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Nove perdidos numa noite suja: confira crítica de 'O banquete'

Divulgação -
O desempenho do elenco capitaneado por Drica Moraes e Mariana Lima é um dos destaques da produção
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Jantar na mesa: no menu, sarcasmo e sordidez. Muito se falou sobre os eventos reais que Daniela Thomas teria utilizado em seu novo longa e que fariam dele uma representação factual de momentos verídicos da elite brasileira há 25 anos. Independente da inspiração em personagens reais e de como alguns fatos sejam um simulacro da história ainda mais recente de nosso país, o filme da diretora do desnecessariamente polêmico “Vazante” assombra tanto pela forma quanto pelo conteúdo, que valoriza o macro mas tem singularidades micro ainda mais notáveis, no que concerne as relações humanas no ápice de um fetiche pela sordidez.

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O desempenho do elenco capitaneado por Drica Moraes e Mariana Lima é um dos destaques da produção (Foto: Divulgação)

Daniela filma estágios de embriaguez, propriamente dita e também moral, com tons difusos e pitadas de desfoque, compreendendo e acalentando cada um daqueles seres desprezíveis em suas mesquinharias, tão comuns a todos e não somente à classe abastada. O efeito a buscar no espectador é do mesmo torpor alcoólico, e tanto as lentes de Inti Briones quanto o espetacular trabalho com a banda sonora são eficazes em provocar o entorpecimento e o desespero pela lucidez que se esvai durante uma noite de vinho italiano e sarcasmo brasileiro.

A visão demolidora sobre a capa falsa de etiqueta da sociedade tecida por Daniela tem diálogos que funcionam como em espiral, não é possível destacar nada sem perder o fio da meada de um embate circular que nunca termina. Unido ao talento da diretora em construir planos longos e permitir cinematografia ao que um outro menos tarimbado autor transformaria em desgastado teatro, o filme é mais um postulante à categoria de melhor elenco do ano. Capitaneados por incandescentes Drica Moraes e Mariana Lima, temos atuações uniformes na excelência de cada um, até a chegada de uma Bruna Linzmeyer a reproduzir/homenagear sua Amsterdam de “A frente fria que a chuva traz”, em mais uma presença antológica sua. Um filme que escapa por pouco (pelo silenciamento a que submete alguns personagens e situações em determinados momentos) de ser grande.

*Membro da Associação dos Críticos de Cinema do Rio de Janeiro

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O BANQUETE: *** (Bom)

Cotações: o Péssimo; * Ruim; ** Regular; *** Bom; **** Muito Bom