O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Itaú vê queda de inflação e PIB negativo em 2022

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Publicado em 18/01/2022 às 14:59

Gilberto Menezes Cortes CPDOC JB

Com base nos dados divulgados em novembro (IBGE e IBC-Br, que apontou crescimento de 0,69% em novembro sobre outubro, com alta de 0,4% sobre novembro de 2020), o Departamento de Estudos Econômicos do Itaú fez ontem, 17 de janeiro, a revisão dos cenários para 2021, 2022 e 2023. Em síntese, o Itaú mantém a previsão de que o PIB, após crescer 4,4% no ano passado, deve encolher 0,5% este ano e voltar a crescer somente 1% em 2023.

Um dos maiores financiadores de pessoas físicas do país, o Itaú considera que “a taxa Selic significativamente contracionista já está impactando a atividade econômica, com recuo nas concessões de crédito e vendas no varejo”. E frisa que “as concessões de crédito às pessoas físicas já começam a ser impactadas pela alta nas taxas de juros e nível elevado de comprometimento de renda dos consumidores com pagamentos de crédito”.

Ainda assim, acredita que “o ciclo de aperto monetário deva avançar ainda mais em território contracionista, mas que esteja se aproximando do fim, com mais uma elevação de 1,5 p.p. em fevereiro [para 10,75%] e uma alta final de 1,0 p.p. em março [para 11,75%, nível que perduraria até dezembro].

O outro lado da moeda é que, na esteira do aumento da Selic ao longo de 2021, que colocou a taxa de juros real em patamar restritivo (descontada a inflação), o IPCA deve cair acentuadamente este ano. Como há um processo de desinflação em marcha na economia mundial (e a nova variante Ômicron tem contribuído para a redução dos preços das commodities metálicas, de alimentos e de energia nos mercados futuros), o Banco Itaú espera o recuo do IPCA para 5,0% em 2022, após alta de 10,06% no ano passado.

O Itaú prevê “desinflação em [bens] comercializáveis e preços de energia, com o efeito de choques passando e sob impacto da Selic significativamente acima do terreno neutro. Com efeito defasado da alta de juros (...) esperamos alta de 3,3% no IPCA em 2023”. Isso abriria espaço à redução da Selic a 8% em 2023. O Depec Itaú ressalta, porém, que “essa redução (e eventuais cortes adicionais) de juros será condicional às futuras escolhas de política econômica, em particular no que diz respeito ao controle das contas públicas”, já da nova administração do país, no ano que vem.

 

Desinflação em 22 e 23

Ao analisar o IPCA de 0,73% em dezembro, fechando o ano de 2021 em 10,06%, o Itaú considera que a inflação do ano “foi impactada por uma série de choques, notadamente em preços de energia, tanto em combustíveis de veículo (alta de 47,5% no IPCA), seguindo a alta do petróleo ao longo do ano, quanto em energia elétrica (elevação de 21,2%), com impacto da cobrança da bandeira de escassez hídrica”.

“A inflação de alimentos e de itens industriais também mostrou pressão no ano, subindo 8,2% e 11,9%, respectivamente”, diz o banco. “O IPCA mais alto teve repasse para núcleos, com a inflação subjacente de industriais acumulando alta de 8,7% (2,3% em 2020) e de serviços subindo 5,9% (2,5% em 2020). Mantemos a nossa projeção de 5,0% para o IPCA 2022, com contribuição importante da taxa Selic em território significativamente contracionista”.

Para o Itaú, “a desinflação virá principalmente de itens comercializáveis e preços administrados. A inflação de bens deve desacelerar com preços de commodities metálicas em reais ficando estáveis, trazendo alívio para inflação no atacado e varejo. Além disso, a Selic mais restritiva encarece o crédito e reduz a demanda por bens, trazendo ajuste de estoques à frente”.

O banco considera que inflação de administrados também deve perder fôlego, com normalização dos preços de combustíveis e projeta bandeira tarifária vermelha 1 (valor de R$ 3,971 a cada 100 quilowatts-hora) em dezembro de 2022. O Itaú projeta “alta pouco abaixo de 5,0% para preços administrados em 2022. Para os preços livres, projetamos alta de cerca de 5,0% em serviços, 6,0% em bens industriais e 4,0% em alimentação no domicílio”.


Macaque in the trees
. (Foto: Itaú/reprodução)


 

Selic desacelera economia

O Depec Itaú estima que “o PIB tenha continuado em queda no 4º trimestre de 2021, com projeção de crescimento para 2021 em 4,4%. As vendas no varejo e a produção industrial seguem em tendência de queda nas divulgações referentes ao 4º trimestre”, com perda de capacidade de consumo das famílias. O banco acredita que “essa tendência se consolidará à frente”, mas apontou um lado positivo– evitando uma contração ainda maior do PIB no 4º trimestre: “a produção de automóveis cresceu em novembro e dezembro, em meio à leve melhora na importação de componentes eletrônicos para o setor”.

