ASSINE
search button

Bradesco reduz alta do PIB para 0,8% em 2019

IPCA em baixa faz Banco Central aumentar juros reais

Compartilhar

Diante do fraco desempenho dos setores da economia, o Departamento Econômico do Bradesco reduziu nesta sexta-feira (7), a projeção do crescimento do PIB de 2019, de 1,1% para 0,8%. No fim do ano passado e até janeiro deste ano, o Depec previa alta de 2,8% do PIB, com aumento da taxa Selic dos atuais 6,50% ao ano (desde março de 2018) para 7,25%.

Mas as revisões para baixo se sucederam quase mensalmente:

Em 8 de fevereiro, o banco manteve o PIB em 2,8%, e a Selic estável em 6,50%;

Em 18 de março, o Bradesco reduziu a previsão do PIB para 2,4% e admitiu cortes dos juros este ano;

Em 12 de abril, o Depec Bradesco reduziu a previsão do PIB para 1,9% e previu queda da Selic, no 2º semestre

Em 10 de maio, o banco reduziu de novo a projeção do PIB para 1,1% e considerou necessária, na ausência de riscos para a inflação fugir à meta de 4,25%, redução da taxa Selic, a partir de setembro, até 5,75% em dezembro.

Inflação sob controle

O banco admite que a projeção do “crescimento do PIB em 2019, de 1,1% para 0,8%” pode “ser alterada em função de eventuais estímulos específicos ao consumo, como liberação de recursos do FGTS e PIS/Pasep, além de surpresas com o próprio calendário de tramitação da reforma da Previdência”.

Em função disso, o banco ajustou a projeção da inflação do IPCA em 2019 de 4,0% para 3,8%; para 2020, caiu de 3,9% para 3,8%.

O banco frisa que “a evolução mais contida da atividade indica que a ociosidade da economia está e será maior, olhando adiante, e o ritmo de crescimento não será suficiente para gerar pressões inflacionárias por um período mais prolongado”.

Por isso espera “redução da taxa Selic para 5,75% até o final deste ano” o que “ajuda a produzir uma aceleração do PIB e da inflação em 2019 e 2020”.

Economia mundial em baixa

O cenário internacional também parece pouco favorável, na visão do Depec Bradesco, com o maior protecionismo provocando contração na economia mundial desde o 2º semestre de 2018. As novas tarifas protecionistas dos Estados Unidos devem contrair o PIB mundial no 2º e 3º trimestres.

O cenário de “menos crescimento e maior tensão comercial, juntamente com o comportamento contido da inflação, aumentou as apostas de corte de juros nos EUA”. O Bradesco espera duas reduções de 0,25 pontos percentuais pelo Fed este ano (o que abre espaço para quedas da Selic no Brasil). Na China, a desaceleração deve gerar mais estímulos governamentais à frente. Na Europa, também, devem vir estímulos via redução de juros e afrouxamento monetário.

Banco Central aumenta juros reais

Que o Banco Central no Brasil é dócil e subserviente ao cartel bancário todos sabem. Trocam os presidentes e os componentes do Comitê de Política Monetária, mas o excesso de conservadorismo prevalece.

Todo o país percebeu que as doses de arrocho monetário do Banco Central estão exageradas. A desculpa da incerteza fiscal (enquanto não se definir o impacto real da reforma da Previdência) é real. Mas muito mais real é a perda de fôlego da economia e o aumento da fila do desemprego.

Com o tombo da inflação, que já era esperada para maio e foi além das expectativas, com o IPCA subindo apenas 0,13 (metade da previsão do mercado na Pesquisa Semanal Focus, quem o BC colhe toda sexta-feira com uma centena de instituições financeiras, consultorias e institutos de pesquisas, a taxa anual caiu de 4,94% em abril para 4,66% em maio.

E deve descer mais de 100 pontos percentuais em junho, quando o índice de 1,26% de junho de 2018 (inflado pelos impactos da greve dos caminhoneiros) for substituído pela inflação deste mês (o mercado esperava taxa de 0,24%, que pode cair, depois da forte baixa dos alimentos e da queda dos preços dos combustíveis e da bandeira verde para a energia elétrica).

Se a inflação foi de 0,24% em maio, a taxa anual despenca de 4,66% para 3,60%. As projeções para os próximos 12 meses estavam em torno de 3,58% e podem cair um pouco também.

Como os juros básicos (taxa Selic) estão em 6,50% ao ano, o Banco Central terá de aceitar o ônus de elevar os juros reais se não baixar as taxas na rodada do Copom de 18 e 19 de junho ou de 30 e 31 de julho (a nova reunião seria apenas em setembro, quando todos esperam queda dos juros).

Vamos à conta do absurdo.

Em abril, com a Selic em 6,50%, o juro real (descontada a inflação de 4,94%) foi de 1,40%;

Em maio, com a inflação de 4,66% e a Selic estável, o juro real subiu a 1,72%;

Em junho, se a inflação descer a 3,60% e a Selic não cair, o juro real sobe a 2,8%;

Os monetaristas dizem, com certa razão, que a política monetária é feita olhando-se nove a 12 meses adiante. E a projeção para a inflação em junho de 2020 está abaixo dos 3,60%. Ou seja o juro real está muito alto.

Nenhuma economia pode avançar com o freio de mão puxado.

A própria reforma da Previdência, para dar certo, precisa que a economia cresça e gere empregos com carteira assinada para turbinar a receita do INSS.

Mas o BC se acomoda. Ou melhor, se acovarda (alegando que tem de controlar a moeda e esperar sinais de fortaleza no lado fiscal), e acaba agindo contra o principal objetivo da reforma, o de criar ambiente favorável e estável à retomada da economia. Um pouco de ousadia não faz mal a ninguém.

LCA vê cenário de deflação em junho

A LCA Consultores, uma das mais respeitadas consultorias de economia, vai mais além e prevê em sua análise diária desta sexta-feira, 7 de junho, que o “o IPCA caminha para deflação em junho”.

Se as projeções se confirmarem, o juro real vai explodir para 3%.

Um remédio mortal para uma economia à beira da recessão.