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Covid-19: indústria cai 9,1% e Itaú lucra menos que Bradesco e Santander

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Você tem alguma dúvida dos estragos financeiros e econômicos da Covid-19 que as 600 novas mortes contabilizadas nesta terça-feira, 5 de maio, colocam o Brasil (7,926 mortes) na iminência de superar a Bélgica (8 mil) e se juntar às tristes estatísticas de Estados Unidos (62 mil), Reino Unido (29,5 mil), Itália (29,3 mil), Espanha (25,6 mil) e França (25,5 mil)? Dois indicadores mostram que a situação pode ser agravar:

1 - O IBGE revelou que em março (com três semanas em semi paralisação), a queda da produção industrial atingiu 9,1% na maior em 18 anos para o mês, só perdendo para o tombo mensal de 11% em maio de 2018, devido à greve dos caminhoneiros, que estendeu até meados de junho);

2 - O lucro líquido recorrente do 1º trimestre (só no país) do Itaú, o maior banco privado brasileiro, caiu 48,3% para R$ 3,626 bilhões. É a 1ª vez - desde que absorveu o Unibanco em novembro de 2008 e assumiu a liderança privada - que seu lucro líquido recorrente no país fica menor que o do Bradesco (R$ 3,753 bilhões, -43,5%no trimestre) e que o do Santander (R$ 3,853 bilhões +10,5%) no período. É que o banco espanhol concentrou as provisões para devedores duvidosos (grande causa da queda do lucro) na matriz em Madri.

Dissecando o Itaú

Foi sintomático que na mesma segunda-feira, 4 de maio, em que divulgou seu balanço, após o fechamento dos mercados, por volta das 20 horas, as ações PNs do Itaú tenham também perdido a condição de papel com maior peso na carteira do Ibovespa para a Vale PN. Até o fim de abril, Itaú PN pesava 8,573%, ficando à frente dos 8,189% na Vale; agora, Vale pesa 10,155% e Itaú Unibanco PN caiu para 7,414%. Em dezembro, seu peso era de 9,194%.

Como o Itaú-Unibanco Holding apresenta o balanço consolidado de todas as suas operações na América Latina, é preciso esmiuçar as informações para ver o ganho só das operações brasileiras. O lucro recorrente consolidado foi maior – R$ 3,912 bilhões, mas, pela 1ª vez em muitos anos a fatia brasileira encolheu de 96% para 92% no lucro regional). Exceto o Santander, com gigantescas provisões para devedores duvidosos, os grandes privados reduziram o lucro do 1º trimestre frente ao mesmo período de 2019. Mais do que isso, o retorno médio sobre o patrimônio líquido ajustado da holding do Itaú despencou de 25,1% em dezembro para 12,8% em março.

O Santander liderou com R$ 3,853 bilhões (+10,5), o Bradesco superou o Itaú-Brasil (R$ 3,753 bilhões a R$ 3,626 bilhões). No período, os lucros do trio somaram R$ 11,232 bilhões, com uma queda inédita de 32,4% frente aos R$ 16,626 bilhões auferidos de janeiro a março de 2019.

É interessante observar que a Itaú-Unibanco Holding controla, só no Brasil nada menos que cinco bancos múltiplos (o próprio Itaú Unibanco), o Itaú-Unibanco, que é o maior do país, o Itaú BBA, o Itaú Consignado (antigo BMG), Banco Itaucard (que controla os cartões de crédito do grupo), o Hipercard (banco múltiplo que também opera cartões), e o Banco Itauleasing, além de controlar 50% da Itaú CBD S.A. Crédito, Financiamento e Investimento (antiga Fininvest), 100% da Itauseg Seguradora e 50% da financeira Luizacred, que dá suporte às vendas do Magazine Luiza. Controla ainda 100% da Redecard, que administra e dá suporte e cartões de adqüirência (débito, crédito, alimentação e transportes). Há alguns anos, antes de a Anbid se associar à Andima e formarem a Anbima, já havia tantos bancos sob a sigla Itaú que a Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento e Desenvolvimento) era jocosamente chamada de Associação Nacional dos Bancos Itaú e demais...

Atacado e Varejo

A diversificação de atividades levou a uma divisão interna no Itaú, comandado por Cândido Botelho Bracher, com a criação de um Banco de Atacado, dirigido por Caio Ibrahim Davi, que que engloba as atividades do Itaú BBA, das diversas empresas de “asset management” do grupo, tesouraria e atividades de underwritting e bancos de investimento; de outra parte o Banco de Varejo, dirigido por Márcio Andrade Schettini, com 67% das operações concentradas no Sudeste, controla 4.500 agências e PABs com 56 milhões de clientes pessoas, cartões de crédito, crédito consignado e pessoal, de veículos e crédito imobiliário, além de seguros e consórcios.

Desde a declaração da pandemia da Covid-19, em 11 de março pela OMS, as condições do mercado internacional de crédito viraram de ponta cabeça, com corte das linhas de créditos externas (restabelecidas com crédito ponte de US$ 60 bilhões do Fed ao Banco Central do Brasil) ocasionou aumento do custo do crédito, de R$ 6.283 milhões, em relação ao mesmo período de 2016, causado “principalmente (...) pelo “aumento de R$ 5,873 bilhões na despesa de provisão para créditos de liquidação duvidosa no Brasil, sendo de R$ 3,127 bilhões o reforço no Banco de Varejo e R$ 2,746 bilhões no Banco de Atacado.

