O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

[email protected]

O OUTRO LADO DA MOEDA

Previsões para o PIB seguem em baixa

...

Publicado em 24/01/2022 às 13:18

Alterado em 24/01/2022 às 13:18

Gilberto Menezes Cortes CPDOC JB

A Pesquisa Focus, encerrada 6ª feira junto a mais de uma centena de instituições financeiras, consultorias e institutos de pesquisa, e divulgada hoje, 24 de janeiro, pelo Banco Central mostrou que o mercado começa a ficar pessimista também para o desempenho da economia em 2023, primeiro ano do novo governo, em função dos estragos fiscais promovidos pela aprovação do Orçamento Geral da União de 2022, publicada hoje no Diário Oficial da União.

Se na mediana do mercado, a estimativa para o PIB de 2022 ficou estável em 0,29%, nos últimos cinco dias úteis, houve lançamentos mais otimistas, para 0,41%, mas as previsões pessimistas já contaminam o horizonte de 2023: Na mediana semanal a expectativa caiu para 1,69% (frente aos 1,75% da semana anterior) e os últimos cinco dias úteis tiveram média mais negativa: +1,55%. Vale dizer que o Itaú (que estima queda de 0,5% no PIB deste ano) prevê crescimento de apenas 1% em 2023 - o Bradesco espera alta de 0,75% em 2022 e de 3% em 2023 e o Santander espera 0,7% em 2022 e -0,2% em 2023.

Embora o mercado acredite que a inflação vá cair acentuadamente este ano, após os 10,06% do ano passado, a última pesquisa Focus já apontou ligeira alta para 2022: de 5,09% para 5,15% (o que estouraria o teto da meta de inflação do Banco Central - 3,50%, com tolerância de 1,50 ponto percentual= 5,00%. E as previsões dos últimos cinco dias se elevaram para 5,17%. Para 2023 (meta de 3,25%), as previsões subiram de 3,40% para 3,43%.

Para o mês de janeiro, a Pesquisa Focus apontou alta de 0,46% no IPCA cheio, que o IBGE divulgará em 9 de fevereiro, já depois da 1ª reunião do Copom de 2022, nos dias 1 e 2 de fevereiro. Nesta semana, o IBGE divulga 4ª feira o IPCA-15, prévia do IPCA cheio. O Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco espera alta de 0,45%. O Depec Itaú espera taxa um pouco menor, de 0,43%, que reduziria a taxa em 12 meses para 10,04% (de 10,42% em dezembro).

O Itaú ainda espera pressão de itens industriais (especialmente no grupo transportes, com preços mais elevados de veículos usados e novos) e serviços (especialmente em alimentação fora do lar e aluguel). Mas, passagens aéreas e combustíveis, como gasolina e etanol, devem apresentar alguma deflação nessa leitura. Também importante, as medidas de núcleo da inflação provavelmente permanecerão sob pressão.

As projeções do mercado (Focus) para os primeiros três meses de 2022 indicam que a inflação de dois dígitos pode começar a ceder em 12 meses de fevereiro em diante. A expectativa é de 0,46% em janeiro, 0,81 em fevereiro e 0,48% em março. Como em janeiro de 2021 o IPCA subiu só 0,25%, a taxa anualizada ainda subirá este mês, pode ter pequena queda em fevereiro (0,86% em 2021), embora nos últimos cinco dias as previsões se elevaram para 0,84%, mas, sem, dúvida, salvo se ocorrer algum desastre natural no país, deve descer dos 2 dígitos em março (em 2021 a taxa foi de 0,93%).

 

Juro alto contém PIB

Um dos motivos para o baixo crescimento, depois da elevada inflação na casa de dois dígitos corroer o poder de compra das famílias, será a elevação dos juros. O mercado espera que o Copom eleve a taxa para 10,75% ao ano, em 2 de fevereiro, com alta de 1,50 ponto percentual na Selic. Em março haveria nova alta de 1 p.p. para 11,75% ao ano. Em palestra semana passada na 26ª Conferência Anual Latino-Americana do Santander, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto apresentou gráficos que mostram o pessimismo do mercado quanto ao desempenho do PIB brasileiro entre os países emergentes.

 

 

Macaque in the trees
. (Foto: .)

