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Embaixada em Washington subiu no telhado

Foto: Reuters/Amanda Perobelli -
Deputado Eduardo Bolsonaro
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Parodiando a piada do mordomo português, alertado para ser mais sutil ao dar notícias graves, pode-se dizer que o presidente Jair Bolsonaro deu o aviso de que a candidatura do filho nº 3, Eduardo Bolsonaro, ao cargo de Embaixador do Brasil nos Estados Unidos, em Washington, subiu no telhado. Afinal, é o próprio presidente quem agora articula a candidatura do filho, deputado federal pelo PSL-SP e presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara à condição de novo líder do governo na Câmara dos Deputados.

Em matéria de compromisso, está aí mais uma prova do caráter errático e improvisado deste governo. Antes, parecia que a candidatura de Eduardo Bolsonaro, credenciado por ter praticado mais o inglês, num programa de intercâmbio, no qual desenvolveu as habilidades de “fritar um hambúrguer“ e conhecer algumas manhas da sociedade norte-americana, era favas contadas e que contaria com o apoio irrestrito do presidente Donald Trump.

Estranho, porque a função do embaixador é defender os interesses do Brasil, como bem ensinou Walther Moreira Salles, por duas vezes embaixador do Brasil em Washington, nos governos Dutra e Getúlio Vargas. Isso exige habilidades no trato com a alta sociedade americana, os meios financeiros e empresariais, as principais lideranças políticas dos dois partidos, trânsito livre com os demais representantes de países acreditados em Washington, além dos principais organismos multilaterais, como OEA, FMI, Banco Mundial, BID. E não, necessariamente, demonstrar vassalagem ou camaradagem para com Tio Sam.

Quando o presidente da República articula um posto importante para o filho no Brasil é sinal claro de que a decisão de indicá-lo para representante do Brasil em Washington perdeu importância (a embaixada mais importante do país está vaga desde o começo de abril) quando o governo Donald Trump fez pouco do Brasil há uma semana, ao dar prioridade à recomendação do ingresso da Argentina e da Romênia na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) antes do Brasil.

O tal alinhamento automático do Brasil a Washington, alardeado por Bolsonaro desde que foi eleito e motivo de reuniões particulares com o presidente dos EUA, na qual Eduardo exibiu um boné da campanha de Trump 2020, não se consumou na prática. Em troca do apoio ao ingresso do Brasil na OCDE, o Brasil de Bolsonaro se declarou disposto a fazer concessões inaceitáveis, como o de perder o status de nação em desenvolvimento e ter certas salvaguardas nos assuntos de comércio e serviços regulados pela Organização Mundial de Comércio.

Agora que o Tio Sam mostrou sua face de sempre (reforçada com Trump com o slogan “America First”, papai percebeu que é melhor cuidar da base de apoio na Câmara e deixar os sonhos de grandeza de lado.

Mudam as prioridades das reformas

Durante meses, a equipe econômica dizia que a reforma Previdenciária era “a mãe de todas as reformas” e que a reforma Tributária, que abriria espaço para a formação de um novo pacto federativo entre União, Estados e Municípios (casando o que nunca foi feito desde a Constituição de 1988– receitas com atribuições de execução). A reforma da Previdência está quase pronta.

Pois hoje, depois de constatar que “o buraco é mais embaixo”, como dizia Vinicius de Moraes, diante das resistências à reforma tributária que já custaram a cabeça do ex-secretário especial da Receita Federal, Marcos Cintra Cavalcanti, o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto de Almeida, lançou a nova palavra de ordem: “A reforma administrativa é mais prioritária neste momento do que a tributária, uma vez que é mais consensual”.

A mensagem foi dada após anunciar uma boa notícia: com a combinação de cortes de gastos e reforço de arrecadação por eventos como leilões de privatização, que incluem o da cessão onerosa do petróleo do pré-sal, o déficit público primário (receitas menos despesas, sem contar os juros das dívidas interna e externa) deve cair para a faixa de R$ 100 bilhões. Bem abaixo do limite de R$ 139 bilhões fixado no Orçamento para 2019.

Parece claro: se apesar da arrecadação batendo recordes sucessivos, as despesas continuam correndo na frente (mantendo situação que começou em 2013), a questão do déficit público está muito mais ligada a criar racionalidade nas despesas do que elevar a receita (o que viria na suposta simplificação tributária na qual nova CPMF substituiria outros impostos e encargos sociais). Até porque a sociedade já convive com carga tributária de 35% do PIB.

O ajuste das despesas passa por reforma administrativa que altere competências dos entes federativos, melhor redistribua as atribuições (evitando superposições) e elimine privilégios de cargos e salários que impactam os gastos correntes e são as principais fontes de déficit na Previdência.

O problema, como sempre é: quem vai botar o guizo no gato?

Bradesco: saídas de recursos estrangeiros continuam superando entradas.

O Departamento Econômico do Bradesco chama a atenção: “em outubro, até a semana passada, o fluxo cambial contratado acumulou saldo negativo de US$ 6,8 bilhões, com saídas concentradas principalmente na conta financeira. Nos últimos 12 meses, o fluxo de divisas acumula saída de quase US$ 40 bilhões.

Diversas razões conjunturais e estruturais ajudam a explicar esse movimento, como a frustração com o crescimento doméstico, o menor diferencial de juros e a moderação das exportações nos últimos meses.

Acreditamos que esses elementos continuarão pressionando o fluxo no curto prazo, mas as perspectivas à frente são mais favoráveis, com o avanço da agenda de privatizações, a entrada dos recursos da cessão onerosa e a retomada mais consistente da economia”.