O OUTRO LADO DA MOEDA
Apostas da Selic de 2021 estão agora entre 7% e 7,5%
Publicado em 05/08/2021 às 15:00
Alterado em 05/08/2021 às 18:16
O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) entregou a alta esperada de 1,0 p.p., elevando a taxa básica para 5,25% a.a., e sinalizou nova alta de 1,0 p.p. em sua próxima reunião. Isso estava no radar das instituições financeiras e consultorias. O que se especula agora é se a taxa final de 2021 – mantida, em princípio, para 2022 – será de 7,0% ou 7,50% ao ano.
O Copom adiantou ainda a necessidade de levar a Selic além do nível neutro (em que os juros não interferem na recuperação da produção e do emprego), só afetando, preferencialmente, a taxa de câmbio e as expectativas inflacionárias. E aqui o mercado se divide. O Departamento de Estudos Econômicos do Itaú, em nota distribuída ontem à noite, após a decisão unânime do BC, considera o juro neutro “na faixa de 6,5%-7,0%”, espera alta de 7,5% da Selic ao final do ciclo, sem precisar se seria em 2021 ou começo de 2022.
A LCA Consultores, que há muito previa alta até o patamar de 7,5%, contina a “projetar alta de 100 pontos-base na próxima reunião do Copom, agendada para 22 de setembro; seguida de uma elevação de 75 pontos-base em outubro e uma última de 50 pontos-base, em dezembro - de modo que a Selic encerrará o ano em 7,5%”. A consultoria sublinha que a projeção “está amparada na expectativa de que as pressões correntes sobre a inflação e a cotação cambial tendem a refluir gradativamente ao longo do 2º semestre”.
Aperto ainda maior?
Mas a LCA admite que “vem aumentando a chance de um aperto das condições monetárias ainda maior do que atualmente contemplado em nosso cenário base”. Ou seja, já reconhece que o Copom poderia ter antecipado o nível de 1 ponto percentual há mais tempo (esta coluna e o economista Jeremias Leite Caldas defenderam isso já para a reunião de março).
Bradesco espera 7%
Ao analisar a decisão do Copom, que considerou dentro “do esperado”, o Departamento Econômico do Bradesco considera que “diante da deterioração recente dos índices de preços” [entre 6,5% e 7% este ano] e do “balanço de riscos, o comitê julgou apropriado elevar a taxa de juros para acima do nível neutro, de forma a assegurar a ancoragem das expectativas.
O Bradesco manteve a expectativa de elevação da taxa Selic para 7,0% ao final deste ano, considerando que “as pressões correntes sobre a inflação e a cotação cambial tendem a refluir gradativamente ao longo deste 2º semestre” e que a taxa de 7% seria compatível com a convergência da inflação em 2022. Para 2023, a taxa cairia para 6,50% ao ano.
A carne é forte (graças à China)
Um dos principais vilões da inflação, com altas de 6,50% a 10% no 1º semestre deste ano e de 38% a 40% em 12 meses (outros alimentos e itens de consumo subiram até mais, mas nenhum com tanto peso quando a da carne bovina), a carne continua a ter seu ciclo de alta dependente das vendas para o mercado externo, em especial à China, que encontrou nas carnes bovina e de frango o sucedâneo de proteínas para substituir a forte perda na produção de carne suína (a mais consumida no país), em função das mortes no rebanho nacional pela peste suína africana.
De acordo com a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), as exportações totais (in natura e processados) brasileiras de carne bovina apresentaram recuo anual em volume no mês de julho, mas alcançaram a maior receita cambial da história, segundo os dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia.
Em junho foram exportadas 192,544 mil toneladas, queda de 1% frente a julho de 2020. Mas a receita cresceu 30% sobre o mesmo período, para US$ 1,011 bilhão. De janeiro a julho, as vendas alcançaram 1,073 milhão de toneladas, queda de 3% ante 2020, enquanto a receita subiu 9%, para US$ 5,096 bilhões.
A China, incluindo Hong Kong, foi a principal importadora (63%) da carne bovina brasileira nos sete primeiros meses de 2021, com 630,55 mil t. adquiridas - o volume representa leve queda ante as 634,14 mil t. do mesmo período de 2020. Em 2º, foram os Estados Unidos, com 52,96 mil t. importadas entre janeiro e julho, 93,2% a mais do que um ano antes. O Chile vem na 3ª posição, com 48,83 mil t. importadas no período, alta anual de 22,9%.
Segundo a Abrafrigo, 80 países aumentaram as importações neste ano frente aos sete primeiros meses de 2020, enquanto 76 outros as reduziram. Os exportadores de carne podiam incorporar duplamente o grito de guerra da torcida chilena para sua seleção de futebol. Em vez de Chi-Chi, Chi-le-le, podiam começar com um Chi-Chi- Chi-na-na, antes do Chi-le-le. Mas vai que o presidente Bolsonaro não gosta...