“Para 2022, continuamos projetando contração do PIB de 0,5%, principalmente devido ao impacto dos juros elevados sobre a demanda agregada. A safra agrícola de 2022 tem sido revista para baixo principalmente por causa da falta de chuvas no sul do país e no Mato Grosso do Sul. Para o Itaú, isso “reduz a chance de o PIB no 1º trimestre deste ano ser significativamente positivo. O banco reduziu a projeção de alta de 0,7% sobre o 4º trimestre, com ajuste sazonal, para 0,4%.

“Há risco também do consumo de serviços ser negativamente afetado no início do ano pelo surto recente de coronavírus. Do lado positivo, esperamos expansão fiscal dos governos regionais de +0,5% do PIB este ano, sendo esse o principal componente a evitar uma contração maior do PIB”, diz.

 

Desemprego volta a crescer este ano

“Ajustamos a projeção de taxa de desemprego de 12,2% para 12,0%, ao final deste ano, e de 13,3% para 13,1% ao final de 2022. Mesmo com o PIB em queda, o emprego continua crescendo”.

“Essa divergência deve-se, em parte, ao fato de que o emprego responde com defasagens ao ciclo de atividade econômica, mas também pode estar indicando uma queda da produtividade na economia brasileira”, diz o Itaú.

Outro dado negativo é que o Itaú não vê reversão da taxa de câmbio no horizonte: “Mantivemos a nossa projeção de taxa de câmbio em R$ 5,50 por dólar ao final de 2022 e em R$ 5,75 por dólar ao final de 2023”.

 

Desaceleração da economia com impacto da Selic mais elevada

Estimamos que o PIB tenha continuado em queda no 4T21, com projeção de crescimento para 2021 em 4,4%. As vendas no varejo e a produção industrial seguem em tendência de queda nas divulgações referentes ao 4T21. As concessões de crédito à pessoa física já começam a ser impactadas pela alta nas taxas de juros e nível elevado de comprometimento de renda dos consumidores com pagamentos de crédito.

Acreditamos que essa tendência se consolidará à frente. Do lado positivo – evitando uma contração ainda maior do PIB –, a produção de automóveis cresceu em novembro e dezembro, em meio à leve melhora na importação de componentes eletrônicos para o setor.

Para 2022, continuamos projetando contração do PIB de 0,5%, principalmente devido ao impacto dos juros elevados sobre a demanda agregada. A safra agrícola de 2022 tem sido revista para baixo principalmente por causa da falta de chuvas no sul do país e no Mato Grosso do Sul, o que reduz a chance do PIB no 1T22 ser significativamente positivo (reduzimos a nossa projeção do 1T22 de 0,7% trimestre ante trimestre com ajuste sazonal, para 0,4%).

Há risco também do consumo de serviços ser negativamente afetado no início do ano pelo surto recente de coronavírus. Do lado positivo, esperamos expansão fiscal dos governos regionais de +0,5% do PIB este ano, sendo esse o principal componente a evitar uma contração maior do PIB.

 

Dívida em risco

Para o Itaú, o “arcabouço fiscal indefinido [após a alteração no sistema de teto dos gastos e a imprevisibilidade da duração do Auxílio Brasil] deixa a sustentabilidade da dívida pública em risco à frente”. No cálculo do Itaú “o setor público consolidado deve ter registrado superávit primário (receitas menos despesas, excluindo os custos da dívida) de 0,3% do PIB (R$ 25 bilhões) em 2021, “o 1º resultado positivo desde 2013, quando houve superávit de 1,6% do PIB”. Entretanto, os juros da dívida em alta (nos papéis atrelados à Selic ou à inflação) subiram mais de R$ 120 bilhões no ano passado e tendem a ficar manter elevados este ano (a alta dos juros só se acelerou no 2º semestre). Isto tem impacto nos indicadores do déficit nominal.

Mesmo sob a ótica do resultado primário, o Itaú prevê que “em 2022, o resultado primário voltará a ser deficitário em 0,8% do PIB (R$ 75 bilhões). Os estados e municípios devem registrar superávit de 0,5% do PIB (R$ 45 bilhões), ainda com receitas elevadas e usando apenas parte do seu espaço fiscal disponível para gastos”.

“No governo central, embora o bom desempenho das receitas em 2021 ajude, o aumento de gastos viabilizado pela aprovação da PEC 23/21, a desinflação e a piora do crescimento provocam um maior aumento das despesas do que o das receitas”, alerta o banco.

A questão básica é que justamente no ano eleitoral de 2022, o governo Bolsonaro, na ânsia da reeleição a qualquer custo, está gastando olhando o que se passou no retrovisor, sem perceber que o cenário além do para brisa é de buracos na estrada sinuosa e escorregadia, em meio ao tempo ruim.

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