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Memórias de outros carnavais

Arquivo Nacional promove ciclo de debates sobre a tradição e futuro das escolas de samba

Foto CPDoc/JB -
Desfile da Vila Isabel nos anos 1960 na Avenida Rio Branco: resquícios de um carnaval que unia escolas e povo
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Um dilema ronda as escolas de samba. Se por um lado as disputa de sambas-enredo dentro das agremiações transformou-se numa verdadeira indústria – algo no gênero super-escolas de samba S.A. profetizado pelo Império Serrano em 1982 – por outro deu margem ao surgimento do chamado samba por encomenda – no qual a escola recorre a um compositor para apresentar uma obra – que tem tudo para calar gerações de compositores. “O samba-enredo é um gênero que vive uma crise. As escolas precisam simplificar e democratizar seus processos”, adverte o historiador Luis Antônio Simas. O tema será abordado na próxima quarta-feira (19), às 17h30, na primeira rodada do ciclo de debates “Samba no pé… e na memória”, promovido pelo Arquivo Nacional.

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Desfile da Vila Isabel nos anos 1960 na Avenida Rio Branco: resquícios de um carnaval que unia escolas e povo (Foto: Foto CPDoc/JB)

A mesa “Samba-enredo, a porta de entrada”, além de Simas, terá o musicólogo Ricardo Cravo Albin e os compositores Tiãozinho da Mocidade e Cláudio Russo, com mediação do jornalista Fred Soares. O evento tem entrada franca e também será transmitido ao vivo pelo Facebook através da página do Arquivo Nacional. Após o debate, será exibido o documentário “Memória em verde e rosa”, do diretor Pedro von Krügger.

Para Simas, os concursos de escolha de samba se tornaram inviáveis. “Se o compositor não possui uma rede de financiamento para produzir clipes, decorar a quadra da escola e levar torcida organizada ele não precisa nem concorrer”, denuncia. Por outro lado, o recurso do samba por encomenda tende a inibir o surgimento de novos compositores. “O samba por encomenda é a morte do gênero samba-enredo a médio prazo”, prevê o historiador, para quem os concursos e o samba por demanda são modelos ruins.

Idealizador do ciclo de debates em conjunto com o historiador Leonardo Antan, Soares explica que nos últimos anos vem ocorrendo um distanciamento das escolas de samba com suas bases comunitárias. Por outro lado, as agremiações se enfraqueceram na interlocução com o poder público. “Com esse ciclo queremos que as pessoas voltem a pensar e discutir o carnaval e ter o seu interesse redespertado”, afirma.

O projeto relacionado ao carnaval, sua memória e perspectivas, marca uma guinada no Arquivo Nacional. O acervo da instituição será usado como material de apoio para todas as palestras a serem realizadas até janeiro. Ao longo dos debates haverá projeção de fotos históricas e a programação é finalizada com a exibição de um filme do acervo ligado à memória do samba.

A diretora da instituição, Carol Chaves, revela sua angústia pelo fato da população desconhecer que o Arquivo Nacional é acessível para qualquer pessoa. São cerca de 500 milhões de documentos públicos e privados que podem ser acessados por qualquer cidadão seja ele um pesquisador acadêmico ou não. “Temos um prédio lindo e um material enorme que poderia ser mais utilizado. Se cada documento impresso que temos aqui fosse posicionado lado a lado teríamos uma trilha de 55 quilômetros”, conta.

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SERVIÇO

CICLO DE DEBATES “SAMBA NO PÉ… E NA MEMÓRIA

“Samba-enredo - a porta de entrada”

Arquivo Nacional (Praça da República, 173 – Centro)

Quarta-feira (19), às 17h30. Entrada franca.

As próximas mesas redondas

18/10 “ A memória além da avenida” visa criar um projeto de preservação do conteúdo produzido pelas escolas.

22/11 “O legado do Cristo mendigo” vai abordar os 85 anos do carnavalesco Joãosinho Trinta e a influência temática e estética de sua obra no espetáculo carnavalesco.

13/12 “Rádio, a mão amiga do samba”, que mostra a importância do rádio como meio de popularização do desfile das escolas de samba, dos anos 50 até hoje.

19/1 “O teatro definitivo”, sobre os 35 anos da construção do Sambódromo.