O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Embraer voa mais alto que a Boeing

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Publicado em 22/12/2021 às 15:49

Alterado em 22/12/2021 às 19:12

Gilberto Menezes Cortes CPDOC JB

Quando a gigante americana da aviação Boeing anunciou, oficialmente, em 25 de abril de 2020, que desistira da fusão de US$ 5,2 bilhões com a divisão comercial da Embraer, após quase dois meses de namoro (e de troca de segredos), parecia que o tempo tinha fechado para a empresa de São José dos Campos (SP).

Em duas semanas, as cotações da Embraer ON (Embr3) despencaram para R$ 6,23 em 15 de maio de 2020. Uma queda de 68,11% frente à cotação de 21 de fevereiro, quando começaram os primeiros ruídos em torno na fusão, em função do tombo da aviação comercial com as restrições de voos internacionais devido à Covid-19.

Comparado ao desempenho da Boeing no mesmo período - as cotações que estavam em R$ 1.461,96, em 7 de fevereiro de 2020, caíram para R$ 508 em 20 de março do ano passado, numa desvalorização de 65,25% -, a impressão que se tinha era de que a Embraer tinha “estolado”.

Mas nunca o ditado que dizia “Quem não é o maior, tem de ser o melhor” se fez presente na Embraer. Diante do enorme desafio de um cenário completamente adverso ao que se esperava com a fusão com a Boeing, que poderia abrir “um céu de brigadeiro” na aviação comercial, a área bélica da Embraer também sentiu a retração geral do enclausuramento do mundo como precaução à Covid-19 e suas diversas cepas, como a recente ômicron.

O anúncio de lançamento de ações da Eve, a nova divisão da Embraer para produzir o eVTOL (veículo elétrico de pouso e decolagem) na Bolsa de Nova Iorque, abrindo nova fonte de financiamento, é um atestado da volta por cima, do quase “looping” que a Embraer fez, comemora seu presidente, Francisco Gomes Neto.

 

Quem reagiu melhor

A reação das cotações entre as duas empresas (medida em reais) pode ficar um pouco distorcida pela desvalorização do real desde fevereiro, que amplia o valor em reais das ações da Boeing, e reforça o bom desempenho da Embraer.

Hoje, 22 de dezembro de 2021, a cotação de Embr3 era de R$ 23,13, às 11h30 na B3. Uma valorização de 271% desde o menor nível (R$ 6,23) registrado em 15 de maio, após o grande tombo causado pela desistência da Boeing, que entrou em prejuízos e viu nuvens negras no horizonte.

Já a Boeing, ainda às voltas com a lenta retomada das encomendas dos jatos 737 Max, e o ponto morto das entregas 787 Dreamliner, estava cotada a R$ 1.143,10 hoje, às 11h30. Isso representa uma recuperação de 125% frente a piso mínimo de R$ 508, em 20 de março do ano passado, antes mesmo da desistência da fusão. Ou seja, a recuperação das ações da Embraer foi maior.

Antes de a Covid-19 deixar milhares de aviões no chão, a queda de duas aeronaves 747 Max já tinha abalado os planos de voo da empresa de Seattle, que é a maior exportadora de produtos manufaturados dos Estados Unidos.

 

Confiança do consumidor fecha 2021 em queda

Refletindo principalmente o avanço da inflação, o índice de confiança do consumidor, divulgado hoje pela Fundação Getúlio Vargas, subiu 0,6 ponto de novembro para dezembro, atingindo 75,5 pontos. O resultado refletiu a alta de 2,0 pontos do componente de expectativas, que foi parcialmente compensado pela queda de 1,3 ponto do indicador de situação atual.

No ano fechado, o indicador agregado recuou de 78,5 para 75,5 pontos, influenciado pela piora do sentimento dos consumidores com a situação corrente e futura da economia.

 

Sentimento se reflete na arrecadação

No momento em que o Congresso aprova o Orçamento Geral da União para 2022, convém ficar cauteloso quando governo e base aliada fecham acordo fiando-se em resultados da arrecadação passada (inflada pela inflação, sobretudo nos preços dos alimentos, combustíveis e energia), que não se espera repetir no ano que bem, quando a escalada dos juros vai contrair a economia.

A perda de confiança do consumidor já traduz, na visão dos departamentos de estudos econômicos do Bradesco e do Itaú, os riscos que “desaceleração da atividade impõe desafios para os próximos meses”. Em novembro foram arrecadados R$ 157,3 bilhões em impostos e contribuições, acima dos R$ 156 bilhões esperados, um aumento real (descontada a inflação) de 1,4% sobre novembro de 2020. A curva da arrecadação em 12 meses mostra declínio que parece ter sido ignorado na confecção do OGU 2022.

