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Italiano Giorgio van Straten leva leitor a uma viagem em busca de livros dados como perdidos

Divulgação -
Escritor e tradutor premiado em sua país, Van Straten dirige hoje o Centro de Cultura Italiana de Nova York. Seu mais novo trabalho é uma declaração de amor aos livros
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Escritores muito zelosos de suas obras não costumam publicar tudo o que produzem. Entre um livro e outro, laudas e mais laudas de papel se perdem pelo caminho sob a forma de ideias abandonadas, esboços, trechos inacabados ou mesmo um trabalho inteiro não aproveitado por vontade de seus criadores ou não. Partindo desse vácuo lançado pelo universo da criação literária, o autor e tradutor italiano Giorgio van Straten lançou há dois anos o romance “Histórias de livros perdidos” que chega agora ao Brasil em lançamento da Editora Unesp.

Nascido em Florença, mas de família judaico-holandesa, Straten, de 63 anos, publicou o primeiro romance, “Generazione”, em 1987, acumula quatro prêmios literários em ses país e traduziu do inglês para o italiano títulos de Jack London, Rudyard Kippling, Francis Hogson Burnett e Robert Louis Stevenson. Já escreveu para teatro musical e dirigiu a Orquestra da Toscana, tendo ocupado outros cargos executivos em gestão cultural. Hoje, é diretor do Instituto Cultural Italiano de Nova York.

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Escritor e tradutor premiado em sua país, Van Straten dirige hoje o Centro de Cultura Italiana de Nova York. Seu mais novo trabalho é uma declaração de amor aos livros (Foto: Divulgação)

Em “História dos livros perdidos”, Straten convida o leitor a juntar-se a ele numa jornada em busca de oito livros perdidos de autores como Lord Byron, Gógol, Ernest Hemingway, Walter Benjamin e Sylvia Plath. Todos que procuram esses volumes são movidos pela crença de que existem e serão encontrados. E onde sobram convicções faltam provas concretas sobre isso. Assim como em romances detetivescos, as pistas são sutis e fugazes, reduzindo desesperadamente a esperança de encontrar essas páginas. Então essa busca é inócua? É justamente o contrário do que pensa o autor, para quem a jornada rumo a páginas quiçá de sonho vale a pena. “São livros que existiram e desapareceram. Os livros perdidos não são esboçados pelo autor e nunca nascidos: são aqueles que o autor escreveu, que alguém viu e talvez tenha até lido, e então foram destruídos ou desapareceram de alguma maneira. Livros queimados, rasgados, roubados... livros que não chegaram a nós, mas sobre cuja existência se tem certeza”, esclarece Straten.

“Desses oito livros perdidos, no entanto, não encontrei nenhum, pelo menos não no sentido tradicional do termo. Em vez disso, aconteceu de ter lido um romance antes que este se perdesse, mas não ter podido evitar sua destruição”, afirma Straten, que narra esse episódio logo no capítulo inicial de seu romance. Numa prosa bem construída, o autor descreve as perdas desses livros por variados tipos de perdas: destruição por insatisfação de seus autores, circunstâncias adversas, como a guerra, censura de outros e de si mesmos, incêndios e roubos e, claro, a vontade suprema dos herdeiros, os únicos capazes de controlar o destino do trabalho de seus mortos. “Nos oito casos que conto, temos exemplos de todas essas possibilidades. A conclusão é sempre a mesma: o livro em questão parece perdido para sempre, mesmo se às vezes a hipótese é que alguém, em algum lugar?”, especula.

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Histórias de livros perdidos (Foto: Divulgação)

A saga leva o leitor a aderir a um périplo iniciado em Florença com escalas na Inglaterra, Polônia, Rússia, Canadá e Espanha e retornando à Itália. Giorgio van Straten narra histórias de infâmia, tragédia, com acenos de esperança e amarguras ao longo da jornada como no episódio dos originais de um romance de Hemingway desaparecidos em uma mala na Gare du Lyon; as memórias de Lord Byron, queimadas para evitar um escândalo; ou o “Magnum Opus”. de Bruno Schulz, perdido com seu autor na Polônia durante a Segunda Guerra.

“Ao fim da viagem, percebi que os livros perdidos têm algo que todos os outros não possuem: deixam a nós, leitores, a possibilidade de imaginá-los, de contá-los, de reinventá-los”, pontua o autor. “E se, por um lado, eles continuam a nos escapar, a se afastar quanto mais tentamos agarrá-los, por outro eles recobram vida dentro de nós e no final, como o tempo proustiano, podemos dizer que os encontramos.” Talvez este seja um bom tipo de desfecho quando estamos em caso de amor com o impossível.

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SERVIÇO

Título: Histórias de livros perdidos

Editora Unesp

Autor: Giorgio van Straten

Tradução: Sílvia Massimini Felix

Número de páginas: 115

R$ 38,00

Divulgação - Histórias de livros perdidos