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Mundo treme com 2ª onda da covid-19; para Bolsonaro está tudo bem

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A nova onda da Covid-19 pega o Hemisfério Norte na metade do outono, rumo ao período mais rigoroso do inverno, que facilita a propagação do novo coronavírus, pela reclusão das pessoas em ambientes mais fechados. Isso levou vários países europeus, como França, Alemanha, Itália, Irlanda, Espanha e Portugal, e até a distante Austrália, a reforçarem medidas de isolamento, com adoção até de lockdown (França e Alemanha). Para piorar, uma das cientistas que acompanham os testes da vacina de Oxford, admitiu que qualquer vacina pode não garantir a cura, com novos riscos de recidiva a cada ano.

Nos Estados Unidos, a seis dias da eleição, os casos crescem fortemente no Texas, Califórnia e Flórida e em estados chave para ganhar o Colégio Eleitoral, no Meio-Oeste, mas os governantes, à frente o presidente Trump, que tenta a reeleição, evitam perigosamente alarmar a população. Em fevereiro, Trump minimizou a covid-19 e o resultado é que país já acumula 227 mil mortes.

O efeito do susto da nova onda que, além de aumentar o total global de 1.170 mil mortes, deve frear a recuperação e prolongar a crise econômica para 2021 e 2022, foi a alta do dólar que rondou os R$ 5,80 e cedeu um pouco após o Banco Central vender US$ 1 bilhão à vista pela manhã, e uma derrubada geral das cotações do mercado de ações e commodities. Nos EUA, os principais índices de ações caem mais de 3%, movimento que foi acompanhado na B3, com queda de praticamente todas as ações que integram o Ibovespa, que caía mais de 3,45% após as 14 horas.

Os vencimentos dos contratos futuros de commodities também estavam em queda, como a soja, o milho e grãos em geral. Os preços da carne bovina resistiam um pouco mais. Mas a maior queda foi no petróleo. Só a partir de abril de 2027 o barril do tipo Brent superaria a casa dos US$ 50. À vista, o Brent estava sendo negociado abaixo de US$ 40, com queda de 4,69%.

Bolsonaro, como arauto em minarete, vê tudo bem

No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro segue desconectado da realidade. Continua dizendo que o país se saiu bem da covid-19, embora a fila do desemprego não pare de aumentar e a renda a encolher, depois da redução em 50% no valor mensal do Auxílio Emergencial, para R$ 300. Parece aqueles arautos que, do alto das torres que serviam de fortalezas avançadas das cidades e cidadelas mediáveis bradavam: “Dezoito horas e está tudo bem”. Às 18:05 era morto por flechas de exércitos invasores, como os de Átila, rei dos Hunos, e a cidade logo caí em mãos inimigas.

A escalada do dólar desmentiu que tudo estava OK e que os investidores estrangeiros estavam voltando, afirmação referendada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Para piorar, depois de criar polêmica inócua sobre a obrigatoriedade de uma vacina que nem foi testada e aprovada, deixou que seus ministros propusessem, por decreto publicado no Diário Oficial da União, uma privatização parcial do SUS (estrutura que evitou o pior na pandemia) na União, nos estados e municípios.

O SUS materializa o acesso universal à Saúde assegurado pela Constituição. Não cabe a decreto ou portaria mudar o que está inscrito na Constituição, o que só pode ser feito por decisão das duas casas do Congresso. Ou seja, uma trapalhada tremenda. Uma crise em área que funcionou heroicamente na pandemia da covid-19.

Petrobras dá novo passo para desvincular Lula do pré-sal

Ao informar ontem a compra, por US$ 353 milhões, das fatias dos sócios Shell (25%) e Petrogal (10%) na plataforma P-71, com capacidade de produção de 150mbpd, em fase de terminação no estaleiro Jurong (ES) e que estava reservada para atuar no campo de Tupi, mas que com o redimensionamento do plano de desenvolvimento de Tupi, será deslocado para o campo de Itapu, a Petrobras deu mais um passo para esvaziar no governo Bolsonaro a associação do ex-presidente e Lula ao pré-sal.

O campo de Tupi, na Bacia de Santos, foi a primeira grande descoberta do pré-sal na costa brasileira, em 2006. Em 2009, foi rebatizado de Lula (oficialmente não era em homenagem ao então presidente, que, reeleito, só deixou o cargo em 31 de dezembro de 2010, após ter feito Dilma Roussef sua sucessora). Mas, seguindo a prática da Agência Nacional do Petróleo (ANP) de usar nomes de peixes ou frutos do mar para batismo de campos de petróleo, o Lula em questão, seria o molusco.

Mas uma ação popular, após a vitória de Bolsonaro, levou à decisão judicial sacramentada, em setembro último, de que o campo voltasse a ser chamado de Tupi. Recordista de produção nacional em petróleo e gás, com mais de 2 bilhões de barris equivalentes de petróleo acumulado, a menção ao nome de Lula desagradava aos ouvidos presidenciais e da família Bolsonaro.

Era questão de tempo Tupi-Lula-Tupi ser superado pela produção de novos campos como Búzios, que vem batendo recordes de produção por cada novo poço. Tirar uma plataforma FPSO que processaria 150 mil barris/dia de Tupi/Lula para acionar logo os ativos de Itapu, comprados no leilão da cessão onerosa, é uma decisão para colocar em operação campos mais promissores de alta produtividade (os de baixa produtividade em terra ou águas rasas na Bacia de Campos estão sendo desativados).

Mas também ajuda a diluir a importância de Tupi-Lula-Tupi na história do pré-sal e da Petrobras. E porque deslocou a P-71, a Petrobras cancelou a licitação de afretamento de uma nova plataforma que atenderia ao projeto de Itapu.