Para você, caro leitor, ver como a conjuntura econômica piorou neste 2º semestre, a partir dos novos rounds da guerra comercial entre Estados Unidos e China. Há duas semanas, o Bradesco, 2º maior banco privado do país, ainda acreditava que a taxa Selic ficaria em 5,50% este ano.
Pois na semana que passou, quando já apostava (como o Itaú) que o piso das taxas de juros ficaria em 5% ao ano até dezembro de 2020, diante de tantos indicadores negativos que apontam para maior desaceleração do PIB (que ambos estimavam em 0,8%), o Departamento Econômico do Bradesco ficou mais pessimista e já aponta a possibilidade de o PIB crescer menos que 0,8%.
Diante do quadro recessivo e da inflação em declínio, o banco da Cidade de Deus já admite que a Selic pode cair abaixo do 5%, algo como 4,75% ou até menos, no menor piso das taxas de juros na história do Brasil.
O Depec Bradesco diz em sua análise semanal: “Mesmo com a recente depreciação do real, ainda classificamos o ambiente atual como desinflacionário”. E justifica sua análise com a perspectiva de enfraquecimento da economia global, que tem reduzido os preços das principais commodities, atenuando o efeito da depreciação cambial sobre a inflação brasileira”
O Bradesco sublinha que a atividade mundial mais fraca afeta a expansão do PIB doméstico, que “deve seguir em ritmo lento nos próximos meses. Por fim, a oferta de dólar no mercado para corrigir algumas distorções, anunciada pelo BC nesta semana, tende a limitar a depreciação do real no curto prazo”.
O banco calcula que o PIB brasileiro deve ter crescido 0,2% no 2º trimestre (o Itaú, mais otimista, espera 0,5% de alta, mantendo os 0,8% para o ano). “Como a inflação segue comportada e a dinâmica de alguns propulsores de crescimento não deve mudar – gasto público e crescimento global – restou, para o curto prazo, o impulso via flexibilização monetária". Assim, o Banco Central deve seguir cortando a taxa de juros.
“No caso de continuidade da frustração com o crescimento e manutenção do cenário de inflação, a Selic pode ir para nível abaixo do nosso cenário atual, de 5,0%”, diz o Depec Bradesco.
Emprego mais fraco
Um dado que pode esfriar as expectativas será o da criação de vagas com carteira assinada pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) em julho. O mercado está esperando, em média, a criação de 41 mil vagas. O Depec Bradesco é mais pessimista e espera só 25 mil novas vagas.
No mês de junho, o Caged registrou 48.432 vagas, o melhor desempenho para o mês em seis anos. Se a criação ficar na faixa dos 25 mil (como prevê o Bradesco), seria um balde de água fria nas expectativas de que a economia engrenasse.
Como em maio foram 32 mil vagas, seriam pouco mais de 100 mil vagas no trimestre (maio-junho-julho) em que a agricultura absorve muita mão de obra.
Para o emprego atingir a previsão de 350 mil novas vagas este ano (17% menor que os 421 mil de 2018) é preciso que o comércio ganhe impulso no fim do ano com a liberação da cota de R$ 500 do FGTS, a partir de setembro.
Desaceleração global
O risco de uma desaceleração mais forte da economia global aumentou nesta semana, impactando os preços dos ativos financeiros. A frustração com os indicadores de diversos países e a surpresa das prévias da eleição na Argentina (com derrota do presidente Macri) levaram ao aumento da aversão ao risco. Nas economias emergentes, as moedas perderam valor frente ao dólar e as bolsas caíram.
Para o Bradesco, “apesar do adiamento parcial do aumento de tarifas nos EUA sobre produtos chineses (adiado de setembro para dezembro, considerando-se alguns produtos), esse ambiente mais adverso não se modificou”
Previsões do Itaú
O Itaú reviu bem para baixo as projeções do crescimento mundial. Depois de crescer 3,7% em 2017 e 2018 (anos em que o Brasil cresceu apenas 1,1%), o PIB mundial deve desacelerar para 3,2% em 2019 e para 3% em 2020.
Os Estados Unidos, 3º maior destino das exportações brasileiras, que cresceram 3,3% em 2018, devem reduzir o ritmo para 2,2% este ano e 1,5% em 2020.
A Zona do Euro, 2º maior mercado das exportações brasileiras, após crescer 2,5% em 2017, evoluiu apenas 1,9% no ano passado e deve baixar para 1% em 2019 e 2020.
A taxa de crescimento da China, maior comprador de commodities brasileiras (que estão com previsão de queda ou estabilidade, depois de três anos de altas), deve cair dos 6,8% de 2017 e 6,5% de 2018 para 6,2% este ano e para apenas 5,7% em 2020 (o menor índice em duas décadas).