O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

País de Borat não ameaça petróleo

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Publicado em 06/01/2022 às 18:14

Gilberto Menezes Cortes CPDOC JB

Só pode ser piada, má fé, com fins especulativos, ou excesso de desinformação a manchete da “Veja Economia” alardeando que “na visão de analistas de bancos de investimentos e especialistas do setor”, o preço do petróleo Brent, principal referência para a cotação do combustível pela Petrobras, pode bater 100 dólares por barril ou até mesmo ultrapassar este valor este ano”.

Os contratos mensais do mercado futuro para março subiram um pouco hoje para US$ 82,25, numa alta de 1,79%, num dia de muita especulação sobre se a OPEP manteria o aumento mensal de 400 milhões de barris diários de oferta em fevereiro. E os contratos de vencimento em dezembro de 2022, subiram de US$ 76,05 ontem para US$ 76,18 hoje, muito distante da previsão catastrófica e especulativa.

Em nenhum cenário de mercado futuro há tendência de aceleração de preços. Ao contrário, os preços tendem a declinar após o fim do inverno no Hemisfério Norte, em março e se comportam em queda para os fins de ano seguintes. Para dezembro de 2023 o Brent está sendo negociado a US$ 71,59 (contra US$ 71,54 na véspera), o de dezembro de 2024 variou de US$ 68,49 para US$ 69 e a cotação de dezembro de 2025 passou de US$ 66,34 para US$ 66,38.

 

Nada de novo no 'front'

Apesar das escaramuças entre a Rússia, 2º produtor de petróleo e gás do mundo (os Estados Unidos são o 1º, mas também grandes consumidores, ainda que já estejam virando exportadores de gás liquefeito de petróleo, extraído do “shale gas”) e o Cazaquistão, 12º maior produtor de petróleo e gás do mundo, o “país de Borat”, que tem a 9ª maior extensão territorial do mundo, logo após a Argentina (mais ou menos ¼ do tamanho do Brasil), e menos de 19 milhões de habitantes, o mercado não deu mostras de reação. Ou temor pelo abastecimento.

Notícia especulativa como essa pode mexer com juros futuros e com o dólar e atrair desavisados para criptomoedas. Pode iludir quem leva Borat a sério.

Há muito tempo cobro da Comissão de Valores Mobiliários, que tem feito um trabalho importante de catequese e disciplinamento do mercado de capitais brasileiros, alertando agentes de investimento e investidores a seguirem princípios legais e de ética, e, de outra parte, fazendo a depuração dos picaretas que atuam ilegalmente no mercado, que adote postura semelhante à Securities Exchange Comission (SEC), o xerife do mercado de capitais americano, que também cobra responsabilidade dos formadores de opinião.

Quem viu a instigante sátira/catástrofe “Não Olhe para Cima” deve ter percebido o comportamento pouco ético de apresentadores da televisão que, em vez de fazer uma análise ampla e neutra dos prováveis impactos do meteoro gigante contra a terra, fazendo carga positiva para os papéis das empresas envolvidas na empreitada de neutralizar e faturar em cima dos metais preciosos do meteoro, chegando ao cúmulo (tudo é sátira) de comemorarem a valorização dos papéis em que estão “comprados”.

Fui durante muito tempo comentarista de economia da GloboNews e jamais entrei nessa seara. A responsabilidade de uma dica será sempre de um analista credenciado, mas é bom oferecer mais de uma visão sobre este ou aquele papel/ativo. Me incomoda o fato de que hoje bancos de investimento e corretoras estejam controlando importantes sites na área econômica: o BTG-Pactual controla a “Exame” e tem interferência sobre a Veja. A XP que controla a Rico Corretora, tem canal de notícias, o InfoMoney. E por aí vai.

Ganância e especulação não podem comprometer a ética jornalística. Em tempo de “fake news” não basta apenas o Tribunal Superior Eleitoral ficar vigilante. É preciso que a CVM dedique, no ano eleitoral de 2022, especial vigilância sobre a disseminação de boatos e análises plantadas no noticiário.

 

Energia avança ao sol e ao vento

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informa que a geração de energia no país teve em 2021 o maior crescimento desde 2016, com a adição de 7,5 gigawatts (GW), superando em 57,8% os 4,7 GW acrescidos em 2020 ao Sistema Interligado Nacional (SIN). Assim, a capacidade total instalada alcançou 181,532 mil GW. Entretanto capacidade total instalada é bem diferente da geração elétrica efetiva.

Às 14:21 desta 5ª feira, a geração efetiva de energia era de 77.644,3 MW, ou seja 42,7% da capacidade instalada. Com os reservatórios das usinas hidroelétricas no Sudeste e Centro Oeste ainda em fase de recomposição (a região consome cerca de 70% da energia do país), a geração hidroelétrica, que responde por 73% da energia consumida, não está operando nem em 50% da capacidade.

A energia das termoelétricas (a gás, a óleo combustível e óleo diesel) está suprindo 14,3% da oferta de energia. No ano passado, as termelétricas tiveram uma expansão de 2,4 GW no sistema.

A energia eólica (gerada sobretudo no Nordeste, em especial no Rio Grande do Norte) responde por 7,5% do total. A energia eólica, por sinal, foi a teve o maior crescimento no ano passado, com acréscimo de 3,7 GW de potência instalada. A fonte chegou a 20,8 gigawatts (GW) de capacidade instalada no ano, respondendo por 11,46% da matriz energética brasileira.

