O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Copom sobe Selic e detona alta geral de juros

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Publicado em 07/12/2021 às 10:48

Alterado em 07/12/2021 às 10:50

Gilberto Menezes Cortes CPDOC JB

A dança de investimentos, que ocorreu no fim do 1º trimestre, quando a inflação disparou e provocou fuga de recursos da renda fixa e fundos de DIs para a caderneta de poupança, que remunerava o investidor em 0,4412%, bem acima dos rendimentos brutos (sem contar a taxa de administração) destes fundos, mudou de lado a partir de outubro, quando o CDI passou a render bruto 0,51% ao mês, superando a poupança.

Com o aumento esperado na 4ª feira, 8 de dezembro, para 9,25%, a Selic passa a superar o limite de 8,50% ao ano, que balizava o cálculo do rendimento mensal criado, em maio de 2012, para a caderneta de poupança, quando a Selic baixou dos 12,75% ao ano: 70% da meta da taxa Selic ao ano, mensalizada. Em novembro, segundo o Relatório de Poupança” do BC, o saldo de depósitos em cadernetas somou R$ 1,010 trilhão, com perda líquida de R$ 12,377 bilhões, a maior desde agosto, quando os saques passaram a superar os depósitos.

Se o Conselho Monetário Nacional não mudar a regra, a poupança volta a ser remunerada por 0,5% ao mês, taxa que, anualizada, acumula renda de 6,1677%, sobre o menor saldo do período de 12 meses. Pus essa condicional do CMN porque, na gangorra dos rendimentos financeiros, a poupança volta a “ficar de castigo”, rendendo bem menos que DIs e fundos de renda fixa.

Desde julho, quando a Taxa Selic, que funciona como regulador dos juros básicos da economia, foi elevada pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) para 5,25%, embora não conseguindo acompanhar a inflação, que acumulava 9,7% em 12 meses, os investidores voltaram a se interessar pela poupança. Agora, pode haver desestímulo, mas aí entra o dilema do CMN.

Se aumentar a remuneração da poupança, para estancar a fuga de recursos, pode encarecer muito os recursos a financiamento de imóveis com construção financiada por recursos do Sistema Financeiro da Habitação (FGTS e cadernetas de poupança). O Itaú fez projeções para a inflação e a elevação da Selic para 2022. Em todos os casos, a poupança vai perder feio para a inflação mensal e para a variação mensal dos DIs e fundos de renda fixa.

 

Macaque in the trees
Inflação mexe com Selic, CDI e Poupança (Foto: OLM)

 

O pior será a alta dos juros bancários

Mas em economia há sempre o outro lado da moeda. Se os bancos e cadernetas de poupança estão se movimentando para ajustar seus ativos e passivos às novas taxas de captação, que tentar tomar a dianteira da inflação, na captação de recursos junto ao público, o efeito perverso é que a escalada dos juros dos empréstimos (ativos dos bancos) será ainda mais violenta após a decisão do Copom.

Tome-se o piso dos empréstimos bancários, que são as operações de crédito consignado (desconto em folha) para os pensionistas do INSS. A taxa média estava em 1,80% ao mês e deve subir para 2,14% ao mês. Mas o levantamento realizado pelo Banco Central entre os dias 16 e 22 de novembro apontou que as taxas do crédito pessoal consignado já estão bem acima destes números para os clientes dos principais bancos.

A Caixa Econômica Federal sobrava 1,61% ao mês (21,07% ao ano), a Financeira Bradesco, 1,59% a.m. (20,80% a.a.), o Banco do Brasil, 1,64% a.m. (21,55% a.a.), o Bradesco, 1,68% a.m. (22,17% a.a.) e o Itaú Unibanco, 1,72% a.m. (22,70% a.a.). A taxa mais elevada era do Banco do Nordeste do Brasil (1,89% a.m. e 25,18% a.a.). Mas todas as taxas já tinham subido semana passada e vão subir ainda mais esta semana.

 

Cartão de crédito, o maior risco

As taxas do crédito pessoal são mais elevadas nas operações sem consignado (desconto em folha de funcionário público ou de empregado no setor privado). A CEF já cobrava 2,22% a.m. e 30,12% ao ano. NO BNB, os juros já eram bem menos salgados: 3,21% a.m. (46,16% a.a.). No BB, os juros subiam para 3,78% a.am. (56,10% a.a.). No Itaú Unibanco, a taxa era de 4,15% a.m. (62,90% a.a.). No XP era de 4,33% a.m. (66,30% a.a.) No Santander, 5,28% a.m. (85,38% a.a.). Entre os grandes, a maior taxa era no Bradesco: 7,38% a.m. (135,13% a.a.).

Os campeões de juros eram a Crefisa (20,14% a.m. e 804,39% a.a.) e o JBCredit (nada a ver com o JB), que cobrava 22,26% ao mês e 1.015,82 ao ano!

O perigo das compras de “black Friday” e Natal está justamente no impulso do cartão de crédito. Quando é possível quitar depois as despesas, tudo bem, o usuário ganhou até 45 dias para pagar, sem juros. Se tiver de financiar as compras no crédito rotativo, os juros são de 12,51% ao mês no Itaucard, de 12,56% ao mês no Santander e de 13% ao mês no Cartão Bradesco. Ou seja 333,46% ao ano. Uma conta impagável. E a espiral dos juros altos está apenas começando.

 

O exemplo da Colômbia

Enquanto a reforma tributária dorme esquecida no Congresso e os brasileiros seguem pagando das mais injustas cargas tributárias do mundo (pois os impostos são concentrados nos bens de consumo e serviços, penalizando a renda dos mais pobres que a dos mais ricos - que deveriam pagar mais impostos sobre lucros e dividendos e patrimônio), nossa vizinha Colômbia tomou uma ótima iniciativa.

Adotou uma espécie de “black friday” elástica, que compreende a isenção do IVA nas vendas durante vários dias (em São Paulo a associação comercial costuma promover um dia sem impostos, limitado a alguns estabelecimentos). O efeito imediato foi um forte aumento das vendas. No 3º dia sem IVA houve o recorde de mais de 2,8 milhões de transações aprovadas, um aumento de 80% em relação à média das três edições de 2020.

 

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