O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Petrobras investe US$ 68 bilhões (+24%), mesmo com dólar alto

Pré-sal e término da RNEST são destaques do plano 2022-26

Publicado em 25/11/2021 às 18:00

Alterado em 25/11/2021 às 18:00

Gilberto Menezes Cortes CPDOC JB

Para medir os valores reais dos Planos de Negócio e Gestão da Petrobras, que viraram Plano Estratégico na gestão do general Joaquim Silva e Luna, é preciso ter um olho no peixe (a cotação projetada para o petróleo) e outro no gato (o valor do dólar), que pode mudar tudo. No Plano Estratégico apresentado oficialmente hoje ao mercado (o formulário foi enviado no fim da noite da véspera à Comissão de Valores Mobiliários), o montante a ser investido nos próximos cinco anos (2022-2026) sobe para US$ 68 bilhões, um aumento de 24%, em dólar, sobre os US$ 55 bilhões previstos de 2021 a 2025.

Considerando que agora a Petrobras trabalha com cenário mais realista para o dólar e o petróleo (com projeções de queda futura de consumo de combustíveis fósseis – sobretudo carvão - determinados pela COP-26) do que no PNG de 2021-2025, elaborado em plena pandemia, quando os preços do barril despencaram, pode-se afirmar que, após uma década de retração de investimentos e de redução do portfólio (pelo desinvestimento de refinarias, gasodutos e campos maduros em terra, águas rasas e ultra profundas) os investimentos da estatal voltaram a crescer.

E além do destaque de que 83% dos investimentos (US$ 57,3 bilhões) serão concentrados em Exploração & Produção, 67% deste total (US$ 38,4 bilhões) irão ser destinados ao pré-sal, que nos planos da estatal deve responder por mais de 70% da produção nacional de petróleo em 2022 (2,1 milhões de barris diários) a 79% em 2026 (2,6 milhões de b/d).

E isso com o barril descendo da média de US$ 72 em 2022 para US$ 55, em 2026. Já o dólar cairia dos R$ 5,40 previstos para 2022 a R$ 5,10 em 2026.

 

 

Macaque in the trees
. (Foto: reprodução)
 

 

A Petrobras pretende contratar (parte no mercado interno e parte no exterior) equipamentos para operar, entre 2022 e 2026, 15 novos FPSOs em seis campos de petróleo na área do pre-sal na Bacia de Santos, onde irão operar oito novos FPSOs em construção, nos campos de Mero, Búzios e Itapu. Por seu potencial, Búzios, que atualmente, com 600 mil barris/dia, produz menos que o campo de Lula (que voltou a se chamar Tupi) tem concentrado os investimentos de US$ 23 bilhões da Petrobras entre 2022 e 2026, quando 10 FPSOs, estarão produzindo 1,7 milhão de barris/dia, já obedecendo às novas normas de controle de emissão de gases na atmosfera.

O Parque Integrado de Baleias, no extremo norte da Bacia de Campos, no litoral do Espírito Santo, deve receber, em 2024, um FPSO com capacidade para separar água do petróleo e gás e armazenar 100 mil barris dia. A Petrobras vai licitar outra embarcação com 120 mil barris de capacidade em 2026. E, por fim, os campos de águas ultra profundas de Marlim, na Bacia de Campos, recebem um FPSO de 80 mil b/dia e outro de 70 mil/b/d em 2023.

Uma novidade será a elevação das águas profundas do litoral de Sergipe/Alagoas como nova fronteira de exploração de petróleo e gás. Para isso, a Petrobras fará a licitação de um FPSO de 120 barris dia de capacidade para iniciar operações em 2026. Tudo com as novas exigências ambientais para exploração, que ganharam amplo destaque no Plano Estratégico.

 

Venda de Abreu e Lima é suspensa

Outra grande guinada ocorre na política de desmobilização do parque de refino. Na gestão Pedro Parente (2016-2018), que elaborou o PGN 2019-2023 e o Plano Estratégico até 2040, havia a previsão de privatização da Refinaria Abreu e Lima (RNEST), em Ipojuca (PE). Na gestão de Roberto Castello Branco (2019-abril deste ano, quando não foi reconduzido para mandato de mais dois anos, entregue a Joaquim Silva e Luna), a venda da RNEST estava mantida. Mas os problemas de descompasso entre a demanda de óleo diesel e a capacidade de oferta do parque de refino brasileiro levaram à revisão estratégica do papel da RNEST, que foi programada para extrair mais diesel no refino do que as demais refinarias controladas pela Petrobras.

Em vez de qualquer menção à sua venda (sem interessados, ao contrário da Refinaria Landulpho Alves (BA), com capacidade para produzir 330 mil barris diários de combustíveis, vendida ao fundo Mubadala, dos Emirados Árabes Unidos, a refinaria Abreu e Lima vai receber investimentos de US$ 1,3 bilhão para a conclusão da 2ª etapa da refinaria, com um TREM (em petrolês) de mais 160 mil barris de petróleo/dia. Deste total, haverá necessidade de refino de 98 mil b/d para atender o “mercado de Diesel S-10”, menos poluente.