 

O Itaú, banco brasileiro que tem filiais na Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile, Colômbia e Peru, com atuação ainda no México, além de prever queda de 0,5% no PIB brasileiro em 2022, estima que a economia da Argentina crescerá 1,4% este ano, a do México, 1,1%, a do Chile, 1,8%, a da Colômbia, 3,7%, e a do Peru, 4%. Na média, a economia mundial avançaria, 3,7%, a China, 4,7%, os Estados Unidos, 4,1% e a Zona do Euro avançaria 4,3%.

 

Dados de preços e emprego na mesa do Copom

Além das primeiras noções da inflação de 2022, na 5ª feira, serão conhecidos os números de vagas formais de emprego (Caged) de dezembro e na 6ª feira o IBHGE divulga a taxa de dezembro de novembro na PNAD Contínua. Pesquisas diretas do Itaú indicam que a geração de empregos formais com ajuste sazonal continuou aumentando em dezembro, mas a sazonalidade aponta para uma redução de vagas formais em dezembro (em dez/20 houve queda de 158 mil vagas).

Assim, o Itaú espera que a taxa de desemprego de 2021 tenha ficado em 11,5% (diminuindo para 12,0% de 12,1%, com ajuste sazonal). Essas informações de inflação e mercado de trabalho serão relevantes para o Copom, que volta a se reunir no início de fevereiro. O IGP-M de janeiro será conhecido na 6ª feira e o Itaú espera aceleração nos preços industriais no atacado, principalmente devido aos maiores preços de minério de ferro, soja e milho.

Outro dado importante na mesa do Copom, nas contas fiscais, o resultado primário do governo central de dezembro (receitas menos despesas, sem considerar os custos da rolagem da dívida pública), será divulgado na 6ª feira. O Itaú espera um superávit de R$ 8,9 bilhões, o que significa que o governo central teve um déficit de R$ 40,4 bilhões em 2021 (ou 0,5% do PIB).

 

Criptomoeda afeta conta corrente

Nesta 4ª feira o Banco Central deve divulgar os dados do Balanço de Pagamentos de dezembro e de 2021. O Itaú espera déficit de US$ 5,9 bilhões na conta corrente (balança comercial + serviços, e rendas de capitais) em dezembro, abaixo do déficit de US$ 8,5 bilhões em dezembro de 2020.

Com este resultado, o déficit em conta corrente de trimestral acelera para US$ 58,2 bilhões registrado em novembro) e a conta corrente fecha 2021 com déficit de US$ 28,3 bilhões (acima dos US$ 24,5 bilhões de 2020).

O Itaú atribuiu o aumento do déficit em 2021 ao aumento das remessas de lucros e dividendos, em função da recuperação da atividade econômica, da importação líquida de sondas de perfuração sob o regime aduaneiro do Repetro e - aqui surge uma novidade - “das maiores compras de criptoativos, mesmo com a câmbio em um nível mais fraco e preços de commodities mais altos”, assina o Itaú.

Para o banco, o investimento direto no país deverá atingir US$ 3,1 bilhões em dezembro, acumulando US$ 53,4 bilhões ao longo de 2021 (de US$ 37,8 bilhões em 2020), cobrindo largamente o déficit em conta corrente.

 

Atenção com o PIX

Uma amiga da família saiu-se com essa na semana passada, quando minha mulher se ofereceu para dar uma sugestão:

“Só estou aceitando PIX”...

Pois na 6ª feira, 21 de janeiro, o Banco Central revelou mais um preocupante caso de vazamento dos dados de usuários do sistema PIX, desta vez envolvendo a Acesso Soluções de Pagamento S.A. (Acesso), que teve, entre os dias 3 e 5 de dezembro de 2021 vazados “dados cadastrais vinculados a 160.147 chaves PIX: nome do usuário, CPF, instituição de relacionamento, número da agência e da conta”. Em agosto do ano passado o Banco do Estado de Sergipe S.A. (Banese) teve vazamento de 414.526 chaves PIX (nome do usuário, CPF, instituição de relacionamento, número da agência e da conta. Informações vinculadas a chaves PIX para fins de segurança”.

É pouco para o total de chaves (381 milhões em dezembro), mas é preocupante. O melhor é usar no celular dados complexos.

Tags: