar os Jogos Olímpicos (Foto: divulgação)

Os filmes esportivos agigantam-se nas telas e encontram em festivais como este um ambiente amigável para sua difusão e contato com o público. “A produção audiovisual vem batendo recordes, ano a ano, incluindo os longas e filmes ligados ao esporte. E precisamos ampliar os horizontes de exibição. É para isso que existe o CineEsporte”, sustenta o cineasta Antônio Leal, diretor e curador do evento.

De acordo com Leal, é importante que as pessoas deixem o ambiente doméstico para ter uma experiência audiovisual mais plena. “É importante trocar o sofá e tevê por um ambiente escuro, com foco em imagens e sons, onde a maioria das pessoas simplesmente não se conhecem. É onde a magia e o encantamento acontecem”, argumenta Leal, que também dirige outro festival de cinema de temática esportiva, o CineFoot, que realizou sua nona edição no mês passado.

Os dois festivais, argumenta, são importantes para preencher lacunas num país em que o esporte tem grande aceitação e, por outro lado, o público não está habituado a outros tipos de olhar sobre o mundo do esporte. As produções selecionadas expressam as tendências narrativas da produção mundial do cinema esportivo. As 13 abordam nove modalidades, entre as quais judô, remo e canoagem além, é claro, do futebol. Será premiado o melhor filme de cada uma das mostras competitivas (de curta e de média ou longa-metragem), através do voto popular.

No campo dos esportes amadores, um dos destaques é “Blackbull – De costa a costa” (2016) de Gabriel Rodrigues, que narra a aventura do ciclista brasileiro Cláudio Clarindo, o maior nome das ultra-distâncias do país, que cruzou os Estados Unidos de bicicleta, atravessando quase 5 mil km em 12 dias.

O documentário “1932 - A medalha esquecida” (2016), de Ernesto Rodrigues, mostra a saga do navio cargueiro “Itaquicê” que, em 1932, transportou 55 mil sacas de café, dezenas de tonéis de cachaça, uma orquestra de jazz e uma tripulação da Marinha com a missão de levar o Brasil às Olimpíadas de Los Angeles. Eram 82 atletas sem chance alguma de medalha. Entre eles, estava o marinheiro Adalberto Cardoso, que completou a prova dos 10 mil metros rasos.

Outro filme com uma abordagem crítica sobre o modelo esportivo brasileiro é o curta “Procura-se Irenice” (2016), direção de Marco Escrivão e Thiago Mendonça, que apresenta uma personagem polêmica: a atleta Irenice Maria Rodrigues que, em pleno período militar, liderou uma greve contra o Conselho Nacional de Desportos (CND).

Além de enfrentar as adversárias nas pistas, Irenice teve de lutar contra preconceitos e autoritarismo. Na época, o CND impunha muitas restrições à participação de mulheres em competições. Mesmo obtendo bons índices, sendo recordista brasileira dos 400 e dos 800 metros, a velocista atleta correu o risco de ser proibida disputar os Jogos Pan-americanos de 1967, em Winnipeg (Canadá). O CND sustentava que a prova dos 800 metros era desgastante demais para mulheres. Irecine integrou um movimento de protesto que reuniu vários atletas contra o autoritarismo do CND e conseguiu ser inscrita no Pan, completando a prova em 2min08s5. Foi banida e impedida de representar o Brasil nas Olimpíadas do México, em 1968, sob acusação de indisciplina num caso até hoje nebuloso.