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Exposição Dialética brinca com síntese entre artes plásticas diversas

Divulgação -
Obra de Artur Lescher segue a linha neoconcreeta, com estudo que vai de russos a Lygia Clark
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Com 20 obras, de 17 artistas, uma exposição estelar brinca com o barroco e os conceitos filosóficos de Johann Gottlieb Fichte (1762-1814) e Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) para embasar a escolha das obras que ficam em cartaz até novembro no Studio OM.art, anexo ao Jockey Clube, entre a Gávea e o Jardim Botânico.

Macaque in the trees
Obra de Artur Lescher segue a linha neoconcreeta, com estudo que vai de russos a Lygia Clark (Foto: Divulgação)

Fundador da galeria, aberta em maio dentro do novo “cluster de arte” do Jockey, o diretor de criação da Osklen e artista plástico  Oskar Metsavaht é um dos que integra com “Photo Synthesis”, obra em acrílico de 2014, a exposição “Dialética”, junto com o recém-falecido Antonio Dias, mais Amílcar de Castro, Antonio Manuel, Artur Lescher, Almandrade, Barrão, Carolina Ponte, Emmanuel Nassar, Ernesto Neto, Estela Sokol, Henrique Oliveira, Janaina Tschape, Lygia Clark, Lucia Laguna, Nuno Ramos e Waltercio Caldas.

Curador da mostra, Heitor Reis batizou-a em referência à dialética hegeliana que, a grosso modo, pressupõe, a transcendência de contradições entre opostos (tese e antítese), com ambos resultando em uma síntese, já que não é mais nenhum dos dois, mas um outro, um terceiro.

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Quadro de 2010 de Henrique Oliveira compõe lado colorido exposto no Studio OM.art (Foto: Divulgação)

Na exposição de dois meses, já não são dois opostos, mas duas dezenas de obras tão diversas, indo de quadros multicoloridos a escultura de madeira, sem pintura adicional, de artistas atuais a outros que já morreram há até 30 anos.

“Tentamos estabelecer uma dialética em confrontos de contrários”, explica Heitor Reis, que, no entanto, estabelece pontos de partida em comum entre as obras selecionadas.

Um desses pontos parte da pintora e escultora Lygia Clark (1920-1988), autointitulada “não artista” da qual Reis pinçou “Caranguejo”, escultura em duralumínio dobrado, de 1969, com dimensões variáveis

“Procurei juntar obras diferentes e cronologias diferentes, mas com representação da produção contemporânea, tendo a Lygia Clark como ‘referência sacra’”, afirma o curador, cuja seleção também Amilcar de Castro (1920-2002).

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"Wilt", de Janaina Tschape (Foto: Divulgação)

Além do ano de nascimento, suas coincidências com Lygia vão das Minas Gerais natais – ela de Belo Horizonte, ele de Paraisópolis – ao caráter mutável da obra escolha escolhida – no caso de Amilcar, “Escultura de Corte”, feita em madeira, com montagem variável, de 1990.

Sem adotar uma influência direta, mas se incluindo na linhagem do neoconcretismo brasileiro, Artur Lescher conta que escolheu “estudar um pouco o trabalho” de Lygia Clark, e escrever “mais uma palavra desse texto dessa grande construção do construtivismo russo, de entender como as coisas são construídas”. Lançar mão de formas dobradas também marca o trabalho de Lescher, que participa de “Dialética” com uma singela escultura de 2010, sem título, em madeira e latão. “Eu gosto dessa conversa com a tradução”, comenta o paulistano de 56 anos. 

No caminho à síntese do curador, uma antítese à tese de formas neoconcretas pode ser observada nas cores vivas e misturadas de quadros cujas cronologias vão de “Estudion. 38” (2011), de Lucia Laguna, nascida em 1941, a Henrique Oliveira e Janaina Tschape, ambos de 1973.

“A mostra representa alguns tempos. Do concreto, presente na própria Lygia Clark”, afirma o curador. “Ao escolher as obras e artistas, parti mais pelo lúdico, em um lirismo muito forte na arte brasileira e nem passo pelo modernismo, mas pelo barroco, com essa coisa extraordinária, exuberante, que continua presente”, acrescenta Heitor Reis.

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Manivelas, do recém-falecido Antonio Dias (1944-2018) (Foto: Divulgação)

Nascida em Munique e radicada em São Paulo, Janaina Tschape exemplifica o confronto. “Me fascina a natureza no Brasil: o vigor da floresta, a forma com que ela entra na cidade… No Rio de Janeiro, as árvores quebram as calçadas”.

Vinda da HFBK, escola de belas artes em Hamburgo, “academia de arte alemã super formal e conceitual”, ela conta ter sido “uma liberdade muito grande encontrar o barroco, essa força de cores e liberdade de formas”.

Vivendo hoje em Nova York, a pintora logo em seguida, ergue a ponte – ou síntese?

“Buscando mais informação da biologia, da natureza, descobri que a natureza tem essa coisa forte visualmente, mas também padrões, repetições, formas geométricas com que é construída. Isso começa a entrar na arte, até para tentar se quebrar esse padrão de novo”, afirma, voltando à inspiradora Lygia Clark.

“A relação de Lygia com “Os Bichos” [série da qual “Caranguejo” faz parte] é fascinante, quebra a geometria e brinca com ela. É um pouco a busca que tenho, ao tentar fundir dois universos, que dialogam”, sintetiza.

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SERVIÇO

DIALÉTICA

STUDIO OM.ART (R. Jardim Botânico, 997 – anexo ao Jockey Clube; Tel: 2239-901); Qua. a sáb., das 11h às 20h. Dom., das 12h às 18h. Até 25/11. Entrada franca.

Divulgação - Quadro de 2010 de Henrique Oliveira compõe lado colorido exposto no Studio OM.art
Divulgação - "Wilt", de Janaina Tschape
Divulgação - Manivelas, do recém-falecido Antonio Dias (1944-2018)