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A carne fica mais forte com o dólar em alta

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O dito “a carne é fraca” não se aplica muito na economia. A tentação de “pecar”, ou de subir os preços, é sempre latente. Mas a lei da oferta e da procura (não revogada) se encarrega de sublimar os pecados. Foi assim em 2017, quando a carne bovina teve queda de 2,50%, segundo o IBGE e em, 2018, quando subiu 2,25%, portanto, sem recuperar a baixa do ano anterior.

Mas, em 2019, com os efeitos nefastos da gripe suína africana que dizimou parte expressiva do rebanho suíno, responsável por 47% da carne consumida no país de 1,3 bilhão de habitantes, o mercado inverteu totalmente os parâmetros e a carne bovina ficou mais cara 14,43% no ano, sendo 12,15% só em novembro, provocando alta de 0,22% nos 0,50% do IPCA do mês passado.

A alta de 5,77% na cotação do dólar em outubro ante o real, ajuda muito a explicar a disparada dos preços das carnes. O mercado já vinha aquecido pelo forte aumento das importações da China, para suprir a necessidade de proteínas, após o impacto da gripe suína africana dizimar parte expressiva da principal fonte de proteína do país de 1,3 bilhão de habitantes.

Maior exportador de carne bovina do mundo (o Brasil responde por 20%, contra 14% dos Estados Unidos) e de frango do mundo (33% contra 28% dos EUA) a alta do dólar veio como combustível para aquecer o mercado no período de maior demanda doméstica por carnes suínas e de aves para as ceias de Natal e Ano Novo. Além da alta de carne, aves e ovos tiveram aumento de 8,93% no mês de novembro.

De quebra, os preços do óleo de soja (um dos derivados de soja, o farelo que sobra após a extração do óleo, é, junto com o milho, a base das rações de aves e suínos) subiram mais 3,49%. Tudo isso somado, o item Alimentação e Bebidas, que tinha subido apenas 0,05% em outubro (alta acumulada de 2,15% no ano), saltou para 0,72% em novembro (2,89% no acumulado do ano), com impacto de 0,18 pontos percentuais no índice final de 0,51% em novembro.

Azar nas apostas

Outro grande impacto foi o reajuste, a partir de 10 de novembro, no valor das apostas dos diversos jogos da Loteria Federal, entre 40% e 66%, que estavam congeladas há quatro anos. Só a Mega Sena, a preferida dos apostadores, teve o preço mínimo elevado de R$ 3,50 para R$ 4,50, um aumento de 28,6%.

Sozinho, o grupo Despesas pessoais, no qual estão incluídas despesas como loteria e cigarros, por exemplo, teve alta de 1,24% a maior variação no IPCA, e o 2º maior impacto (0,13 p.p.) no IPCA de novembro (perdeu apenas para a carne), influenciado pela alta no item jogos de azar (24,35%).

Pressão que vem da China

O costume arraigado do consumo da carne de porco pelos chineses pressionou as importações de outros tipos de carne. Os chineses, ávidos por proteínas, também optaram por carne bovina e de frango (mais fácil de ser produzida, pois o ciclo do nascimento ao abate leva até 45 dias, contra 18 meses dos suínos e 30 meses dos bovinos). Como maior exportador de carne de aves do mundo (33% do mercado, contra 28% dos EUA) e de carne bovina (20%, contra 14% dos EUA) o Brasil sofre os impactos da pressão.

As estatísticas de exportação mostram a inversão das tendências. Em 2017, com a abertura de novos mercados à carne bovina brasileira, as vendas cresceram 9,3% para 1,856 milhão de toneladas). Em 2018 aumentou ainda mais (12,2%, para 2,083 milhões de t.). Este ano a previsão do Departamento Econômico do Bradesco é de um aumento de 6,1%, para 2,2 milhões de t. No frango, os impactos de operações como a Carne Fraca, reduziram em 1,1% as exportações em 2017, com nova queda de 4,2% em 2018. Este ano, o Bradesco espera aumento de 2,4% no total exportado.

Mas mudança mesmo veio na carne suína, mercado no qual o Brasil participava apenas de 10% das exportações mundiais, contra 31% dos EUA e 36% da União Europeia. Se em 2017, as vendas brasileiras, em tonelagem, caíram, 5,5% por efeito da Carne Fraca, com a proibição de vários frigoríficos continuarem exportando, com queda ainda maior em 2018 – 7,1% (para 730 mil toneladas) este ano as vendas dispararam. Em estudo realizado em julho deste ano, o Bradesco previa aumento de 23,3% no volume de exportações de carne suína, para 900 mil toneladas. Mas, em se tratando de China, todos os números podem ser revisados para mais, é claro.

Boi gordo valoriza mais que ações, dólar e ouro

Na verdade, os números dos mercados especulativos de futuros (onde são negociados contratos para entrega um mês à frente, três meses ou 12 meses adiante) são impressionantes.

Em dezembro, até o dia 4, segundo dados do Depec Bradesco, o dólar tinha valorizado 4,81% em 30 dias diante do real e 8,19% no ano de 2019. [Nesta semana, o dólar já caiu quase1,5% e esfriou as especulações].

O ouro, que tem a cotações atreladas ao dólar (que atualizada o valor da onça-troy), caía 0,46% em 30 dias, mas ainda acumulava alta de 19,38% no ano até o dia 4 de dezembro.

No mesmo período, o Ibovespa (o indicador da carteira de ações da B3) subia 1,75% em 30 dias e 24,24% em 2019.

Mas nada superou a valorização do contrato de Boi Gordo (R$ por arroba, ou 15 kgs de carne). Um boi pronto para o abate aos 30 meses tem, em média, 450 a 600 kgs, ou 30/40 arrobas. O aproveitamento da carne (excluídos ossos, chifres e couro) fica em torno da metade, ou 55%, no máximo.

Em 4 de dezembro a alta da arroba do boi tinha acumulado 11,96% em 30 dias e 33,20% no ano.

A boa notícia – para o bolso do consumidor – é que os preços do boi gordo acumulam queda de quase R$ 18 por arroba em seis dias, em decorrência da melhora dos pastos com a chegada da temporada das chuvas nos centros criadouros do Centro-Oeste, Sudeste e Sul e do recuo do dólar.

Com relação ao dólar tudo vai depender dos primeiros movimentos do novo governo da Argentina, que toma posse dia 10, terça-feira.