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Dias de ilusão

Antonio Dias ganha mostra no MAM, onde abriu caminhos em seminais exposições de 1965

Romulo Fialdini e Valentino Fialdi/divulgação -
"Um pouco de prata para você" combina materiais
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Menos de dois meses após sua partida, Antonio Dias ganha mostra ampla e diversa dedicada a sua obra, no Museu de Arte Moderna, com abertura hoje e em exposição até 11 de novembro. Entre peças do acervo próprio do MAM e da Coleção Gilberto Chateaubriand, cedidas ao museu, são 56 peças do artista plástico que se foi no último dia 1º de agosto, vítima de um câncer. “O ilusionista” reúne trabalhos construídos em diversos suportes e materiais, conforme o paraibano, nascido em Campina Grande em 1944, começou a fazer nos anos 1960, já morando no Rio de Janeiro.

Foi nessa época que, após frequentar as aulas de Oswaldo Goeldi (1895-1961) no Atelier Livre de Gravura da Escola Nacional de Belas Artes, Dias conheceu artistas do neoconcretismo carioca e entrou fundo na alta diversidade de técnica suportes, em especial o papel artesanal, na linha que Hélio Oiticica (1937-1960) apelidou de “antiquadros”.

Tais inovações ganharam peso em duas marcantes exposições realizadas em 1965 pelo mesmo Museu de Arte Moderna: “Opinião 65” e “Propostas 65”, montadas também na Faap (Fundação Armando Álvares Penteado), em São Paulo. Antonio Manuel Lima Dias foi um dos jovens participantes dessas mostras que ajudaram a consolidar no Brasil uma reorientação nas formas do abstracionismo, em uma tendência que crescia desde a década de 1950 no cenário internacional.

No mesmo ano, Dias ganhou o Prêmio de Pintura da Bienal de Paris, que o motivou a desembarcar na capital francesa, em 1966, inicialmente com a “perspectiva de receber algum dinheiro durante seis meses”, como contou, há quatro anos, em entrevista à revista “Serrote”, do Instituto Moreira Salles.Acabou passando mais tempo no exterior, vivendo na Itália (Milão) e na Alemanha (Berlim e Colônia). Em 1992, voltaria à Europa, como professor de academias de Belas Artes em Salzburgo, na Áustria, e da Karlsruhe, na Alemanha.

Curadores da exposição, Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes ressaltam que Dias “encontrou no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro uma instituição sintonizada com as questões que contribuíram de modo decisivo para a renovação da produção artística brasileira”, em um ciclo virtuoso de mão dupla. “Definitivamente não é possível contar nossa história sem falar de Antonio Dias, assim como nossas coleções não teriam a mesma força sem as quase 60 obras do artista que delas fazem parte e que agora podem ser vistas pelo público do Museu”, reconhecem.

Um dos destaques das mostra, “O espetacular contra ataque da arraia voadora”, de 1966, combina pinturas em guache e nanquim com colagem sobre papel, na simétrica dimensão quadrada de 33 por 33 centímetros.

Com a coincidência estética da mistura de imagens sobrepostas, “Um pouco de prata para você”, de 1965, acrescenta relevo em uma montagem de acrílica, vinil e poliéster sobre tela e madeira. Com baixo relevo, “Pavão sobre o poço”, de 1962, é construída com acrílica, vinil e colagem de tecido sobre tela e madeira, em 54 por 62,5 centímetros.

Através dos dois espaços no 3º andar do MAM ocupados por “Antonio Dias – O ilusionista”, os visitantes são apresentados a criações de três décadas do artista, entre os anos 1960 e 1980. Mais ou menos no meio desse período, as esculturas em neon de “Poeta/Pornógrafo”, de 1973, refletem no escuro seu brilho em azul e rosa.

Completam a exposição um conjunto de retratos da Antonio Dias feitos por Angelo de Aquino (1945-2007), Carlos Vergara (1941), Ivan Cardoso (1952), Pablo di Giulio (1957) e Roberto Magalhães (1940).

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SERVIÇO

ANTONIO DIAS – O ILUSIONISMO

Museu de Arte Moderna (Av. Infante Dom Henrique, 85 - Parque do Flamengo; Tel.: 3883-5600).

Abertura hoje, das 15h às 18h. Exposição até 11/11. De ter a sex., das 12h às 18h. Sáb., dom. e feriados, das 11h às 18h. Entrada: R$ 14 e R$ 7. Estudantes até 12 anos não pagam.

www.mamrio.org.br.