O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Depois da bonança, a tempestade

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Publicado em 23/08/2022 às 18:48

Gilberto Menezes Côrtes JB

Apesar da desaceleração da economia global, a Genial Investimentos, cujo departamento econômico é chefiado por José Márcio Camargo, aumentou as projeções do crescimento do PIB brasileiro no cenário de agosto em relação a junho: o crescimento aumentou de 2,1% para 2,5%, com, redução do desemprego de 9,5% para 8,8% e queda da projeção de inflação de 9,4% para 6,6% em 2022. O título é sugestivo: "Remando contra a maré".

O aumento das projeções do PIB para este ano está ligado às bonanças das recentes medidas eleitoreiras e temporárias, como a redução de ICMS de energia elétrica, comunicações e combustíveis, além de distribuição de R$ 41,2 bilhões a diversos segmentos da população até dezembro deste ano. Para a Genial, “os estímulos fiscais combinados com a melhora no mercado de trabalho e na massa de rendimentos darão sustentação para uma desaceleração mais suave ao longo do 2º semestre”. Há incógnita sobre a extensão de várias medidas em 2023, como o Auxílio Brasil de R$ 600.

Lembra o estelionato da Dilma?

O quadro descrito pela Genial para 2022 difere totalmente do de 2023, o que poderia dar a impressão de que o governo Bolsonaro fez uma espécie de estelionato eleitoral para criar junto ao eleitor uma sensação de melhora artificial da economia e turbinar as chances eleitorais do presidente Bolsonaro (PL), que ontem foi o 1º candidato a se apresentar nos 40 minutos de entrevistas ao vivo, no Jornal Nacional, da Rede Globo de televisão.

Bolsonaro teve de atuar na defensiva, ao ser lembrado das acusações de servir ao Centrão, de sua conduta negacionista e sem empatia diante das mortes na pandemia da Covid-19, e nas facilitações aos crimes ambientais na Amazônia. Não deu tempo para louvar realizações do governo (as “canetadas” nos preços dos combustíveis eram lembradas pela BIC à mão), nem de atacar os adversários, a começar pelo ex-presidente Lula (PT), que será entrevistado 5ª feira. Hoje é a vez de Ciro Gomes (PDT). Simone Tebet fecha o ciclo 6ª feira.

Para 2022, a Genial elevou o PIB de 2,1% (julho) para 2,5%. Com as reduções de impostos e preços nos combustíveis, reduziu a previsão do IPCA deste ano de 9,4% para 6,6%. O mercado de trabalho reagiu com desempenho positivo, às medidas de estímulo e a Genial revisou a taxa de desemprego de 9,5% para 8,8%. “Diante do aumento do risco fiscal, eleitoral e um cenário global adverso e volátil”, revisou a taxa de câmbio de R$ 5,0 (em junho) para R$ 5,30.

Mas a gestora de investimentos prevê que após a bonança virá quase uma tempestade, com desaceleração forte em 2023, pelo efeito da política monetária, cujo impacto contracionista sobre a atividade se tornará mais evidente no último trimestre de 2022 e em 2023. Por isso reviu para baixo (de 0,6% para 0,5%) a previsão do PIB de 2023. E também o IPCA: “Com o retorno dos tributos no ano seguinte, projetamos a inflação em 5,4%, ante 4,3% (junho)”, em parte ajudado pela queda dos preços internacionais de commodities (agrícolas, metálicas e também as energéticas, sobretudo se amainar a guerra de Rússia e Ucrânia). A taxa de desemprego, estimada em 9,5%, cairia frente aos 10% em junho, mas ficaria acima dos 8,8% de 2022.

Algo parecido com o pacote de bondades da presidente Dilma em 2013-14, visando a reeleição (reduziu tarifas de energia e congelou os preços dos combustíveis, câmbio e juros). Que começaram a subir, em novembro de 2014, e geraram a explosão da inflação em 2015 (10,67%), com o dólar subindo 48,49%, os combustíveis subiram 26%, a energia elétrica 41% e o PIB teve dois anos de recessão (queda de 3,5% em 2015 e de 3,3% em 2016).

Maior aperto monetário em 20 anos

Ao lado da volta de impostos aliviados este ano, uma das causas da perda de tração da economia é que a taxa Selic, que deve fechar este ano em 13,75%, atingidos no começo deste mês, ficaria neste patamar “até o 2º trimestre de 2023, chegando ao final do próximo ano em 11%”, na previsão da Genial.

Para a gestora, “o atual aperto monetário é o mais forte nos últimos 20 anos da economia brasileira, não só pela magnitude do ajuste, saindo de 2% [em março de 2021] para 13,75%, mas também pela velocidade no qual foi feito, tal contexto será intensificado pela maior potência da política monetária nos últimos anos com a redução do crédito subsidiado na economia”.

O único alívio viria da taxa de câmbio, que desceria dos R$ 5,30, previstos para dezembro deste ano, para R$ 5,20, em 2023, passado o “stress” eleitoral e o ajustamento das moedas à escalada dos juros nos Estados Unidos e no mercado desenvolvidos.

O efeito da escalada dos juros internacionais será a queda nos preços das commodities (metálicas e agrícolas), o que para a Genial projeta arrefecimento dos preços dos bens industriais e da inflação de alimentos. Entretanto, a gestora vê “a inflação de serviços em patamar elevado ao longo do ano, diante da recomposição das margens de lucros e da melhora do mercado de trabalho”.