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Dicas do Aquiles: Em frente e acelerado

Reprodução -
EmFrente
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“EmFrente”, o CD independente de Thiago Ramil, é um trabalho que me surpreendeu a cada acorde, a cada verso, a cada respiração. Sim, respiração, pois além de compositor audacioso, sua voz lhe sai do peito como um grito recém-desentalado e libertado pela paixão. Sim, paixão, pois“EmFrente” está afiançado por um arrojado amor ao ato de criar.

Surpreendido, mas entusiasmado pela consistência das músicas, lá fui eu enlaçado ao som do CD. Produzido por Guilherme Ceron e Thiago Ramil, “EmFrente” se fez pela capacidade de inovação musical dos dois. Qualidade que, somada à engenhosidade de um coletivo de outros amigos/parceiros, permitiu que Thiago se desse ao desfrute de criar o que tinha e tem em mente, ainda que, talvez, intuitivamente: sublevar a sonoridade melódica, harmônica, instrumental e poética vigentes no mundo da música.

Macaque in the trees
EmFrente (Foto: Reprodução)

Mas o que é a música de Thiago Ramil? Música de vanguarda? Música concreta? Experimental? Música contemporânea? Seria ele um rapper ou um repentista cantador?

Talvez nem o próprio Thiago saiba classificar o gênero de suas composições. Só que esse não saber não decorre de puerilidade, mas por, talvez, não lhe interessar ver sua obra enquadrada. Isto posto, mergulhei de cabeça na música para mim inclassificável de Thiago Ramil.

Gutcha Ramil (percussões, rabeca, vocais), Andressa Ferreira (percussões, vocais), Pedro Petracco (bateria), Felipe Zancanaro (percussões, samples), Guilherme Ceron (baixo), Lorenzo Flach (guitarra) e Thiago Ramil (violão, guitarra, voz) integram o núcleo instrumental que toca nas catorze faixas do disco. Além desses instrumentistas, há participações especiais de Duda Brack, Paola Kirst, Apanhador Só, Fabricio Gambogi, grupo presente na elaboração de cada canção e também na nova levada das músicas regravadas. Grupo do qual Gutcha Ramil e Andressa Ferreira também participam.

Instrumentos inusuais foram utilizados nos arranjos – vêm deles o estranhamento inicial e a surpresa. Inspirada em ideias de Geórgia Macedo e Guilherme Ceron, “Clareira criada” (Thiago Ramil e Poty Burch) traz percussões abrindo a tampa. Sente-se no ar a força instrumental e o poder de versos que traduzem o viver humano; vê-se a beleza traduzida em uma fina harmonia. Vem suave, dolorida – só violão e um apito discreto. E chega um som indefinido que vem e vai, do leve pro intenso, do grave pro agudo... Meu Deus!

E fechando, um violão e um vozerio infantil iniciam “Aqui” (TR). A melodia também é linda. Ampliada pelo cantar de Thiago, a letra resume o espírito do cantador: “(...) Eis-me aqui/ Pra suportar/ Quando ruir (...) Eu tô aqui/ Pra prosseguir/ Pra enfrentar”.

Gostei das músicas do Thiago. E mesmo sendo um tanto ou quanto despreparado para elas, a elas eu me curvei, pois me fizeram desrespeitar meus limites – e eu bem sei do pânico que pode rolar na lida com o desconhecido.

PS. Tito Madi e Luhli (que fez dupla com Lucina nos anos 80) se foram. Calaram-se dois grandes cantores/compositores.