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Exposição Labirinto de amor, que abre hoje na Caixa Cultural, aborda relações humanas

Divulgação -
"Classificados do amor"
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As coisas simples do dia a dia, mas que geralmente carregam os mais profundos valores sentimentais, norteiam a exposição “Labirinto de amor”, que será aberta hoje, às 19h, na Caixa Cultural Rio, no Centro. Os trabalhos do artista plástico mineiro Jorge Fonseca dão novo significado a objetos do imaginário coletivo ao misturar artesania, arte conceitual, pop e kitsch. O resultado é uma forte atitude contemporânea em relação à crítica das relações humanas.

O título da exposição se deve, conforme a curadora Fernanda Terra, ao traçado labiríntico da vida, que promove situações que nem sempre são assimiladas de imediato. “É tudo um grande ‘causo’”, compara ela, que é profunda conhecedora da obra do mineiro. Fernanda explica que, para chegar às 30 peças expostas, observou quais, em todo o conjunto, tinham mais ligação com o amor. “Eu ia captando, pouco a pouco, o sentido de cada uma, para poder montar o conjunto sob o viés do amor. E como um fio condutor, encontrei-o de várias formas: o amor correspondido, o desejado, o traído, o impossível, o frustrado, o realizado... As pessoas se identificam muito com os trabalhos”, conta ela, citando “Tri Ângulo” como uma delas: “Ela mostra um triângulo amoroso entre uma mulher e dois homens e as pessoas acham engraçado, porque são feitas em formato de triângulo mesmo. É uma exposição que fala de relações humanas e, aí, entram as questões pessoais de cada um, explícito mais em uma obra do que em outra”, explica,

Outro trabalho em que o público vai se reconhecer, recordar vivências ou lembrar-se de alguém que viveu aquilo é “A casa dos meus sonhos”: “Achei uma vez um quadro com uma paisagem bucólica, plantas e uma casinha lá no canto. Depois fui encontrando outros, um deles era, inclusive, um quebra-cabeças. Então pensei: ‘Vou montar uma casa com pequenas paisagens, pedaços de sonhos’. Fui juntando quadrinhos, ganhando outros, quando visitava alguém e via algum, eu pedia ou fazia uma permuta”, relata Jorge. Foram cinco anos reunindo material até chegar a 250 estampas com molduras diferentes. “Finalmente montei a obra, um sonho de uma vida num lugar ideal”, define.

A curadora diz que “Labirinto de amor” é algo que fala do real, da vida como ela é. Mas não de uma forma endurecida, e sim cheia de afeto. “É difícil observar uma obra, e não abrir um sorriso. Ao mesmo tempo, é ácida, irônica, remete aos sentimentos mais íntimos”, ressalta. “Contam histórias, falam de percalços, sofrimentos, humores e alegrias tão familiares às pessoas”, reafirma Jorge Fonseca.

Autodidata, com uma trajetória curiosa - no início dos anos 1990, nos intervalos do trabalho como maquinista de trem, aproveitava para confeccioná-las - diz que há uma predominância do bordado naquela fase. “Eu passava muito tempo no trem, quase não podia exercer o ofício em casa. Levava para a cabine tecidos, linhas, agulhas, materiais de armarinho e bordava ali mesmo, durante as longas paradas”, conta o artesão, que trouxe para a exposição peças dessa fase inicial e também mais recentes. “A Fernanda queria trabalhar esse viés do amor e teve o cuidado de escolher as peças mais bacanas. É um conjunto muito bem escolhido, ela tem olhar carinhoso sobre meu trabalho”, opina.

Algumas de seus trabalhos, em especial os bordados, têm referências ao trabalho de Arthur Bispo do Rosário. “Há uma inspiração também vinda da palavra escrita e de coisas religiosas. Mas também acho que alguns detalhes se aproximam do universo de Leonilson (pintor e desenhista cearense), principalmente quando abordo assuntos mais íntimos”, compara ele, que ganhou o primeiro prêmio no Salão de Arte Contemporânea de Campos em 1996, em 2009 foi contemplado com uma bolsa da Fundação Pollock-Krasner, em Nova York, e já fez várias individuais e coletivas em cidades brasileiras e estrangeiras.

Alguns apontam referências ao Profeta Gentileza, mas Jorge discorda: “Talvez a questão da popularidade dos temas e os materiais com que trabalho podem se aproximar um pouco, mas as semelhanças terminam aí”.

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SERVIÇO

LABIRINTO DE AMOR - Exposição de Jorge Fonseca. Caixa Cultural Rio/Galeria 2 (Av. Almirante Barroso, 25 - Centro; Tel.: 3980-3815). Abertura hoje, às 19h. Debate com o artista e a curadora no cinema 2 amanhã, às 18h30 (distribuição de senhas uma hora antes). Ter. a dom., das 10h às 21h. Entrada franca. Até 23/12.