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O resto são números

Miguel Paiva -
"O único desenvolvimento que me interessa é o humano"
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O único desenvolvimento que me interessa é o humano. Os índices da Bolsa de Valores ou a flutuação do dólar são somente números diante do IDH que reflete realmente o estado das coisas num país. Índice de Desenvolvimento Humano inclui, expectativa de vida ao nascer, educação e PIB per capita.

Os neoliberais responderão, “mas é a Bolsa que traz dinheiro para o mercado e isso gera emprego”. Ok, pode ser, mas que emprego é esse? Que salário será esse? Que direitos acompanham esse emprego? Que patrão é esse? E que previdência é essa que aguarda o assalariado no fim do turno? Como bem disse o economista Eduardo Giannetti, esse neoliberalismo radical da equipe do Bolsonaro pode acabar de vez com o a fama do liberalismo no Brasil. Ou seja, o que o liberalismo teria de bom corre sério risco de acabar.

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"O único desenvolvimento que me interessa é o humano" (Foto: Miguel Paiva)

Números da Bolsa sempre foram uma espécie de viagra para a economia de um país com dificuldades de ereção. A Bolsa subir é quase como o membro viril recobrar suas forças. Mas todo mundo sabe que não basta. Numa relação sexual é preciso, além da pregão, ou melhor, da penetração, que exista a preliminar, o carinho, a sensibilidade, a dedicação, a improvisação e sobretudo, o tesão. 

Esse frisson técnico é muito perigoso. Se o governo fosse só construir pontes, ainda assim, precisaria de mais um pouco além da técnica. 

Se não considerarmos o país como um todo de verdade, vamos continuar olhando para os números, mesmo que sejam positivos, sem saber a que horas esses números vão virar fatos reais, transformadores da vida da população. Projetos econômicos existem ao lado de projetos políticos claros, com uma intenção nítida de benefícios às populações mais carentes. O próprio liberalismo prega um estado mínimo, mas um estado real, que cobre justamente onde o liberalismo não pensa em entrar, nos direitos básicos do cidadão. Saúde, educação e moradia não podem ser alvos de ganância por lucro como pregam os mais radicais. Um ministério como o do Trabalho não pode ser extinto assim como uma bomba de flit. São direitos inalienáveis e devem ser garantidos e medidos pelo IDH, e não pela Bolsa.

O país inteiro agora parece que se move à base de números, de dados frios e de conclusões superficiais. Aliás, nem sabemos bem o que o povo quer nem o que o governo pode dar. É um NÃO QUERER tão violento que o querer passa a ser esquecido. E isso é grave. Lá na frente vamos reencontrar os desejos e os desejos do SIM, dos sonhos, dos que estão a nosso alcance. 

Construir é muito mais difícil e exige sacrifícios, projetos, participação e estímulo. Uma cidade como o Rio além de suja, está abandonada, porque ao prefeito não interessa o trabalho básico, o esforço e o sacrifício. O que importa é o interesse pessoal, corporativo do seu grupo, se locupletando até mesmo longe do sonho do poder. Até o poder que enfeitiça exige um mínimo de mise-en-scène. Um prefeito deve governar pensando na sua população. Um presidente deve governar pensando no seu povo. Se não for assim, os números que animam essa galera podem acabar se voltando contra eles e não vão mais interessar, nem mesmo aos olhos neoliberais. A competência ou o mérito, melhor dizendo, é o maior indicador do sucesso para eles. Pra mim é a felicidade, mas quem sou eu?