O banco resumiu a situação: “O custo de crédito no 1º trimestre de 2020 atingiu R$ 10,1 bilhões, um aumento de 73,6% quando comparado ao 4º trimestre de 2019. O produto bancário reduziu 8,3% no trimestre. A margem financeira com clientes recuou em função da menor receita com cheque especial por alteração regulatória vigente desde o início do ano e da redução da taxa básica de juros. A redução da margem com mercado está associada com o aumento da volatilidade na segunda quinzena de março”. O custo do crédito sobre a carteira saltou de 3,3% em dezembro para 5,5% em março, com tendência crescente.

O Itaú sofreu ainda “redução de 41,8% na margem financeira da Tesouraria com o mercado no trimestre, em função do menor resultado no hedge externo e na mesa trading. Também houve redução de R$ 278 milhões em recuperação de créditos baixados como prejuízo e redução de R$ 142 milhões do “impairment” de títulos privados, concentrados no Banco de Atacado.

Assim, o lucro trimestral recorrente do Banco de Atacado mingou para apenas R$ 726 milhões (queda de 63,6% frente aos R$ 1,997 bilhão do 4º trimestre de 2019), caindo sua participação para 19% do total. No Banco de Varejo, o lucro líquido recorrente encolheu a R$ 1,760 bilhão (redução de 51,7% frente aos R$ 3,643 bilhões do 4º trimestre de 2019), mas garantiu 45% do lucro consolidado. E 38% vieram de operações corporativas, incluindo Tesouraria e títulos públicos.

Inadimplência em escalada

A estrutura do Itaú, com desempenho focado essencialmente no Banco de Varejo está sofrendo um baque pela perspectiva de salto na inadimplência. O Banco fez uma mudança tremenda no perfil da carteira de Pessoas físicas de 2014 para cá, quando a economia entrou em recessão, ainda no 1º governo Dilma. As operações de financiamento de veículos foram as que mais cresceram e hoje ocupam o 2º lugar, com 22,1%, contra 8,2% em 2014.

As de cartões de crédito ampliaram sua fatia na liderança, de 31,6% para 35,4%. O banco tem 34,7 milhões de clientes em CC e 29,7 milhões de clientes em cartões de débito. As transações de crédito consignado vêm em 3º com 21,2% (14,7% em 2014). O crédito imobiliário (que oferece boas garantias) também aumentou seu espaço na carteira, de 15% em 2014, para 19,9%. O crédito pessoal ficou com 15,3% (16,6% em 2014).

A questão é que a inadimplência tende a crescer entre as pessoas físicas e os pequenos e micros empresários. As pessoas físicas deviam R$ 238,1 bilhões, com participação de 40,3% no total de R$ 590,7 em toda a carteira de crédito, incluindo debêntures em carteira e avais e finanças. As pequenas e micro-empresas, geralmente de um único dono, deviam R$ 104,5 bilhões. Assim, o Itaú agrupou as duas contas (com risco maior) em R$ 342,6 bilhões, representando 48%. As grandes empresas tomaram R$ 248,1 bilhões, ou 42% da carteira.

No trimestre, a inadimplência das pessoas físicas acima de 90 dias saltou de 4,8% em dezembro para 5,1% (4,5% há um ano); nas PMEs, a taxa se manteve em 2,3% (era de 1,7% há um ano) e nas grandes empresas, que correram mais rápido para renegociar dívidas e tomar mais empréstimos, a inadimplência aumentou de 0,5% para 1,2%. O índice de inadimplência entre 15 e 90 dias também aumentou nas pessoas físicas, de 3,1% em dezembro para 3,5%. Nas “grandes empresas, o índice reduziu em relação ao trimestre anterior (de 1,2% para 0,7%) devido, principalmente, à exposição a clientes do segmento que migraram para a carteira em atraso acima de 90 dias”.

Sandálias da humildade

Aliás, um dos grandes investimentos dos controladores do Itaú-Unibanco (as famílias Setúbal e Moreira Salles), a Alpargatas, comprada do grupo J&F, emmeados de 2017, após o escândalo das gravações clandestinas do presidente Michel Temer atingir Joesley Batista e as empresas como a Eldorado e a área de laticínios (Vigor), só restando basicamente a JBS, também perdeu dinheiro no 1º trimestre. No balanço divulgado agora à noite, o lucro líquido consolidado de R$ 23,2 milhões foi 46,4% menor que o do mesmo período de 2019. ) O lucro líquido recorrente de R$ 50,6 milhões ficou 22,6% inferior ao resultado dos primeiros três meses de 2019.

A esperança está no Crispr

A boa notícia é do “New York Times” de hoje: Uma equipe de cientistas desenvolveu um protótipo experimental para um teste bastante rápido e barato para diagnosticar o coronavírus que fornece resultados tão simples quanto um teste de gravidez.

O teste é baseado em uma tecnologia de edição de genes conhecida como Crispr, e os pesquisadores estimaram que os materiais para cada teste custariam cerca de US$ 6 (cerca de R$ 35).

"Estamos empolgados com o fato de esta ser uma solução que as pessoas não precisam contar com um laboratório sofisticado e caro para administrar", disse Feng Zhang, pesquisador do Broad Institute em Cambridge, Massachusetts, e um dos pioneiros da tecnologia Crispr.

Nem tudo que reluz é ouro

Atenção investidores: a Comissão de Valores Mobiliários (a CVM, xerife do mercado de capitais acaba de avisar: a Petra Gold Serviços Financeiros S.A. e seu sócio Eduardo Monteiro Wanderley não estão habilitados a ofertar publicamente contratos de investimento coletivo, participações, ou quaisquer valores mobiliários.

A empresa anuncia continuamente nas rádios.