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O que podemos esperar do próximo governo?

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A menos de uma semana para a eleição de primeiro turno para a presidência, duas perguntas devem estar martelando a cabeça do eleitor a cada vez que ele reflete sobre o tema. Afinal, o que está em jogo no processo eleitoral? O que podemos esperar do novo governo e o que de fato o próximo governante e o congresso eleito podem fazer?
A resposta para a primeira pergunta depende da situação da economia que for deixada pelo atual governo e dos compromissos pactuados no segundo turno entre as bases do próximo governo e o governante eleito.
A herança do atual governo, em parte, já é de conhecimento público, ao longo dos últimos dois anos. O governo Temer desenvolveu alguns mecanismos legais de controle de gastos, deu uma relativa estabilidade no nível de confiança da economia, proporcionou, com sua política monetária, uma conjunção favorável de elementos que acabaram por reduzir a taxa de inflação, em grande parte gerada pelo alinhamento de preços e o reajuste de tarifas patrocinadas pelo governo anterior, tarefa esta que, em tese, teria conferido um prêmio aos detentores de títulos públicos, na medida em que a taxa de juros (Selic) praticada pela antiga gestão do Banco Central do Brasil incorporava um simples realinhamento de preços relativos e um choque na taxa de câmbio, fruto da perda de confiança na capacidade do antigo governo de implementar políticas macroeconômicas consistentes.
A bem da boa análise econômica, o desastre da gestão anterior proporcionou uma situação de fragilidade macroeconômica, de tal nível, que somente o choque de gestão inicial do governo Temer já proporcionou uma mudança de cenário, fato que contribuiu para uma relativa estabilidade no primeiro ano de seu governo, mas nada tem a ver com a suposta qualidade de gestão atribuída ao ex-Ministro da Fazenda (Henrique Meirelles), que, como percebemos agora na campanha eleitoral, é um ser dotado de um ego e de uma visão heliocêntrica do mundo, que faz lembrar alguns personagens da literatura fantástica.
A herança do governo Temer será uma salada de frutas composta por déficit público ascendente, inflação potencial superior aos 4,5% deste ano, por conta do atual choque na taxa de câmbio e do futuro realinhamento no preço dos combustíveis, investimento público praticamente zerado e enorme taxa de desemprego, com perda de produtividade crescente.
No cenário externo, o quadro de relativa calmaria que vigorou ao longo dos últimos anos pode sofrer reversão em duas frentes. No comércio exterior, a eventual prática de políticas protecionistas por parte de parceiros comerciais com impacto sobre o fluxo de comércio global e possíveis queda na taxa de crescimento da economia mundial e alta expressiva no preço do petróleo ao longo do primeiro semestre de 2019 .
O segundo item de importância no cenário externo para 2019 repousa no alinhamento esperado da curva de taxas de juros nos Estados Unidos e na Europa, o que pode contribuir para uma elevação de alguns pontos percentuais na taxa de juros doméstica (Selic).
Nesse cenário, uma eventual recuperação na taxa de crescimento da economia brasileira ao longo de 2019 e 2020 pode até ocorrer, mas em valores bem modestos, algo próximo aos 2,50% a.a., sendo pequena a probabilidade de recuperação significativa nos índices de emprego e na ocupação da capacidade produtiva.

A Presidência da República: um símbolo de unidade

A economia brasileira ao longo dos últimos anos sofreu um grande processo de destruição de capacidade produtiva e de criação de emprego, por conta de um longo ciclo de recessão, fruto de incontáveis erros de formulação e gestão, o que proporcionou o atual estado de anomalia e disfuncionalidade.
Qualquer que seja o próximo presidente, dificilmente teremos nos próximos anos uma reversão consistente desse quadro sem que a questão de fundo da reforma do Estado seja de fato implementada. Trata-se de um enorme leque de ações que partirão de um choque de gestão no serviço público, com a eliminação de cargos, vantagens e privilégios de castas de empoderados membros de redutos do estamento burocrático, para usar uma linguagem weberiana. A esse conjunto de ações soma-se a necessidade de revisão nas fontes de despesas obrigatórias da União (pessoal e previdência) e dos serviços da dívida pública, o que incorpora uma Reforma Fiscal e Previdenciária e a redução do nível de endividamento público.
Nesse contexto de razoável realismo, nossa opinião é a de que, sobre a ótica da recuperação da atividade econômica, não é crível esperar grandes milagres de seu candidato à presidência da república. Desconfie daqueles que apresentam planos mirabolantes e soluções escatológicas, com promessas fáceis e passagens tranquilas pelo mar das tormentas que ainda podemos enfrentar.
O verdadeiro embate em curso nessa campanha eleitoral é a garantia da continuidade do processo democrático e do estado de direito, com a consolidação dos preceitos das garantias individuais e o respeito ao texto constitucional.
O bom candidato é aquele que assegure, a despeito da enorme divisão em curso na sociedade brasileira, e apesar da presença de fortes diferenças e visões alternativas para a sociedade brasileira e ao país. A certeza que os “diferentes” não serão perseguidos, a tolerância será defendida, a pluralidade será preservada, as identidades serão reafirmadas e as opções pessoais de qualquer espécie serão garantidas e a inclusão social será um compromisso .
O Brasil continuará a ser uma sociedade aberta, plural, solidária, receptiva aos imigrantes, voltada para a luta contra às desigualdades e compromissada com o combate a toda e qualquer forma de preconceito e exclusão.
O próximo governo terá obrigatoriamente que estabelecer diálogo com um espectro amplo da sociedade. Necessariamente deverá pacificar o país e restabelecer regras republicanas de governo de convívio entre os poderes da República, da mesma forma que obrigatoriamente deverá fomentar símbolos e valores que transcendam o curto prazo.
Como disse Barack Obama, em entrevista ao apresentador David Letterman,
“A imagem de um presidente da república é algo que transcende a capacidade de aprovar leis, estatutos, ações, planos e programas contidos em um mandato. Um presidente da república deve ser uma espécie de farol que irradia elementos simbólicos, valores cultivados e cultuados, que em conjunto ajudem a criar um país melhor e uma sociedade comprometida com a solidariedade intergeracional, internacional e a defesa da justiça para os (excluídos) .”
Se o seu candidato representa tais compromissos e expressa tais convicções, no próximo dia sete de outubro, digite o NÚMERO dele e a seguir a tecla CONFIRMA, sem medo e sem susto.