O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Petrobras para Bolsonaro: 'Calaaaado'! (só assim os preços dos combustíveis caem)

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Publicado em 06/12/2021 às 12:27

Alterado em 06/12/2021 às 12:31

Gilberto Menezes Cortes CPDOC JB

Na ânsia de anunciar boas notícias para reverter a queda de popularidade e o grau de aprovação de seu governo, o presidente Jair Bolsonaro, animado com a queda do preço do Brent (o petróleo de referência) no mercado futuro (há duas semanas chegou a ser cotado a US$ 82 o barril, mas na semana passada tinha caído a US$ 69), anunciou domingo que a Petrobras iria baixar os preços dos combustíveis esta semana.

Parecia ser o resultado natural da queda de 14% nos preços do Brent em uma semana, até a 6ª feira passada. Entretanto, o mercado de petróleo, que tinha sofrido o impacto da variante ômicron, voltou a subir esta 2ª feira e o barril do Brent passou dos US$ 72, com alta de mais de 2%.

Foi o bastante para a Petrobras soltar, às 8:54 desta 2ª feira, nota oficial, ao mercado e à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), desmentindo qualquer decisão de redução de preços no Grupo Executivo de Mercado e Preços (GEMP), que acompanha a paridade internacional dos preços do petróleo e combustíveis ajustados à taxa do dólar. Se o barril tinha caído, o real voltou a se desvalorizar, ainda que em percentual bem menor.

De modo elegante, a Petrobras tentou afastar a impressão de que o presidente da República sobre as decisões estratégicas da Petrobras, depois que conseguiu emplacar um presidente de sua confiança, o general Joaquim Silva e Luna, que veio da Itaipu Binacional, bem como renovar o Conselho de Administração da estatal. Mas a nota lembra o bordão do personagem “Nazareno”, criado por Chico Anysio, para a mulher “Sofia”: “Calaaada!”

 

Expectativas dão trégua na piora

Na semana em que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decide a última taxa Selic de 2021 e indica a projeção da política monetária para os próximos 18 meses (até o primeiro semestre de 2023), o mercado financeiro - pelo menos nas respostas à Pesquisa Focus, colhida pelo Banco Central na 6ª feira (após a divulgação do PIB negativo em 0,1% no 3º trimestre e a entrada do país em recessão) e divulgada hoje (06.12) - deu uma certa trégua na piora das expectativas para a inflação e o PIB, à espera do comunicado do Copom.

A expectativa de inflação de 2021 variou de 10,15% para 10,18% com as apostas dos cinco últimos dias úteis situadas em 10,19%. Já para 2022, o IPCA aumentou de 5% para 5,02% (caindo para 5,01% nos últimos cinco dias úteis). O mercado manteve a aposta de que a taxa Selic aumente 1,50 ponto percentual na 4ª feira e feche o ano de 2022 em 11,25%, mas elevou a taxa de 2023 de 7,50% para 8% ao ano, e manteve em 7% a taxa de 2024.

Para o PIB a taxa de 2021 desceu de 4,78% para 4,71%, e para 4,65% nas projeções dos últimos dias úteis (já após a divulgação do PIB do 3º trimestre pelo IBGE, no dia 2 de dezembro). Para 2022 a taxa recuou de 0,58% para 0,51%, caindo de 2% para 1,95% em 2023, ao passo que a taxa do PIB de 2024 elevou-se de 2% para 2,10%.

 

Para Itaú, Selic aumenta até 11,75% em março

Contrariando a visão acomodatícia do mercado, o Departamento de Estudos Econômicos do Itaú divulgou nesta 2ª feira o “Cokipt do Copom”, que se reúne dias 7 e 8 de dezembro. O Banco estima que no cenário base do comitê (que inclui taxa de câmbio seguindo a paridade do poder de compra e taxa de juros de acordo com a pesquisa Focus) as projeções da inflação aumentarão de 9,5% para 10,0% em 2021 e de 4,1% para 4,6% em 2022. Para 2023, espera um recuo de 3,1% para 3,0%.

Assim, o Itaú acredita que o Copom irá aumentar a taxa Selic em 1,50 p.p. em sua próxima reunião, para 9,25% a.a. Na visão do banco, “a pressão inflacionária segue intensa e disseminada, contaminando as expectativas de inflação e as próprias projeções do Banco Central. Acreditamos que a manutenção do ritmo de ajuste de 1,5 p.p. e a elevação da Selic para patamar significativamente contracionista ajudarão no processo de desinflação, mesmo que não sejam suficientes para garantir a convergência da inflação para a meta em 2022 (3,50%, com margem de tolerância de 1,50 p.p., até 5%).

O Itaú espera “que o comitê sinalize um outro aumento de mesma magnitude para a reunião seguinte, em fevereiro, e que siga reforçando o alerta sobre a necessidade de reduzir a incerteza sobre as perspectivas fiscais. As autoridades também devem repetir a mensagem que a taxa Selic irá até o nível necessário para trazer a inflação para a meta no horizonte relevante para a política monetária”

E o nível esperado pelo Itaú é de que “a taxa Selic atinja 11,75% a.a. ao final do 1º trimestre de 2022”. Ou seja, meio ponto acima das expectativas do mercado.

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