O OUTRO LADO DA MOEDA
Efeito Jefferson = derrota; bolsa cai e dólar sobe
Publicado em 24/10/2022 às 14:19
Alterado em 24/10/2022 às 14:19
O efeito Roberto Jefferson, que resistiu com tiros de fuzil e granadas aos policiais federais que foram à sua casa, em Levy Gasparian (RJ), cumprir a ordem de prisão do ministro do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, pelos insultos à ministra do STF e do TSE, Cármem Lúcia, foi interpretado pelo mercado financeiro como devastador às chances de reeleição do presidente Jair Bolsonaro.
O mercado vinha se animando desde o final do 1º turno com as melhoras da avaliação do governo Bolsonaro, que aumentavam as chances de crescimento da votação no presidente neste 2º turno. Na semana passada o dólar (que fechara em R$ 5,41% à véspera do 1º turno) chegou a cair mais 3,19%, a R$ 5,16 na 6ª feira, 21 de outubro. Hoje subiu 2,81% na abertura dos negócios, chegando a R$ 5,29. E o índice Bovespa, que subira 2,35% na 6ª feira, quando fechou em 1119.928,79 pontos, hoje caía 2,23% às 11h30, tendo atingido a mínima do dia em 116.950.11 (baixa de 2,81%).
A Genial Investimentos, que patrocina as pesquisas semanais do Instituto Quaest, chegou a indicar, 6ª feira passada, que a alta recente da bolsa e a queda do dólar ainda não precificavam a “possível vitória de Bolsonaro”. Hoje, em seu Boletim Diário, ainda falava do cenário pró-Bolsonaro: “Segundo as pesquisas, está ocorrendo importante melhora na avaliação do governo Bolsonaro, uma redução da rejeição ao presidente e diminuição do medo de que ele consiga se reeleger. Ao mesmo tempo, a rejeição ao ex-presidente Lula está em elevação e o sentimento anti-petista já ultrapassa o sentimento anti-Bolsonarista”. O texto fora escrito antes da abertura dos mercados.
Jefferson joga balde de água-fria
O devastador efeito dos ataques grosseiros do ex-deputado federal Roberto Jefferson, que mesmo estando em prisão domiciliar (por motivos de saúde, pois padece de câncer), tentou concorrer à presidência da República, barrada, a candidatura pelo TSE, assumiu o posto o seu vice, o padre Kelmon, que fez notória dobradinha com o presidente Bolsonaro contra Lula no debate da TV Globo) foi ganhando contornos mutantes nas redes sociais e na opinião pública, à medida em que os fatos da resistência à prisão (inicialmente relatados pelo próprio Jefferson) vieram à tona no noticiário das TVs.
De início, após tem criticado na véspera o rigor da ordem de prisão de Alexandre de Moraes contra Jefferson, Bolsonaro postou no Twitter, às 13:40, uma mensagem que dava uma no cravo e outra na ferradura:
“Repudio as falas do Sr. Roberto Jefferson contra a Ministra Carmen Lúcia e sua ação armada contra agentes da PF, bem como a existência de inquéritos sem nenhum respaldo da Constituição e sem a atuação do MP”.
Logo em seguida, em outro Twitter, no mesmo horário, avisa:
“Determinei a ida do Ministro da Justiça ao Rio de Janeiro para acompanhar o andamento deste lamentável episódio”.
Vale dizer que no começo da tarde as manifestações contrárias ao ato terrorista de RJ, já dominavam as redes e os blogueiros bolsonaristas começavam a mudar o tom.
Na primeira avaliação de que o uso de granadas e tiros seria explorado ao máximo pela campanha do PT, fez Bolsonaro mudar o tom.
Primeiro, fez questão de dizer que não tinha fotos com Roberto Jefferson (fato imediatamente desmentido nas redes sociais e sites importantes com fotos recentes com o ex-deputado - os dois se conheceram na Câmara e ficaram amigos). Mas os tuites e blogs bolsonaristas tentaram relembrar a união de RF com Lula e José Dirceu que deu origem ao inquérito do mensalão.
Precaução de Bolsonaro
O ministro da Justiça, que teria sido deslocado para o Rio de Janeiro, na verdade pouso em Juiz de Fora, distante 50 kms de carro e a menos de uma hora, de onde comandava a operação. O governo esperava que passando das 18 horas, a prisão não seria executada ontem.
Acontece que o ato de resistência de Roberto Jefferson configurava novos crimes (um preso domiciliar não podia ter armas, granadas e vasta munição em casa) e os disparos de tiros e granadas foram caracterizados por Moraes como “tentativa de homicídio”, com ferimentos nos dois policiais federais.
Por isso, no final da noite Bolsonaro se manifestou em vídeo, pelas suas redes sociais afirmando que “Quem atira em policiais federais é bandido e deve ser tratado como tal”. A classe policial era um dos grandes aliados do presidente.
Uma guinada e tanto, que desconcertou seus apoiadores nas redes sociais. A ponto do blogueiro Allan dos Santos, um dos alvos dos inquéritos de Moraes contra as redes de “fake News” ter rompido hoje com Bolsonaro, acusando-o de ser subserviente a Alexandre de Moraes.
Como se percebe, a reação de Roberto Jefferson parece externar o que poderia ser a reação dos fanáticos bolsonaristas a uma derrota no domingo.