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Acabou o amor

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Há praticamente 12 anos, Steve Jobs subiu ao palco do principal evento anual para apresentação de produtos da Apple e revelou o iPhone. Em suas palavras, tratava-se de um “produto revolucionário e mágico”. Seu sucesso sem precedentes provaria seu ponto e, alguns anos depois, a empresa, que sempre arrebatou uma legião de fãs apaixonados, foi a primeira da história a ultrapassar um trilhão de dólares de valor de mercado.

O iPhone superou com louvores a forte crise financeira de 2008, concorrentes de todos os lugares do mundo e inúmeras promessas de substituição. Superou, pelo menos por algum tempo, a morte de seu cérebro principal, mas agora parece que a empolgação do mercado pelo revolucionário e mágico aparelho não existe mais.

Na semana passada, Tim Cook, o CEO da companhia, alertou os investidores através de um comunicado formal que a empresa espera vendas menores para o trimestre atual. Cook disse que a queda vem principalmente da China, que está enfrentando uma economia em desaceleração e uma guerra comercial com os Estados Unidos. O entendimento geral do mercado é de que o problema do iPhone da Apple é, sem trocadilhos, bem maior do que a China. Até então, a empresa havia elevado suas margens em função de um aumento real no preço final do iPhone. Mesmo vendendo menos, deixava mais dinheiro em caixa. A questão é que as receitas vindas da plataforma, ou seja, da intermediação das vendas de desenvolvedores de conteúdo e os consumidores finais, é a principal atividade da Apple. Com uma base menor em número de usuários, é fácil prever que, no longo prazo, a margem da empresa irá cair caso nada seja feito. Como o mercado financeiro antecipa esses movimentos, a empresa tem passado dias muito complicados na bolsa de valores.

Vai ser difícil substituir o produto, mas já deu para perceber que mudar apenas tamanho e velocidade de processamento não será suficiente para manter a longevidade da empresa. O mercado, tanto o consumidor quanto o financeiro, já deixou bem claro que o amor acabou.

Orgulhoso?

Em um post de fim de ano, Mark Zuckerberg disse estar orgulhoso do progresso que o Facebook fez para melhorar sua plataforma, no ano passado. Em suas próprias palavras “estou orgulhoso do progresso que fizemos em 2018 e grato a todos que nos ajudaram a chegar aqui”. A empresa teve um ano repleto de problemas e escândalos, que deixaram muitos clientes furiosos, derrubou as ações da empresa, se envolveu em brigas com legisladores e reguladores dos dois lados do Atlântico. Além disso feriu a reputação pública de executivos anteriormente venerados como o próprio Zuckerberg e Sheryl Sandberg.

O Facebook melhorou seus sistemas de prevenção à interferência eleitoral e está removendo milhões de contas falsas todos os dias, segundo seu fundador. Fez parcerias com empresas de fact-checking em países do mundo todo a fim de identificar fake news, criou novos padrões de transparência na publicidade, criou uma comissão independente de pesquisas eleitorais para estudar ameaças e fez parcerias com governos e órgãos de segurança para se preparar para as eleições.

Em 2018 a empresa teve que lidar com a desconfiança sobre a lisura com que trata os dados de usuários e precisou provar que realmente combateu a interferência russa nas eleições americanas em 2016. Houve o problema com a Cambridge Analytica e os dados de 87 milhões de usuários sem seu conhecimento, além da venda direta dos dados para empresas como fora noticiado no “The New York Times”.

Zuckerberg está na lista dos bilionários que mais perderam dinheiro em 2018. Além de todas as questões de segurança e privacidade, o principal produto da empresa, o facebook.com, vem enfrentando problemas para conquistar as gerações mais jovens. Por outro lado, duas grandes aquisições, WhatsApp e Instagram, garantirão a posição de liderança da empresa no mercado de redes sociais por muito tempo. Me pergunto o quanto Zuckerberg resistirá à pressão do mercado financeiro por números melhores e quanto vai conseguir gerar receita diante do cenário atual. Tenho a sensação de que oxigenar o comando da empresa seria uma decisão inteligente. Assim como Satya Nadella fez com a Microsoft, alguém de fora pode realmente dar à Facebook Inc. e seus acionistas motivos para ficarem orgulhosos.