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Um teatro para chamar de nosso: confira crítica de 'Teatro dos 4 - A cerimônia do adeus do teatro moderno'

Divulgação -
Renata Sorrah e Fernanda Montenegro em "As lágrimas amargas de Petra von Kant", que estreou em 1982
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“A proposta do Teatro dos 4, difundida desde o início de sua implantação, consistia no investimento em montagens de textos importantes, tanto do repertório brasileiro quanto do internacional. Havia certo temor referente a uma eventual sobreposição da assinatura dos diretores em relação às dramaturgias. Além da exaltação da qualidade das peças, o projeto era voltado para a evidenciação de um elevado padrão de produção”.

Esse é o parágrafo de abertura do livro/tese de doutorado “Teatro dos 4 – A cerimônia do adeus do teatro moderno”, de Daniel Schenker, que define imediatamente qual o objeto do trabalho. O ineditismo do empreendimento, pois o teatro pertence a um grupo de show-runners - Mimima Roveda, Paulo Mamede e Sergio Britto - para utilizar o termo atual, preocupados e focados em um repertório de qualidade, com autores, diretores e atores que realmente pudessem trazer ao público o melhor da experiência artística.

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Renata Sorrah e Fernanda Montenegro em "As lágrimas amargas de Petra von Kant", que estreou em 1982 (Foto: Divulgação)

Para evidenciar e mostrar de que forma a fundação do Teatro dos 4 vem a ser o coroamento de uma tradição da cena teatral brasileira, Daniel, com o talento apurado de jornalista, enumera e explica com detalhes quais os grupos, quais os empreendedores que foram a gênese de um teatro moderno do Brasil. Dos italianos como Ruggero Jacobi e Adolfo Celi aos revolucionários Arena e Oficina, todos são apresentados pelo seu trabalho, mas também pela sua importância na transformação da dramaturgia brasileira.

A partir daí, Daniel começa a descrever os espetáculos encenados no Teatro do Quatro, mas com a pesquisa muitíssimo enriquecida com depoimentos dos envolvidos, que contam fatos inéditos, com o resumo da fortuna crítica dos textos . E vai além, analisa cada autor, cada texto, sua importância histórica e também de que forma é feita a relação com o ambiente brasileiro.

Como instrumento de dissecção, Daniel também descreve as produções do próprio grupo e chama a atenção para o papel dual do trio Mimima Roveda, Paulo Mamede e Sergio Britto. Mostra ainda de que forma o grupo opta por espetáculos luxuosos, projetos com muitos atores o que lhes faz escapar da ideia do grupo e do coletivo, o que lhes dá maior mobilidade em suas produções e na capacidade de atrair e formar plateias.

A tese de doutorado/livro não se resume a descrever as peças ou a ser um rol de citações em um modelo acadêmico clássico. O material iconográfico é rico , abundante e bastante adequado ao que é apresentado. Fotos, programas, cartazes ilustram as descrições, assim como a reprodução das coberturas dos jornais, matérias e críticas para localizar temporalmente, o que facilita, e muito, a compreensão do leitor, sobretudo daqueles que não viram os espetáculos.

Ao final do livro, Daniel inclui a ficha técnica de todas as peças , as entrevistas com Sergio Britto e Paulo Mamede, as plantas do teatro. Para quem quer conhecer uma época fundamental do teatro brasileiro a “Teatro dos 4 – A cerimônia do adeus do teatro moderno” é leitura obrigatória.

O livro, que traz cerca de 70 fotos de espetáculos, conta a história do Teatro dos 4 - que neste ano completa 40 anos - durante o período de 1978 a 1993, gestão de Sergio Britto, Paulo Mamede e Mimina Roveda, quando o teatro abrigou montagens históricas como “As lágrimas amargas de Petra von Kant”, “Os veranistas”, “Sábado, domingo e segunda”, “A cerimônia do adeus”, “Quatro vezes Beckett”, a primeira montagem de “Ópera do malandro” e outras que marcaram o teatro carioca e brasileiro.

* Professora do Depto de Comunicação da PUC-Rio e doutora em Letras

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SERVIÇO

“Teatro dos 4 – A cerimônia do adeus do teatro moderno”, livro de Daniel Schenker. Ed. 7Letras, 416 págs., R$ 65