O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

O OUTRO LADO DA MOEDA

PIB do Banco Central já cai em agosto

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Publicado em 17/10/2022 às 16:14

Alterado em 17/10/2022 às 16:14

Gilberto Menezes Côrtes JB

O IBGE só divulgará o do PIB do 3º trimestre (julho a setembro) em 1º de dezembro, mas o dado do IBC-Br (o indicador antecedente do Banco Central sobre o PIB) de agosto, ao mostrar surpreendente queda de 1,1% em relação a julho, o dobro da previsão mais pessimista que era de queda de 0,6%, pela LCA Consultores, reforça a desconfiança sobre a segurança recente do indicador de serviços da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do IBGE. No cálculo final do PIB, o setor de serviços pesa aproximadamente 70%. Mas as pesquisas mensais do IBGE auscultam duas áreas importantes do PIB de serviços (a pesquisa mensal de comércio, que reponde por cerca de 14% do PIB) e a PMS, que abrange cerca de 38% do PIB final. O IBC-Br faz uma aproximação maior do PIB efetivo. Daí a desconfiança. O Itaú previa queda de 0,10% no IBC-Br. Só O Santander acertou a queda de 1,1%.

Diante da demorada paralisação, durante a pandemia, do segmento de serviços, que tem a maior fatia do Produto Interno Bruto brasileiro, houve profunda modificação no universo pesquisado (sobretudo hotéis, restaurantes e atividades relacionadas ao lazer). No Rio de Janeiro, a capacidade operacional da rede hoteleira encolheu fortemente no Centro, na Zona Sul e na Barra. Muitos hotéis estão sendo reformados para virar residenciais. Em nenhum setor houve tanto fechamento de unidades e mudança de razão social quanto no de serviços. Diante das sucessivas revisões dos dados nas pesquisas mensais (PMS), algumas dúvidas assaltam os analistas econômicos: estaria a amostra do IBGE representativa do desempenho do setor? Por que tantas bruscas oscilações nos diversos subitens?

O Bradesco, um dos bancos privados menos críticos ao governo Bolsonaro, se declarou surpreendido com o crescimento de 0,7% no “volume de serviços na margem, ligeiramente acima da nossa projeção (0,5%) e da mediana das expectativas do mercado (0,2%)”. O resultado positivo, explica, foi reflexo do bom desempenho dos serviços prestados às famílias, serviços de informação e comunicação e outros serviços. Com isso, o setor de serviços permaneceu em alta ao longo do 3º trimestre, mantendo a dinâmica recente de oito trimestres consecutivos de crescimento. Para o Bradesco, os efeitos da reabertura econômica, o mercado de trabalho aquecido e o crédito têm contribuído para o bom desempenho do setor. Por isso, o Departamento de Estudos Econômicos espera crescimento de 0,6% do PIB no 3º trimestre.

Como a produção industrial caiu 0,60% na pesquisa do IBGE, as vendas do varejo caíram 0,1% no varejo restrito e 0,2% no varejo ampliado (que inclui veículos, autopeças e material de construção, bens comprados a crédito), o dado do IBC-Br do Banco Central teria captado uma queda maior na agropecuária e nos segmentos de serviços não medidos na PMS (caso dos serviços financeiros e de seguros e nas atividades imobiliárias). Quem acompanha esta coluna sabe que venho pedindo explicações ao IBGE para tantas e profundas revisões nos dados divulgados mensalmente na PMS.

