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Um encontro marcado com o futuro

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Há momentos na história em que somos chamados para protagonizar um embate e por vezes, somos forçados a tomar um posicionamento que exige uma ação que implica em um eventual desempate entre opções. Esse momento ordena que façamos uma escolha entre mundos alternativos, formas de vida e preferências de caminhos.

A construção de uma realidade a partir de escolhas individuais é um tema de difícil compreensão, pois é sempre envolta em paixões, sentimentos de pertencimento a grupos e tribos e escolhas que envolvem uma certa cegueira deliberada.

Política envolve fervor ideológico, visões particulares, compreensões de realidades sujeitas a preconceitos e valores inseridos em um conjunto de convicções que expressam o posicionamento de pessoas, enquanto cidadãos e atores políticos, que passam por estratificações de classe, raça, gênero, formação educacional, aprendizado vivencial, apego e servidão a credos e sensações exotéricas.

As eleições do último domingo foram marcadas pelo encontro infeliz entre a desesperança, o oportunismo, a raiva e o ódio, com a maior crise econômica do século XXI. A aversão às práticas ampliadas de corrupção, impotência contra a violência diária e os efeitos do desalento provocados pelo desemprego, aliado à ampla desmoralização de partidos e da política, foram, de fato, os verdadeiros protagonistas do processo eleitoral.

A insegurança gerada pela crise econômica causou o sentimento perverso do medo, e, como sabemos pelas lições da história, quando uma sociedade entra em pânico, com os fantasmas das ameaças reais e invisíveis entrando nas mentes de um amplo espectro da população, a sensação de fragilidade social compele grupos da sociedade a optarem por posturas defensivas e que aceitem a troca entre preceitos e direitos inseridos em um código moral por alternativas carregadas de uma matiz autoritária e a negação de contradições e diferenças.

Se o caro leitor chegou até essa parte do texto, deve estar se perguntando o que este escriba, uma mistura de economista e jornalista, com lampejos de cientista social, está de fato querendo dizer? Por que tanta mesura e cuidado com as palavras em um momento tão delicado, em que o destino do país está inserido em tanta bruma e incerteza?

A resposta, caro leitor, está na necessidade de reflexão, do exercício cuidadoso com a análise da realidade e na defesa da preservação da capacidade de análise, elementos que o bom exercício da atividade exige. Em defesa da honestidade intelectual, somos obrigados a compartilhar dúvidas e a fazer reflexões que podem carregar doses de cautela.

O Brasil que sai das urnas

O Brasil que ontem, segunda-feira, saiu das urnas é, em boa parte, um país que encerra uma enorme contradição. De um lado, carrega a manutenção de apenas parte de uma classe política envolta em desconfiança e descrédito, já que as eleições legislativas contribuíram para a mudança no cenário de privilégios e distanciamento da realidade que envolve o atual Congresso Nacional. De outro, apresenta um mundo em construção fruto de um amplo processo de extermínio de políticos tradicionais, o Novo Congresso que sai das urnas, por ser mais conservador e difuso, tenderá a dar amplo apoio ao eventual governo de JMB, assegurando ampla governabilidade em bases alheias ao fisiologismo de coalizão

Como vimos, a esperada renovação de bancadas e de lideranças ocorreu de forma não esperada para alguns, e diversos personagens e atores que nos acostumamos a reconhecer como tradicionais figuras recorrentes de velhas práticas fisiológicas não foram reconduzidos, tendo deixado o palco das decisões políticas pelas portas do fundo do congresso nacional.

De outro lado, a divisão e a polarização nas eleições para a Presidência da República reflete um país em que a maioria de sua população tem uma noção dos acertos com seu destino, compreende de forma clara as responsabilidades de ou por suas escolhas e consegue demonstrar coerência entre suas manifestações verbais e suas práticas.

Não estamos aqui de forma alguma questionando a democracia e tampouco a soberania da vontade popular.

O exercício do direito ao voto e a defesa dos valores democráticos são princípios universais inalienáveis.

A vontade da maioria é o norte que rege o pacto constitucional, da mesma forma que a preservação e o respeito pelas minorias são cláusulas incontestes desse pacto.

O que estamos em síntese dizendo é que os próximos dezoito dias vão exigir uma profunda reflexão da sociedade sobre o que realmente é relevante e crucial para o nosso futuro enquanto nação, sobre o que queremos ser e sobre que mensagem gostaríamos de mandar para o futuro.

Talvez muitos entendam que nenhuma das opções disponíveis para o próximo dia 28 seja a ideal. Mas o brasileiro tem um encontro marcado com seu destino; tem o dever de se posicionar frente a história.

Nesses próximos dias, cada brasileiro e brasileira deverá refletir sobre a importância da sua escolha, sobre o que desejam para suas vidas e as de seus filhos, sobre a sociedade que querem construir, sobre o Estado que esperam viver, sobre os direitos que desejam preservar e sobre o mundo que anseiam construir.

A princípio o segundo turno da eleição presidencial, no próximo dia 28, já está definido e por maioria consistente. Um verdadeiro tsunami, abateu tradicionais líderes políticos e redesenhou o mapa político nacional, uma chama de renovação foi alimentada pela vontade popular. Cabendo destacar a atrofia de partidos tradicionais e a excomunhão de tradicionais líderes de matilha. Esperamos que esse avanço, represente de fato um maior compromisso dos eleitos com os anseios da população.

Na economia, nos próximos dias a bolsa de valores vai sofrer forte valorização, a taxa de câmbio vai se apreciar em relação ao dólar e um cenário externo positivo vai ser construído.