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O terceiro solo em trajetória

Só no palco, Álamo Facó conta histórias sexuais de homem em movimento

Rodrigo Ricordi/divulgação -
"Trajetória sexual" é o terceiro solo de Facó, depois de "Talvez" e "Mamãe"
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De uma experiência muito pessoal à abertura às percepções alheias. Em “Trajetória sexual”, seu terceiro espetáculo solo, Álamo Facó abarca a diversidade de vivências orientações, logo depois de “Mamãe” (2017), em que, também sozinho no palco, ele aborda a jornada emocional em torno dos cem últimos dias de vida de sua mãe, a arquiteta Marpe Facó (1947-2010), vítima de um tumor cerebral.

“Na espetáculo anterior, eu mostrava um acontecimento muito pessoal, ao qual estava muito colado. Agora, precisei estar mais aberto e atento à visão de outras pessoas”, afirma o ator de 37 anos que, em 2008, com “Talvez”, encenou seu primeiro espetáculo solo – termo que ele prefere, em vez de “monólogo”, porque “diz que uma pessoa que está só em um espaço”.

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"Trajetória sexual" é o terceiro solo de Facó, depois de "Talvez" e "Mamãe" (Foto: Rodrigo Ricordi/divulgação)

Com trabalhos marcantes em peças como “Pterodáctilos” – dirigido por Felipe Hirsch e coestrelado por Marco Nanini, Mariana Lima e Felipe Abib, entre 2010 e 2012 –, Alamo conta que passou a prestar mais atenção na forma com que os conceitos sexuais vêm mudando e que procurou levar esse panorama para o palco. “De dez anos para cá, surgem mais de 40 anos para designar e identidade de gênero, que não existiam antes. Tive que ser muito acurado para não entrar em um conflito geracional, empenhado em diminuir o muro com essa geração que luta pelo direito de seu corpo. Estoura um grito por direito à identidade sexual, amigos passam a mudar de nome”, enumera, explicando que seu (único) personagem na peça também pode mudar de nome durante cada encenação, embora não vá mudar de orientação. O personagem começa o espetáculo se chamando X e, no meio, adota um nome escolhido pela plateia. “Ele é um homem e não muda durante a trama. Se a plateia der a X o nome de Camila, eu vou me chamar Camila, mas vou continuar a ser do gênero masculino, ele não faz transição”, adianta o ator, que também assina o texto, com base em experiências próprias, inspiração em casos contados por amigos e também livre imaginação.

“Eu até disse a um amigo que usaria duas histórias que ele me contou, mas, durante a elaboração do texto final, nos ensaios, a gente vai lapidando. Então, essas acabaram ficando de fora, mas considerei muito a experiência e a identidade das outras pessoas. É a trajetória de uma só pessoa, mas que vê todas essas mudanças acontecerem”, acrescenta.

Assim, X conta as suas primeiras experiências sexuais, o sexo com o melhor amigo, com desconhecidos, com a ex-namorada, com uma amiga transgênero, em diferentes estados de consciência, em locais públicos e, sim, com amor.

Macaque in the trees
Personagem conta as suas experiências, com amigo, ex-namorada e desconhecidos (Foto: Rodrigo Ricordi/divulgação)

Sobre o peso da experiência pessoal, quando se escreve e atua só, Álamo Facó admite que “todo autor acaba se inspirando em história pessoais, de forma direta e indireta”, mas não abre mão de florear a própria história – dele ou do personagem X. “É o que se costuma chamar de ‘autoficção’, quando o autor se empenha em contar histórias pessoais sem abrir mão da ficção”, explica o ator que “conta algo que é muito secreto, provoca fricção com os espectadores, porque é tornar público algo muito íntimo”.

Além de escrever o texto que encena, Álamo Facó também dirige o espetáculo, com Renato Linhares e Gunnar Borges, e a trilha sonora, com Rodrigo Marçal. A direção de movimento é de Márcia Rubin, com preparação de Sonia Dumont (vocal), Marcio Borges (corporal) e Maria Clara Maricato (pole dancing). O Estúdio Chão (Adriano Carneiro de Mendonça e Antonio Pedro Coutinho) assina o cenário, com arte visual do Estúdio Triângulo (Daniel Kucera e João Penoni), videografismo de Pedro Cadore, iluminação de Felipe Lourenço e figurino de Ticiana Passos, com Domingos Alcântara como colaborador de pesquisa.

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SERVIÇO

TRAJETÓRIA SEXUAL

Sesc Copacabana. R. Domingos Ferreira, 160 (sala multiuso) - Copacabana; Tel.: 2547-0156. De quinta a sábado, às 19h; domingos, às 18h, até 30/9. Duração: 70 minutos. Ingressos: R$ 30. Capacidade: 242 lugares.

Rodrigo Ricordi/divulgação - Personagem conta as suas experiências, com amigo, ex-namorada e desconhecidos