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Paraty abre a 15ª edição do Mimo Festival, que reúne música, cinema, poesia e fórum de ideias

Divulgação -
Em função de conflitos étnicos no Mali, os integrantes do Songhoy tiveram de se exilar em outra província do país
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De hoje a domingo, Paraty sedia a primeira etapa brasileira do Mimo Festival 2018, o maior festival de música gratuita do país e que também se realiza em Portugal. Nesses três dias, a charmosa cidade histórica receberá mais de 20 atrações, entre shows, concertos, filmes inéditos, poesia, fórum de ideias e workshops. Os palcos da Igreja Matriz Nª Sª dos Remédios e da Praça da Matriz receberão artistas diversos, como o grupo colombiano Systema Solar; os pernambucanos do Cordel do Fogo Encantado; a baiana Virgínia Rodrigues; e músicos do Songhoy Blues, grupo que vem do Mali depois de se apresentar nos mais importantes festivais mundiais, e faz apresentação inédita no Brasil.

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Em função de conflitos étnicos no Mali, os integrantes do Songhoy tiveram de se exilar em outra província do país (Foto: Divulgação)

“O que mais gosto na definição dos palcos do Mimo Festival é a possibilidade de apresentar um amplo panorama da produção musical contemporânea. São estilos muito distintos, mas que se completam de forma harmônica”, destaca a diretora-geral do projeto, Lu Araújo.

Ao falar das atrações programadas para a etapa de Paraty, Lu revela que trazer a banda de Mali era um sonho antigo do festival. Forçados a deixar suas casas no Norte do Mali, durante a guerra civil e a imposição da Lei da Sharia, os integrantes do Songhoy Blues foram para Bamako, no Sul do país, e formaram a banda, cuja sonoridade realiza é classificada por parte da crítica como um african-blues-rock. “Eles tiveram que se exilar, mas estão completamente envolvidos na luta étnica de Mali. Há ocasiões em que não estão tocando e pegam em armas. Songhoy é o nome da etnia a que eles pertencem”, conta. O álbum de estreia do grupo, “Music in exile”, foi lançado em 2015 e aclamado pela crítica. O jornal “The Guardian” descreveu o disco como “um conjunto impressionantemente variado e empolgante” e nomeou o Songhoy Blues como a “banda para se assistir”.

Outro destaque internacional do festival é o grupo colombiano Systema Solar. Formado por músicos de diferentes formações, o coletivo tem um estilo musical próprio, batizado de berbenautika, que bebeu da fonte dos picós e das verbenas, as festas de rua extremamente populares na Colômbia. “Em suas apresentações, o grupo resgata toda a energia dessas festas populares que varam a noite nas cidades colombianas, geralmente movidas pela cúmbia e por ritmos eletrônicos”, afirma Lu Araújo.

Entre as atrações nacionais, a cantora Virgínia Rodrigues abre a segunda noite do evento com show que celebra 20 anos de uma carreira marcada pela preservação e resgate da cultura afro-brasileira.

O Mimo Paraty traz em paralelo à programação de concertos, exibição de filmes com temática musical, a tradicional Chuva de Poesia, que este ano vai homenagearHilda Hilst. No campo do pensamento, o Fórum de Ideias discutirá temas como “O canto como força no protagonismo feminino negro”, tendo Virginia Rodrigues como palestrante; e “A cultura sound system da Colômbia: arte, tecnologia e liberdade”, com os integrantes do Systema Solar.

“Nesses 15 anos, o Mimo foi um festival pautado pela resistência de quem aposta na cultura, na luta pela valorização da diversidade musical, dos novos talentos e dos já consagrados. Seguimos adiante e celebramos nossa trajetória, mesmo diante de tantas adversidades como a da edição deste ano. Nunca se produziu tanta gente boa como agora”, desabafa a diretora, que, depois de Paraty, levará a seleta programação a Rio, São Paulo e Olinda.