O OUTRO LADO DA MOEDA
Mercado prevê deflação em julho e alta em 2023
Publicado em 11/07/2022 às 13:59
Alterado em 11/07/2022 às 19:01
O mercado financeiro, conforme a Pesquisa Focus, captada pelo Banco Central até a última 6ª feira e divulgada hoje, já está projetando deflação de 0,50% para o IPCA de julho, sob o impacto das mudanças na tributação de combustíveis, energia e comunicação, que vão afetar para baixo os grupos Transportes, Habitação e Comunicação no cálculo da inflação do IBGE, mas o Bradesco e a LCA Consultores advertem para as pressões altistas em serviços e em Alimentos e Bebidas.
A LCA está projetando queda de -0,51% no IPCA em julho, devido aos descontos causados pelas mudanças, que resultarão em queda de 3,31% nesse grupo de preços administrados. Em Transportes, a deflação (estimada em 2,10%) está ligada à queda nos preços da gasolina, o que, por sua vez, contribuirá para a baixa do etanol. Mas o diesel (menos afetado pela tributação, e ainda pressionado pelo recente reajuste da Petrobras), registrará nova alta, alerta a consultoria.
Entretanto, em Alimentos e Bebidas, que pesa muito nos orçamentos das famílias com renda até cinco salários mínimos (R$ 6.060), a maioria do eleitorado, apesar das novas quedas de alguns produtos “in natura”, como tubérculos, raízes e legume, a LCA identifica “pressões relevantes de frutas, carnes e peixes industrializados, leites e derivados e bebidas e infusões (em especial o café), continuam acelerando este grupo em julho (a previsão é de alta de 1,14%, contra 0,80% em junho). Para o ano de 2022, a LCA prevê IPCA de 8%.
Inflação disseminada pede juro alto
O Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco advertiu hoje, em seu Boletim Diário, que “as reduções de impostos (sobre combustíveis, energia e comunicações, válidas até 31 de dezembro de 2022) vão trazer volatilidade nas variações mensais nos próximos meses, mas isso não altera a leitura de que a inflação segue com pressões disseminadas”. Em outras palavras, a pressão de alta em diversos produtos e em serviços vai exigir que a política monetária mantenha os juros elevados por muito tempo.
O Bradesco que espera um IPCA de 7,50% em dezembro, prevê que a taxa Selic suba mais 0,50 ponto percentual em 2 e 3 de agosto e feche o ano em 13,75%, mesma previsão da Pesquisa Focus. Mas a previsão de repique da inflação para 4,90% no próximo ano (com aumento de impostos) levoU o banco a ser conservador na redução dos juros: o Bradesco espera Selic de 11,75% no fim de 2023.
Na média na Pesquisa Focus, o mercado espera 10,50% no próximo ano, mas as previsões dos últimos dias úteis (que capta a tendência mais recente), já elevou a projeção para 11%.
Em relação ao PIB, o mercado espera crescimento de 1,59% este ano (naS projeções dos últimos cinco dias úteis a taxa subiu para 1,80%, mas começa a rever para baixo (em função da política monetária mais apertada no Brasil e no mundo, o que tende a desacelerar a inflação e a economia mundial) a previsão de crescimento do PIB: 0,50% na mediana do mercado e de 0,43% na previsão dos últimos cinco dias úteis.
Um dos temores é a desaceleração da economia dos Estados Unidos, assim como a da China, que contamina o mercado europeu, os três principais destinos das exportações brasileiras. O saldo da balança comercial, previsto em US$ 70 bilhões este ano (bem abaixo das previsões do governo), cairia para US$ 60 bilhões no ano que vem.
John Willians, do Fed, prevê altas até 0,75%
O presidente do Fed de Nova York e vice-presidente do Federal Open Market Committee (FOMC, que inspirou o nosso Copom), John Williams, disse que o nível atual da “fed fund rate” ainda está bem abaixo do nível almejado para o fim do ano, o que justifica a continuidade da ação do Fed.
Para a próxima reunião, em 26 e 27 de julho, afirmou que as opções são 0,5% ou 0,75%. Segundo Williams, os dados sobre condições financeiras, expectativas de inflação e dados correntes dos preços e a evolução do cenário econômico definirão os próximos passos da política monetária.
Inflação já reflete efeitos iniciais da redução de impostos, mas núcleos seguem pressionados. O IPCA de junho registrou alta de 0,67%, ligeiramente abaixo do esperado (0,7%), acumulando alta de 11,9% em doze meses.
Apesar da surpresa baixista, chamou atenção o aumento da inflação de serviços, que deve seguir pressionada no curto prazo diante de sinais ainda fortes do mercado de trabalho e novos estímulos fiscais. Além disso, já notamos o impacto inicial das medidas de redução do ICMS de combustíveis e energia elétrica em alguns estados, itens que registraram deflação nessa leitura.
Essas reduções de impostos vão trazer volatilidade nas variações mensais nos próximos meses, mas isso não altera a leitura de que a inflação segue com pressões disseminadas.