ASSINE
search button

Polarização, radicalismo e emoções

Compartilhar

A história segue seu curso, ora amparada pelo acaso, outras pela desfortuna, momentos e fatos distantes, podem produzir efeitos conexos. O infeliz e lamentável atentado contra a vida do candidato à presidência da república pelo PSL, ocorrido na cidade de Juiz de Fora, no último dia seis de setembro, pode vir a ser o fator decisivo para o resultado das eleições de 2018.
Tem distante e nenhuma semelhança ao ocorrido com o jornalista Carlos Lacerda no dia cinco de agosto de 1954, incidente que provocou a morte do major da aeronáutica Rubens Vaz, contudo, a tentação de aparência entre fatos isolados sem qualquer relação no tempo e no espaço, pode no entanto, se usado de forma impropria, vir a produzir uma centelha, capaz de provocar um grande incêndio na política nacional. O fato ocorrido no passado, tem autoria conhecida e explicação clara. O presente, tem características de um ato isolado de um “lobo solitário” tocado por algum processo de desequilíbrio emocional e psíquico.
De alguma forma, a agressão física e a tentativa de supressão a vida do candidato do PSL, pode estimular no imaginário de uma parte dos eleitores teses conspiratórias e estimular no seio dos indecisos, uma manifestação de preferência semelhante ao ocorrido na prisão do ex-candidato do PT.
A sociedade por diferentes formas, tende a produzir apreço e comoção com vítimas de atentados e de atos de violência, seja física, seja aquela patrocinada pelo estado, sobre a forma de perseguição.
O sentimento de perseguição e injustiça que pauta a campanha do ex-presidente da República e ex-candidato do PT, alimentado pela narrativa de admiradores, deve ser encarado em processo democrático, como algo legítimo em suas aspirações, e analisado enquanto experimento político como um elemento simbólico de resistência e luta por parte de seus seguidores, que ao longo dos últimos meses, sofreram agressões e violências verbais e físicas.
Fatos que podem ajudar a explicar, em parte, a enorme popularidade do ex-candidato à presidência e a preferência majoritária nas pesquisas de intenção de votos, não se tratando somente de uma alegada volta aos anos dourados da era Lula, há pelo eleitorado a sensação de perseguição e de vitimização.
O clima de ódio e confrontação alimentado nas redes sociais e, infelizmente, refletido em alguns meios de comunicação, podem ser responsáveis pelo ambiente de intransigência e polarização. Na medida que setores conservadores, tentam enquadrar o atual momento à narrativa semelhante aos idos de 2016.
Ocorre que para desconforto da história uma tragédia produz efeitos imediatos e inesperados. O atentado contra a vida do candidato do PSL pode vir a ter o efeito de provocar um enorme sentimento de comoção e solidariedade legítima em boa parte do eleitorado ainda indeciso e com impacto concreto nas intenções de voto em outubro próximo.
O voto, para usar a linguagem do Professor de Sociologia da UFRJ, Paulo Baia, tem um forte componente de “afeto”, de identidade e solidariedade.
O voto, não é somente uma escolha entre alternativas, encara uma componente de paixão, de identidade, de compensação, em muitas vezes um ato de retribuição. Esse componente passional, presente em situações de grande tensão emotiva, pode acabar por contribuir para que o candidato do PSL, agora vítima inconteste, assuma a liderança folgada nas intenções de voto no primeiro turno.
O que exigiria a construção imediata de uma alternativa de “concertação/ conciliação“ entre os candidatos do segmento democrático progressista, em outras palavras - as pedras, vão se mover no tabuleiro dos arranjos partidários, o maior perdedor deverá ser o candidato da coligação liderada pelo ex-governador de São Paulo.
Na economia, não se deve esperar nada além de estagnação, manutenção da taxa de inflação declinante, possível valorização dos ativos reais e alta volatilidade no câmbio. O mercado financeiro e os principais setores do empresariado, por gravitação, tenderão a ser atraídos a cada dia para a orbita do candidato do PSL, na medida em que o candidato à vice-presidência, General Hamilton Mourão, passe a ganhar maior destaque na campanha e no embate político.
A cidade de Juiz de Fora, volta a ter protagonismos nacional, sede de fatos e atos que por extensão no tempo, pode vir a produzir conexões entre gerações e a história nada republicana dos anos 60.

O falso novo: o risco das mensagens escondidas

Periodicamente o Brasil é tomado de assalto por surtos de apelos moralistas e proposições categóricas carregadas de mensagens cujo conteúdo anuncia um credo, que, quando analisadas em dimensão histórica, nada mais são do que conceitos e velhas proposições envelopadas com uma aparência de algo que, em essência, nada tem de “novo”, sendo apenas um fantasma, um espectro de formas anacrônicas embalado de uma linguagem recheada de preconceitos e valores subalternos, em destaque a apresentação de tradicionais ideias conservadoras que, alimentadas pelo uso de elementos simbólicos, muitas vezes permeados de um linguajar tido como “liberal”, na verdade são o oposto, pois encarnam em suas teses um certo elitismo anacrônico impregnado de oportunismo contido no apelo fácil a demandas incontidas de uma parcela da “classe média” ressentida pelo abandono das políticas públicas que oferecem amparo a seus privilégios seculares.
Esse segmento em ascensão tem condições de incorporar sopros do velho espírito udenista tão afeto às famosas professorinhas de Copacabana que, juntas com as normalistas do Instituto de Educação, e os segmentos moralistas constituíram a ponta de lança do lacerdismo dos anos 60.
Mesmo que carentes de votos, rufa o tambor dos indignados com o que chamam de tamanho exagerado do Estado , tem agregado simpatizantes que aliado aos discurso que atribui os males do Brasil, as mazelas da política partidária e da democracia, doenças alimentados pela alegação da existência de uma ignorância crônica do eleitor, uma espécie de anomalia cognitiva afeta aos que não apoiam suas propostas, e, por fim, a destacar o profundo desprezo que nutrem por tudo que simbolize a figura daqueles que, no íntimo de seus pensamentos, representam o “ignóbil” povo brasileiro.
Sim, para esse grupo, a verdadeira causa da dificuldade em dar amplitude aos seus ideários e da falta de maior densidade eleitoral reside na “bestialidade” das massas, esse pequeno detalhe que separa seus admiradores e correligionários de um mundo semelhante ao padrão, encontrado no universo ideal da fantasia, extremo de um território sem lei e controle, que, ao seu juízo, não passa de espaço de convergência para os horrores do bolivarianismo, templo da ignominiosa bandeira vermelha.
No plano das ideias, o embate ideológico toma forma de química salvadora, remédio milagroso, cuja prescrição não apresenta o risco da existência de efeitos colaterais, pois o desemprego e a existência de larga desigualdade são resultados de um darwinismo social que soube, pela seleção natural, premiar os mais capacitados, deu espaço aos mais aptos e selecionou espécies e vencedores.