Com mudanças em outras refinarias, haverá oferta total de 132 mil barris/dia de Diesel S-10. Hoje, o país produz 53% de diesel 500 (mais poluente) e 47% do tipo S-10. A meta é ter 100% de S-10 em 2026. Um dos reforços virá da Integração Operacional da Reduc (em Duque de Caxias-RJ) com a Gaslub, fábrica de óleo lubrificantes que será construída no Comperj (Itaboraí-R). No remodelamento haverá aumento de 93 mil barris/dia no refino de diesel S-10 e de querosene de aviação. O Comperj terá ainda central de gás natural.

 

Números sempre falham nos planos da estatal

A Petrobras aprendeu nos seus 68 anos de existência, e sobretudo a partir da descoberta de petróleo no mar da Bacia de Campos, em agosto de 1974, que tão importante quanto o fluxo das marés são as flutuações dos preços do barril do petróleo e da taxa de câmbio para validar as metas dos PNGs e Planos estratégicos. Há sempre fatores externos que mudam o cenário.

Quando descobriu o pré-sal, em 2007, a Petrobras sonhava (com base nas projeções de então) que o barril passaria dos US$ 200, caminhando para US$ 300 na década de 2020. E o dólar não passaria de R$ 2. Veio a crise financeira mundial de agosto/setembro de 2008 e jogou preços e sonhos no chão. Muitos projetos concebidos com aquelas premissas, ficaram inviáveis (como as refinarias Premium I e II (no Ceará e Maranhão), que, mesmo sem passar da limpeza dos terrenos, fizeram a estatal perder quase R$ 1 bilhão no seu cancelamento. O Comperj deixou de ser um ambicioso complexo petroquímico pelo mesmo fato. A pandemia da Covid-19 derrubou outros planos.

E as preocupações ambientais, que nem estavam presentes no Plano Estratégico até 2030, lançado pela então presidente Graça Foster, em janeiro de 2014. Em 2028, a questão foi tratada em três cenários no Plano Estratégico até 2040. Mas também ficaram para trás com as novas metas de redução de uso de fontes fósseis (por enquanto, focado em carvão mineral) pela COP-26.

 

Os cenários da Petrobras:

Correnteza – com transição energética lenta;

Cardume – com transição energética moderada;

Coral – com transição energética acelerada

O pior dos cenários está se desenhando depois da COP-26. Isso mostra o enorme erro que foi a decisão do governo Lula de suspender os leilões de partilha do petróleo (as reservas do pré-sal pediam outro tipo de abordagem). Ao suspender, por quase uma década, as licitações, o Brasil perdeu o tal “bilhete premiado” com o qual esperava pavimentar o crescimento da economia nos próximos 30 anos, incluindo a destinação de recursos dos royalties para reforçar a qualidade e a quantidade da educação.


Macaque in the trees
. (Foto: reprodução)


FUP critica

A Federação Única dos Petroleiros (FUP) parece também estar vivendo no passado quando lamenta que “apesar de o investimento anunciado pela Petrobrás, de US$ 68 bilhões em cinco anos (2022-2026), ser 23% superior ao anterior (2021-2025), ainda assim ele é muito inferior ao realizado até 2014. No período 2010 – 2014, os investimentos da Petrobrás somaram US$ 214,6 bilhões, mais que o triplo do montante anunciado pela atual direção da companhia”.

Dólar e petróleo estavam em outro cenário (no Plano Estratégico de 2013-2030), já depois da crise mundial de 2008 criar nova realidade, o petróleo estaria valendo sempre acima de US$ 100 por barril, a partir de 2014, e o dólar nem passaria dos R$ 3. No PGN de 2018-2022, o barril valeria US$ 70, em média, em 2020 (caiu abaixo de US$ 50) e ficaria em US$ 73, em 2022, mas o dólar estaria em R$ 3,69 em 2021 (praticamente só desceu 10 dias em maior abaixo de R$ 5 este ano) e R$ 3,80 em 2022 (todas as projeções estão acima de R$ 5,50). Na visão do plano apontado pela FUP, o país teria 4,2 milhões de barris diários de óleo em 2021. Estamos em torno de 3 milhões de barris/dia.

Depois de destacar que “o novo plano é altamente concentrado na exploração e produção (E&P), grande parte dele no pré-sal”, ao abordar os investimentos em refino, a FUP observa que “a capacidade de refino da Petrobrás deve encolher de 2,2MMbpd em 2021 para 1,2MMbpd em 2022. Os projetos estão concentrados na integração das Bacias do Sudeste (Reduc e GasLub). No caso da RNEST, fica a indagação: sinalizaram a volta do investimento porque não apareceram compradores para a refinaria?”. A FUP teme que os investimentos na RNEST sejam apenas para “agregar valor e tentar vender novamente a unidade”.

A Federação também sobrou “onde estão os investimentos para o processo de transição energética, para os renováveis, dos quais a direção da Petrobrás vem se desfazendo, indo na contramão da tendência mundial? Onde estão os investimentos em novas tecnologias, que gerem energias mais limpas?”

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