A questão é que como os ventos não são constantes 24 horas do dia e nos 30 dias do mês, a geração nem sempre chega a 50% da capacidade. Hoje, às 14:38, a geração eólica somava 5.528 MW.

Situação ainda mais paradoxal é das fontes de energia solar fotovoltaicas. Quando o sol está a pino e até às 18/19, com as baterias armazenando energia, elas operam em alta capacidade. À noite, a produção cai drasticamente. Às 14:40, estavam produzindo 2.433 MW, superando os 2.007 MW a energia nuclear de Angra I e II. A questão é que na média diária as usinas nucleares, que produzem continuamente, estão com geração superior às fontes solares. Mas com a ofertas de 1,3 GW, no sistema, elas estão com o caminho mais brilhante pela frente, nas projeções da Aneel.

No ano passado as usinas geradoras foram inauguradas ou reabertas em 20 Estados das cinco regiões do país no ano passado, com liderança da Bahia, com 1,5 GW, seguida por Rio Grande do Norte, com 1,5 GW e o Rio de Janeiro, com 1,3 GW.

De acordo com levantamento da Aneel, até 2026 os novos projetos de energia solar (fazendas solares, fora as iniciativas individuais dos consumidores residenciais e comerciais) vão agregar 29.938 MW de capacidade instalada (com o devido desconto de geração média de energia - espera-se que surjam novas tecnologias que permitam maior armazenamento nas baterias de lítio). Na energia eólica o acréscimo previsto no mesmo período é de 12.912 MW, porém, com geração média maior ao longo do dia.

 

Derrapada na indústria

E os dados da indústria em novembro voltaram a decepcionar as expectativas do mercado, com queda de 0,2% na produção frente a outubro, segundo informou o IBGE. O mercado esperava avanço de 0,1%. Com isso são seis meses consecutivos de queda, período em que acumulou perda de 4,0%. No ano, a indústria acumula alta de 4,7% até novembro e, em 12 meses, de 5,0%.

Em relação a novembro de 2020, houve recuo de 4,4%, o que indica a forte redução na produção de eletrointensivos tão logo o governo adotou a bandeira vermelha 2 em dezembro de 2020, diante da ameaça de racionamento este ano devido à prolongada estiagem (ameaça afastada com as chuvas intensas desde novembro último).

 

Quem cresceu e quem caiu

Apesar da queda, três das quatro das grandes categorias econômicas registraram crescimento, assim como 14 dos 26 ramos pesquisados.

Entre as quedas mais importantes estiveram Borracha e material plástico (-4,8%), que perderam toda a expansão acumulada (3,5%) em setembro e outubro, e metalurgia (-3,0%), que teve a 3ª terceira queda seguida acumulando perda de 7,7% no período. Com a tarifa elevada, quem produziu a valer em 2020 para exportar, aproveitando o dólar em alta, foi apertado pelos custos. Também caíram produtos de metal (-2,7%), bebidas (-2,2%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-0,6%), perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-4,5%) e produtos diversos (-4,5%).

Entre as 13 atividades com expansão os principais impactos em novembro de 2021 foram de: produtos alimentícios (6,8%), indústrias extrativas (5,0%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (2,9%). As duas primeiras atividades voltaram a crescer após dois meses seguidos de queda na produção, em que acumularam perdas de 7,3% e de 10,2%, respectivamente; e a última marcou o 1º resultado positivo desde abril de 2021 (2,2%).

Na comparação com novembro de 2020, a indústria recuou 4,4%, com resultados negativos em três das quatro grandes categorias econômicas, em 19 dos 26 ramos, 55 dos 79 grupos e 59,1% dos 805 produtos pesquisados. Novembro teve o mesmo número de dias úteis (20) em 2021 e 2022. Ou seja, o aumento da tarifa de energia desestimulou a produção.

 

Bradesco espera 3 altas de juros do Fed

Ao analisar a ata do Comitê de mercado aberto dos Estados Unidos (FOMC na sigla em inglês), o Departamento Econômico do Bradesco identificou um “tom mais duro, sinalizando normalização da política monetária mais rápida”. Na ata divulgada ontem, relativa à reunião de política monetária de dezembro, o comitê sinalizou de maneira mais assertiva que deverá aumentar a taxa de juros em 2022, diante das pressões inflacionárias mais persistentes. Segundo o colegiado, o balanço de riscos é assimétrico para mais inflação, com destaque para choques sobre as cadeias de produção e uma possível piora no quadro da pandemia por conta da variante Ômicron”.

Em relação à atividade econômica, o comitê ainda acredita em um ritmo forte de crescimento para 2022, porém inferior ao esperado na reunião de novembro.

Assim, o Bradesco acredita que o Federal Reserve elevará a taxa básica três vezes em 2022, sendo a1ª alta em março, e que o juro continuará subindo 0,25 p.p. por trimestre até atingir 3% em 2023. Somado a isso, o documento indicou que começará a reduzir seu balanço, após a elevação dos juros. Dessa forma, a combinação de sinais – de tapering mais rápido, antecipação do ajuste de juros e redução do balanço – mostra uma normalização da política monetária nos EUA mais rápida e mais intensa do que o esperado meses atrás.

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