Aproveitando a disparada da inflação (inicialmente prevista em 4,7% no IPPC e estimada em 10,18% no OGU), o governo mudou o período de cálculo do parâmetro do Orçamento de junho para dezembro. Isso deu folga para abrigar o aumento para R$ 4,923 bilhões no fundo eleitoral, o Auxílio Brasil de R$ 400 por família (em princípio, 17 milhões de famílias egressas do Bolsa Família, extinto com 14,6 milhões de famílias, com acréscimo de apenas um percentual do Auxílio Emergencial), além de R$ 16,3 bilhões de emendas do relator, para os políticos reforçarem destinação de verbas a prefeituras, cujos titulares funcionarão como cabos eleitorais nos estados.

Acontece que as projeções para o PIB e a inflação de 2022 apontam na direção inversa à deste ano. Tanto um quanto o outro devem murchar.

 

PIB e IPCA em queda afetam até B3

Em outras palavras, mesmo com as revisões dos números do Orçamento para níveis contracionistas (comparados a 2021), o OGU prevê o saque maior de despesas. Se a inflação não surpreender para cima, tende a abrir um fosso, ou um abismo fiscal para 2022/2023. Vejam a diferença de projeções que já está afetando as empresas listadas em Bolsa, depois que os analistas estão refazendo o cálculo das perspectivas de faturamento e lucro tendo em vista um cenário bem mais desafiador para o ano eleitoral de 2022.

 

Para conferir depois

O OGU foi elaborado prevendo crescimento de 2,1% no PIB e INPC de 4,25%.

O Banco Central, no Relatório Trimestral de Inflação divulgado esta semana, prevê aumento de apenas 1% no PIB (menos da metade) e inflação 4,7% (a inflação maior não compensaria a perda no PIB).

Mas as previsões dos bancos e consultorias são bem mais pessimistas:

O Bradesco prevê alta de 0,75% no PIB e inflação de 4,90% no IPCA.

A LCA Consultores prevê PIB de 0,7% e IPCA de 5,5%.

O Santander prevê alta de 0,7% no PIB e inflação de 5,7% no IPCA.

O Itaú prevê queda de 0,5% no PIB, com inflação de 5% no IPCA.

Vale a pena conferir se até março as previsões já não mudaram.

 

Apagão ou 'hackers' no IBGE?

No fim de semana, preparando-se para a enxurrada de consultas com a abertura de 200 mil vagas para recenseadores no Censo 2020, que vai acontecer no ano que vem, com dois anos de atraso, o IBGE anunciou em seu site que as estatísticas iriam aparecer de forma resumida (sem ilustrações e sem as matérias de sua agências de notícias, em função da "modernização no Data Center". Mas avisava que o sistema voltaria a operar normalmente na 2ª feira, 20 de dezembro, a partir das 14 horas. Pouco antes deste horário, o site informou que a volta seria às 22 horas. Em vão. Ontem deveria voltar às 20 horas, depois às 22 horas. Também deu chabu.

Hoje o IBGE avisou: "Esta página está sendo exibida com conteúdo mínimo. Desculpem-nos pelos transtornos, porém por questões técnicas devido à modernização do Data Center do IBGE, foi necessário adiar o restabelecimento dos nossos serviços.
Esperamos em breve retomá-los".

Faltou explicar se foi incompetência do pessoal de TI ou se o instituto também sofreu invasão de "hackers" como os sites do Ministério da Saúde, da Receita Federal e da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal.

Como estão agindo os "hackers" bolsonaristas, com intuito de melar as estatísticas de mortes e casos por Covid-19 e atrasar a expedição de certificados de vacinação - e o governo decidiu examinar só em 5 de janeiro a autorização para vacinação de crianças entre 5 e 11 anos, como se o assunto não tivesse máxima urgência pela emergência da ômicron) - esta coluna não se espantaria se os invasores não estivessem com intenção de reduzir os números da inflação, do desemprego e da miséria e aumentar os dados do crescimento econômico, que tem frustrado o ministro Paulo Guedes. Amanhã está prevista a divulgação do IPCA-15, prévia do IPCA de dezembro.

Aliás, como disse certa vez o genial Zózimo Barroso do Amaral, no JB, num dia de falta de assunto para preencher o espaço: "Esta coluna não se espantaria se...".

"Aliás, nada mais espantaria esta coluna."

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