Em meu artigo de domingo, escrevi que se faz urgente a reforma de nossas instituições. A rejeição cada vez maior por algumas práticas consolidadas no seio delas e externadas no conjunto de reivindicações a partir de junho de 2013 nas ruas e represadas de muito no coração dos cidadãos e das cidadãs brasileiros é um sinal inequívoco dessa necessidade.
A reforma da polícia ou das polícias é uma das que compõem o conjunto de alvos de mudanças necessárias, que precisa ocorrer com a máxima urgência. Notem que esta palavra está tão recorrente neste texto quanto se faz perceber no nosso dia-a-dia. Não são mais fatos isolados, situações individuais, são verdadeiras atrocidades ocorrendo diariamente.
São relatos, constatações, pesquisas, análises e dados reais que comprovam a falência do modelo vigente da polícia brasileira. Há um verdadeiro genocídio da juventude negra, por parte de outros jovens negros e pobres que também morrem como moscas em nome de uma guerra que destrói famílias e mancha de sangue a nossa história.
O episódio da prisão dos 22 policiais nesta segunda-feira só se junta a outros anteriores e que caíram no esquecimento ou só servem para endossar mais críticas à corporação ou a afirmações de que são alguns "desvios de conduta" sem serem feitas as devidas adequações à realidade dos nossos dias. Não se pode mais tapar o sol com a peneira, não podemos viver em um estado policial, onde ao invés das devidas reorganizações estruturais, a inserção de um número de novos soldados torna maior contingente e menor as chances de se viver uma democracia. É preciso agir, e só apressão popular fará com que a mudança chegue e se estabeleça.
São afrontas diárias ao bom senso e à própria democracia. Temos uma situação limite em todos os níveis da educação em nosso país e se não bastassem todos os aviltamentos em relação à segurança e à saúde, com a farra dos planos e a humilhação do sistema de saúde pública, os profissionais do Judiciário são contemplados com uma bolsa para auxílio-educação dos filhos à partir de R$ 7.500,00 para o primeiro escalão e aí seguem-se os valores relacionados aos outros níveis do funcionalismo do Judiciário.
Ainda há setores da sociedade que querem questionar as ações afirmativas que dão um mínimo de condições para que os que foram institucionalmente alijados do sistema educacional durante tanto tempo e que desenharam os contornos sombrios da nossa desigualdade vergonhosa e histórica. São os mesmos que sofrem pelo fracasso do processo de embranquecimento, embora o façam muito bem de outra forma, talvez até mais perversa, é só olhar a banca de jornal mais próxima ou aquela loja do shopping mais à mão, sem contar os programas diários, mas aí já é assunto para outro artigo.
Como crer em uma instituição que tem como prerrogativa a justiça? Que lida e vê de perto a capacidade do ser humano desapossar o outro do seu direito. Profissionais que deveriam zelar pelo direito sagrado à justiça, conteúdo presente no discurso de Jesus Cristo, nos envergonham mais uma vez. Pois é, nós é que nos envergonhamos.
Como retomar a confiança em nossas instituições? Queremos ver em um novo governo a resposta que não veio. Não, não sou inocente e nem penso que um ser humano possa encerrar em si mesmo ou mesma a capacidade de resolver tudo, até porque, nada se faz sozinho, governar é que não mesmo.
É preciso que a sociedade tenha mais proximidade, mais controle da coisa pública. Controle social, diálogo com os movimentos que entendem e vivem na base o que mais fere a sociedade. Não aguentamos mais conviver em um sistema tão contaminado, isso nos faz mal e nos adoece a alma, de verdade.
"A nossa luta é todo dia. Favela é cidade. Não à GENTRIFICAÇÃO e ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO e à REMOÇÃO!"
*Membro da Rede de Instituições do Borel, Coordenadora do Grupo Arteiras e Consultora na ONG ASPLANDE.(Twitter/@MncaSFrancisco)