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Brasil pode ganhar com as desgraças alheias

Peste suína na China abre mercado para milho, soja e carnes

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Em tudo na vida há o outro lado da moeda. A tragédia de Brumadinho, com mais de 300 mortos e desaparecidos, paralisou boa parte da produção da Vale, criou um imenso passivo de indenizações, com perdas humanas irreparáveis, mas a alta dos preços do minério, em função da queda da produção, pode gerar mais faturamento. 

No setor agrícola, os efeitos da peste suína africana que ocorre na China, pode gerar déficit de 10 milhões de toneladas no mercado chinês (responsável por praticamente metade da produção e de 22% do consumo da carne suína exportada no mundo). Mas, na avaliação do Banco Itaú, podem resultar numa pressão altista para a carne suína e, (mais provável), sua substituição pela carne de aves (devido ao ciclo mais longo da produção ao abate da carne suína – 18 meses – contra os 40/45 dias da carne de frango).

Esta situação, segundo o Itaú, traz perspectivas muito positivas para a 2ª safra de milho (plantada após a colheita da soja no Centro-Oeste e no Paraná) e que é amplamente utilizada para a produção de rações animais. O Itaú prevê explosão na safra de milho pela combinação de demanda crescente com preços em alta. Por tabela, isso pode ajudar os caminhoneiros que se queixam do ganho menor no transporte do milho comparado à tonelada de soja, bem mais valiosa.

Em relação à soja, principal produto agrícola do país, responsável por 17% das exportações totais, as chuvas de fevereiro e março favoreceram o aumento da produção, que está em fase de colheita (pode haver perda menor que os 20% calculados em janeiro, para algo entre 8% e 5%).

Produto que também é plantado no Centro Oeste e no Oeste da Bahia, após a colheita da soja, o algodão continua a ganhar adeptos entre os produtores, principalmente na região Centro-Oeste. O Itaú está prevendo aumento de 25% a 30% tanto na área plantada quanto na produtividade das lavouras do Centro-Oeste.

Esse sopro no campo pode compensar parte da queda do faturamento na extração mineral e renovar o gás do consumo e produção de bens e serviços. O Itaú alerta que o crescimento do consumo e a consequente maior confiança dos empresários após o processo eleitoral caíram por terra diante da realidade de 2019 e diz que “alguns varejistas já estão preocupados com a tendência decepcionante dos últimos meses”.

O Itaú destaca que o varejo vive duas realidades: no segmento de bens de maior valor, que dependem de financiamentos, a “recuperação é mais robusta, impulsionada pela expansão do crédito a pessoas físicas” [para automóveis e imóveis de classe média]; para o segmento de bens de pequeno valor, que dependem do aumento da renda (salários e emprego), as perspectivas são preocupantes.

Itaú: PIB de 1,3% em 2019, só cresce com reformas

Para o Itaú, que está prevendo aumento do Produto Interno Bruto (PIB) de apenas 1,3% este ano (até março previa 2%), contra os 1,7% previstos esta semana na Pesquisa Focus do Banco Central, e que foi projetado como estimativa do ano (pelo mercado) em palestra do presidente do BC, Roberto Campos Neto, sexta-feira, 26, em São Paulo, durante palestra no Brasil Day do Eurasia Group, a economia só volta a crescer com a aprovação da reforma da Previdência.

Ainda assim, reduziu a precisão de crescimento de 2020, de 2,7% para 2,5%, a mesma que o mercado está adotando.

Banco aposta em queda da Selic e reforma tributária

Com a aprovação da reforma da Previdência, no segundo semestre (setembro é a previsão do presidente da Câmara, Rodrigo Maia), o Itaú acredita “ que a atividade deve ganhar ritmo, beneficiando a economia em termos gerais. Os cortes de juros previstos (após a reforma) também devem reforçar a melhoria das condições financeiras observada em 2018”. O Itaú prevê que os juros caiam dos atuais 6,50% ao ano a 5,50% em 2019.

Para o economista chefe do Itaú, Mário Mesquita, que foi diretor de Política Monetária do Banco Central, “uma vez aprovada a reforma do sistema, podemos esperar uma reforma fiscal para se tornar o foco da agenda econômica. Mesmo que, em nossa opinião, não há espaço para cortes de impostos, sem comprometer a sustentabilidade das contas fiscais, há amplo espaço para uma simplificação fiscal (muito bem-vindo), que elimina burocracias e reduz a complexidade e o tempo perdido para pagar impostos.

O Itaú cita estudo que mostra a importância da redução da burocracia (reformas microeconômicas) para impulsionar os investimentos e os negócios dos micros e pequenos empreendedores, com “impactos positivos significativos sobre o ambiente de negócios e no nível de renda do país”. Aliás, é uma das medidas que o governo Bolsonaro adotará esta semana, anunciou ontem o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

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