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PIB cai e força baixa da Selic a 5,75% este ano

Bradesco e Itaú projetam queda de 0,2% no 1º trimestre

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Após a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) manter na quarta-feira, 8 de maio, a taxa Selic em 6,50% ao ano, pela 9ª reunião seguida, alegando incertezas na área fiscal quanto à aprovação de uma reforma da Previdência robusta (acima de R$ 1 trilhão de economia em 10 anos), mas reconhecer que o fraco desempenho das atividades sugere medidas de estímulo (na quinta-feira o IBGE divulgou que o varejo cresceu apenas 0,3% em março), os dois maiores bancos privados do país, revisaram para baixo o PIB do 1º trimestre e o do ano e apostam que a Selic deve cair até 5,75% este ano.

A mudança da visão do Departamento Econômico do Bradesco foi a mais significativa. O Banco estava prevendo na última revisão de abril, um aumento de 1,9% no PIB deste ano, com queda de 0,1% no 1º trimestre e a manutenção da taxa de juros básica (Selic) em 6,50%. O Itaú, maior banco do país, já tinha reduzido em abril para 1,3% a projeção do PIB deste ano e previsto queda da Selic para 5,75% em 2019 e para 5,50% em 2020.

Para o Bradesco as “mudanças na comunicação do Copom [comunicado após a reunião] foram pontuais, mas indicaram haver espaço para futura redução de juros. Ainda que tenha reafirmado que a avaliação da dissipação dos choques que afetam a economia brasileira não será concluída no curto prazo, o BC reconheceu que a atividade econômica está mais fraca, em um contexto de núcleos de inflação comportados”

Para o Depec Bradesco, os dados divulgados após a reunião reforçam essa percepção. Com o crescimento das vendas do varejo em março, de 0,3%, “bem abaixo do esperado”, o banco revisou “a estimativa do PIB do 1º trimestre, de uma queda de 0,1% para outra de 0,2% na margem. No ano, a economia brasileira deverá crescer 1,1%”. O Itaú também ampliou a queda do PIB no 1º trimestre, de 0,1% para 0,2%. O IBGE vai divulgar o número no dia 30 de maio.

“Três quedas de 0,25 p.p. no 2º semestre”

Em sua análise semanal o Depec do Bradesco assinala: “reavaliamos nosso cenário e agora esperamos três quedas de 25 b.p. da taxa de juros no segundo semestre. Com isso, a Selic deverá chegar a 5,75% no final do ano, em um contexto de menor dinamismo da economia e de inflação comportada.

De fato, após o salto da inflação em março e abril, quando atingiu 4,94% em 12 meses (alta de 0,57%, menos que os 0,75% de março), a tendência de números mensais menores que os de maio, junho e julho de 2018, deve derrubar a taxa em 12 meses. O Itaú fez um estudo detalhado sobre a evolução na sexta-feira, 10, e assinala que a parte a surpresa dos alimentos em domicílio, que já estão também em queda, os preços dos serviços e os núcleos de inflação expurgados dos combustíveis e dos alimentos (que não são atingidos pelas taxas de juros) estão comportados.

Para Itaú, inflação não assusta

“Todas as medidas de núcleo seguem em trajetória bastante confortável. O indicador subjacente de serviços - que exclui itens relacionados a turismo, serviços domésticos, cursos e comunicação - subiu 0,38% em abril, acumulando alta de 3,7% em 12 meses. O indicador IPCA-MS – média aparada, com suavização de itens com reajustes pouco frequentes – subiu 0,37% no mês e 4,0% em doze meses e o IPCA-DP – dupla ponderação, com redução do peso de itens mais voláteis – subiu 0,40% no mês e 3,8% em doze meses”.

O estudo da economista Júlia P. Araújo, do Departamento Econômico do Itaú, comandado pelo ex-diretor do Banco Central, Mário Mesquita vai mais além e aponta uma inflação abaixo de 3% para o núcleo mais sensível às taxas de juros. “Da mesma forma, o IPCA-EX2 – núcleo que reúne componentes da inflação mais sensíveis ao ciclo econômico – subiu 0,41% no mês e acumula alta de 2,9% em 12 meses”.

A nossa projeção preliminar para o IPCA de maio aponta variação de 0,29% (0,40% em maio de 2018), enquanto as projeções para junho e julho estão em, respectivamente, 0,44% e 0,11% (contra 1,26% e 0,33%). Projetamos cenário de bandeira vermelha 2 nas contas de luz em junho e julho, embora a probabilidade de a bandeira ser vermelha 1 em junho tenha aumentado na margem”.

Como escrevi ontem aqui, na coluna, o Itaú não demonstra preocupação com a inflação, mas com o crescimento: “Considerando as nossas projeções, a inflação acumulada em doze meses atingiu pico nesta divulgação de abril (4,94%) e já inicia trajetória de desaceleração a partir dos próximos dados. Esperamos que a inflação recue para perto de 4,8% em maio e, em junho, uma vez que o dado de junho/18 seja expurgado da conta1, a inflação acumulada em 12 meses deve caminhar para um patamar próximo a 4%”.

Pesquisa de serviços vai marcar o tamanho do PIB

Setor mais importante da economia, representando 73% do PIB (somado ao comércio e às atividades financeiras), a divulgação do comportamento do setor de serviços pelo IBGE na próxima terça-feira é aguardada com grande expectativa para medir o tamanho do tombo da economia no começo do governo Bolsonaro.

O Itaú prevê queda de 0,4% na taxa mensal, “que se traduz em uma diminuição de 1,5% em termos de ano a ano”. O banco frisa que “o lançamento será importante para o rastreamento do PIB 1º trimestre de 2019 - nossa previsão atualmente aponta para um declínio de 0,2%".

A tendência será confirmada na quarta-feira pelo índice de atividade mensal do BCB (IBC-Br), o termômetro do PIB do Banco Central.

PIB fraco reduz receitas e aumenta cortes

A próxima semana será importante porque o governo também vai rever sua projeção do PIB para 2019. Se as contas oficiais caminharem na direção prevista pelo Bradesco (1,1%) e Itaú (1,3%) será um tombo e tanto na arrecadação anteriormente prevista, com crescimento de 2% no PIB.

Isso vai colocar mais urgência na aprovação de uma reforma da Previdência robusta, Mas, a desarticulação política do governo nas votações desta semana, sugere que o caminho não será fácil. A curto prazo, o PIB menor vai implicar ampliação nos cortes para os orçamentos de 2019. O Bradesco prevê déficit fiscal de R$ 125 bilhões, acima dos R$ 108,25 bilhões de 2018. Com PIB menor e déficit maior, pioram os indicadores de endividamento, que se aproximam dos críticos 80% do PIB.

Assim, o avanço na reforma da Previdência é a tábua de salvação. Não resolve a questão do déficit para 2019, 2020 e 2021. Mas sinaliza que a curva vai inverter em três ou quatro anos. Nas projeções do Bradesco, o déficit primário (receitas menos despesas, sem considerar os juros da dívida pública) já cairia para R$ 80 bilhões em 2020, primeiro ano de efeito da reforma previdenciária.