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Revolução Carnavalesca

Miguel Paiva -
(ilustração da coluna)
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O povo nas ruas querendo alguma coisa assusta, principalmente, aos ricos. Vai dar ruim, diriam alguns. A única ocasião em que o povo nas ruas quase não carrega ameaça é o Carnaval. Pensem bem se, no meio dessa festa, alguém sugerisse desviar os propósitos para ajustar as contas com a sociedade?

Na história da humanidade não existe momento assim. A Revolução Francesa, na realidade colocou parte desse povo nas ruas e capitalizou para a burguesia interesses contrários à monarquia. O povo logo voltou para suas casas e teve que aguardar um bom tempo para ter parte de suas reivindicações atendidas. Na Revolução Russa, boa parcela do povo também foi para as ruas e apesar de toda a guerra que se prolongou por anos depois da Revolução, o que se viu foi uma classe dominante revolucionária mandando e, apesar de avanços, com o tempo deixando os anseios populares. Mas a história avançou. Progresso e desenvolvimento social avançaram mas longe das ruas, nos gabinetes, nas universidades e na cabeça, bem intencionada, dos comandantes dessas transformações.

Macaque in the trees
ilustração carnaval cadB 10/03/2019 (Foto: Miguel Paiva)

O Carnaval no Brasil seria um momento único de revolução. Não haveria divergências, apesar de quesitos das escolas trazerem um pouco de confusão e blocos às vezes terminarem em pancadaria. O que todos querem são alguns dias de felicidade. E o que é uma revolução senão isso prolongado por toda a vida? Por que não aproveitar esse embalo e começar a mudar o Brasil? Melhorar não só as escolas de samba, mas todas as escolas do país? Ocupar hospitais, repartições, empresas e palácios cantando a felicidade do povo brasileiro. Invadir os gabinetes palacianos decretando o bem-estar geral, a alegria desses quatro dias estendida pelo resto do ano e determinar que o Carnaval é um estado constante de prazer e realização.

Cantar um samba junto com a Avenida é como entoar um hino com os vencedores sem que ninguém lá de cima determine o que fazer, para onde ir e a que horas parar. Mesmo aqueles que não gostam de Carnaval ouvem ao longe um povo cantando feliz em uníssono o que a história determinou ser nosso destino e não uma oportunidade política.

A Revolução do Carnaval também terá que ser dura com quem não quer que ela vença. Reacionários e contrarrevolucionários sempre vão existir. Para eles a punição da tristeza, do isolamento, do esquecimento da História. A vitória da Revolução do Carnaval terá o julgamento da população carente que, nos quesitos Educação, Moradia, Saúde e Trabalho conseguirá 10, nota 10 e a certeza de que estarão sempre no Grupo Especial de seres humanos felizes. Que seja assim o enredo do nosso futuro e que essa energia toda não se cale nas Quartas-feiras de Cinzas do Brasil.

Não somos o país do Carnaval e o país do futuro? Que tal juntar, então, essas duas tendências ao real espírito de transformação? O povo viria em primeiro lugar e os bancos serviriam para organizar o dinheiro que deixará de ter a importância que tem hoje. As igrejas abrigariam só os que têm fé, a polícia organizaria os desfiles e o trânsito e o presidente desta enorme escola de samba seria eleito a cada quatro anos para comandar a festa de todos, e não a farra de poucos. E o cenário da Mangueira seria realmente uma beleza.

Miguel Paiva - ilustração carnaval cadB 10/03/2019