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Previdência anima mais que boletim médico

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O mercado financeiro passou por um leve tremor de susto ontem entre as 16 horas (quando circularam rumores de complicações na saúde do presidente Jair Bolsonaro) e as 17 (quando o porta-voz do governo, general Otávio Rego Barros confirmou problemas médicos que adiaram a alta no 3º pós operatório de Bolsonaro). Lembrei da agonia de Tancredo Neves, que morreu em abril de 1985, ao 75 anos, dois meses após ser operado de abcesso supurado no abdômem, que escondera para garantir a posse do 1º presidente civil após 21 anos de ditadura militar.

As circunstâncias são outras. Meio reversas. Três décadas após a Constituição de 1988, os militares voltam ao poder pelos votos de um deputado federal, ex-capitão reformado, que tem um general como vice, vários generais e almirantes no governo e nomeia um general como porta voz, função que teve como último ocupante militar o coronel Otávio Costa, no governo Médici. Bolsonaro é bem mais atlético e forte que Tancredo e a expectativa de vida dos brasileiros avançou para 78 anos, motivo do aumento da idade mínima da Previdência para 65 anos para ambos os sexos, segundo a minuta a ser enviada ao Congresso.

Os negócios com dólar fecharam às 17 horas sem refletir o temor, subindo 0,33%, a R$ 3,6799. Na Bolsa, houve euforia após a divulgação da minuta. Mas o Ibovespa, que chegou a bater em 98.549 pontos às 17 horas, teve leve queda e reagiu no fim do dia fechando a 98.588,63, com alta de 0,74%.

Lidar com juros, uma eterna dor de cabeça no Banco Central

Enquanto não se define a data marcada para a sabatina, pelo Senado, do futuro presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e dos dois diretores indicados, João Manuel de Mello e Bruno Fernandes, como combinado, Ilan Goldfajn dá início hoje ao 1º dos dois dias de reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Ilan, que assumiu o BC em julho de 2016, com a taxa Selic (juros básicos da economia) a 14,25% ao ano, baixou para 6,50% (queda de 58,3%). Foi a maior queda da história recente do BC. Mais pela supersafra agrícola de 2017 que derrubou os preços dos alimentos, a queda do petróleo e o baixo crescimento da economia que méritos do BC. Nem todos os presidentes, desde a criação do regime de metas da inflação, em fevereiro de 1999, que substituiu a banda cambial, tiveram tanta sorte. Armínio Fraga teve de elevar os juros para 45% ao ano e entregou a 25% (queda de 44%). Henrique Meirelles assumiu em janeiro de 2003, elevou a Selic, de cara, para 25,50% (chegou a 26,50), mas deixou o BC em 2010, com 10,75 (-57%). Alexandre Tombini, no governo Dilma, pilotou a Selic como um io-io. Subiu e desceu (na crise mundial de 2008-09) e entregou a 14,25% (alta de 32%). Campos Neto parece ter um ano de 2019 calmo. As apostas são de taxa estável. Mas, se ficar até 2022, no mandato do atual governo, a taxa já subiria para 8% ao ano (+23%), na previsão da Pesquisa Focus do BC. O pior que pode acontecer é ficar careca, como os antecessores. E os juros bancários mais cabeludos...