Na China, o PIB foi adiado

A desconfiança no Brasil cresce porque estamos na reta final da campanha eleitoral. Como é sabido, o governo, com apoio do Congresso, driblou todos os limites do teto de gastos, invocou situação de emergência econômica (que não bate com a exuberância alardeada pelo desempenho do PIB), só para aprovar um pacote temporário (até 31 de dezembro) de R$ 100 bilhões em reduções temporárias de impostos e distribuição de mais de R$ 42 bilhões aos eleitores. A enxurrada de medidas, com a antecipação do pagamento do 13º dos aposentados e pensionistas para maio e junho (não haverá distribuição para o Natal), além de liberação de saques do FGTS até R$ 1 mil, turbinou o PIB no 2º trimestre, quando houve expansão de 1,2%. O pacote das benesses iria turbinar o PIB neste 2º trimestre. Mas o efeito do freio de mão puxado pelo Banco Central (a taxa Selic chegou a 13,75% ao ano em julho e deve continuar assim até o fim do ano e possivelmente até o fim do 1º semestre de 2023, já está desacelerando a economia antes mesmo do 2º turno.

Governos, em todo o mundo, se apressam a divulgar boas notícias e retardam ou escondem as negativas. Vejam o caso da China. Para não estragar o clima de celebração do 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (partido único) que autorizaria um 3º mandato para o presidente Xi Jinping, a partir do ano que vem, juntamente com o comando da PCC e do Exército do Povo, superando em longevidade o poder de Mao Tsé-Tung, o governo adiou de hoje para amanhã ou depois o anúncio do PIB chinês no 3º trimestre. Todas as indicações são de forte contração, em função dos sucessivos “lockdowns” impostos pelas autoridades sanitárias do país para combater os sucessivos surtos das novas variantes da Covid-19. A meta de crescimento deste ano, fixada pouco acima de 5,3%, foi abonada ainda no 1º semestre, para 3%. Mas agora, a última previsão é de avanço de só 2,8%. E pode piorar (daí o adiamento do anúncio para não esvaziar o discurso de Xi Jinping).

Para 2023, a previsão caiu de 4,9% para 4,5%. Tirando o desastre de 2020, quando o impacto da Covid-19 nos grandes mercados consumidores dos produtos “made in China” (Estados Unidos, Europa, Japão e Sudeste da Ásia) fez o PIB chinês crescer apenas 2,3% (com recuperação de 8% no ano passado, este é o menor desempenho desde as reformas liberalizantes da economia implementadas por Deng Xiao Ping, no final do século passado, que abriu as portas para o vigoroso crescimento econômico chinês. Desde então, nem na crise financeira mundial de 2008-09 o PIB chinês chegou a desacelerar tanto.

No Brasil, mercado vê tombo em 2023

Já a Pesquisa Focus divulgada hoje pelo Banco Central, com previsões colhidas junto a mais de uma centena de instituições financeiras, consultorias e institutos de pesquisa, até a última 6ª feira (14 de outubro), aponta crescimento de 2,71% a 2,72 (mediana dos últimos cinco dias úteis) para o PIB deste ano (só no 1º semestre houve crescimento de 2,5%). Entretanto, passado o efeito do pacote eleitoral para turbinar a economia para a eleição, (o IBC-Br já iniciou perda de ímpeto em agosto, quando começaram a ser pagos o novo Auxílio Brasil de R$ 600 e os vales mensais de R$ 1 mil a caminhoneiros autônomos e taxistas). O Bradesco ainda prevê crescimento de 0,6% no 3º trimestre, mas o consenso da Pesquisa Focus aponta alta de apenas 0,59% no PIB de 2023 (+0,70% nas previsões dos últimos dias úteis).

O Santander reviu para cima a alta deste ano (agora estimada em 2,8%) e reviu as projeções para 2023: em vez de uma queda de 0,2% no PIB, agora espera evolução de 0,7%. De qualquer forma, uma desaceleração de 75% frente aos 2,8% deste ano.

A desaceleração da economia tornará a operação do novo governo bem mais complexa, pois a forte aceleração da arrecadação (derivada da combinação de PIB mais forte com inflação mais acelerada dos preços dos combustíveis e na energia, que permitiu ao governo fazer tão elevadas desonerações tributárias e benefícios fiscais, terá se dissipado. A baixa forçada dos impostos, combinada com o menor crescimento esperado para a economia reserva um quadro de manobra fiscal mais estreito.