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Cultura Acima de Tudo

Crédito: Cyntia C Santos -
Grupo LiberTango
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Tenho batido na tecla sobre a importância de investimentos em Cultura e, por conseguinte, em Educação, fato que parece não haver dúvida da necessidade. Chega a ser um clichê na boca de todos: é preciso investir em Educação. Pois é, Educação e Cultura se confundem nas sutilezas de suas atuações, sendo a separação entre uma e outra, na maioria das vezes, irrelevante. Sabe-se que há necessidade (urgente) de educação básica para milhões de brasileiros que passam à beira do analfabetismo, e que a Cultura impulsiona este acesso, e vice-versa. Mas de que Cultura estou falando? Das manifestações artísticas e sociais, como artes, ciência, filosofia e tudo que envolve a expressão do ser humano na busca de uma identidade, e também da cultura ligada ao entretenimento. A definição de Cultura pode ser bem mais complexa do que a descrita aqui, mas não importa para a finalidade do que vem a seguir.

O que chama atenção é: por que governos e pessoas com poder econômico no Brasil não entendem de uma vez por todas que a atividade cultural é extremamente lucrativa? Até entendem, mas esquecem, por conveniências, e não priorizam esse fato, a não ser que por interesse num lucro imediato sejam beneficiados. E neste esquecer, nesta inércia, os governos brasileiros e a elite do país, admiradores do modelo americano, se mostram absolutamente incompetentes e sovinas na hora de copiar o que tanto enaltecem nos Estados Unidos.

Nos Estados Unidos, por exemplo, há milhares de orquestras sinfônicas, a maioria patrocinada por pessoas físicas e dezenas de leis de incentivos como, por exemplo, a Lei Rouanet daqui, além do governo, que tem obrigações, pela Constituição, de dar recursos que incentivem a Cultura. Ou seja, venha Trump ou Obama, as principais instituições culturais e educacionais dos Estados Unidos não se abalam ou, muito menos, são destruídas em um piscar de olhos. O mesmo não acontece num país frágil como o Brasil, em que a democracia ainda não foi colocada acima de tudo, e qualquer Zé Ninguém que consiga alguns milhares de votos, como um Alexandre Frota da vida, passa a ter, da noite para o dia, algum poder de impor e opinar sobre algo que não tem a menor ideia e sem trazer a bagagem de conhecimentos mínima para lidar com assuntos tão cruciais, deixando de fora e com papéis irrelevantes milhares de profissionais sérios que se dedicam há anos aos seus ofícios: professores, artistas, filósofos, cientistas, produtores, educadores, etc, passam a não ser escutados, a menos que façam algum tipo de barganha com o governo.

Eu estava, uma vez, num concerto no Lincoln Center, em Nova York, quando observei, folheando o programa da apresentação, os nomes das pessoas que contribuem, que dão dinheiro, para as apresentações. Não é que tinha nomes de alguns doadores brasileiros! Que raio de elite é esta que se veste de verde e amarelo, mas na hora H quer ser americana? Que patrocina concertos nos Estados Unidos, mas para fazer o mesmo no Brasil, somente se o “tlim-tlim” da caixa registradora soar mais alto do que a vaidade de se exibir num programa do Lincoln Center!

Este preâmbulo foi para dizer que é impossível não notar que a programação do Theatro Municipal deste ano, o principal e mais bonito teatro da cidade, está mais capenga do que nunca e que isso é fruto do descaso de governos e pessoas que poderiam colaborar. Até o momento o Theatro Municipal não conseguiu elaborar para o ano uma programação que possa ser apresentada ao público. E a programação deste mês, que com algumas exceções é praticamente inexistente, vai sendo elaborada de última hora, sem permitir que o público, caso não esteja antenadíssimo, tome conhecimento e vá aos concertos. Vale lembrar que isto nada tem a ver com os atuais gestores do Theatro. Muda-se o presidente do Theatro, mas o problema continua o mesmo. Não se faz um teatro sem verbas para orquestras, recursos para manter o teatro, etc, sem a participação da sociedade e de um governo que entenda a importância da Cultura. Infelizmente, parece que o lema dos atuais governos estadual e federal é: “Cultura abaixo de tudo!”. Um teatro como o Municipal deveria estar acima de qualquer governo e sua programação, construída com o capricho do quilate dos artistas que lá se apresentam. E, pasmem, um bom concerto no Theatro Municipal tem garantia de bilheteria esgotada!

Mas nem tudo é tão desolador como parece; temos artistas da melhor qualidade em todas as áreas e, graças ao esforço de alguns, vai-se fazendo Cultura, vai-se fazendo beleza, vai-se fazendo música, vai-se divertindo. Vai-se fazendo algo mais valioso. Então, hoje, na Sala Cecilia Meireles, tem um excelente concerto do grupo LiberTango, com o espetáculo “Tangos Hermanos”. O grupo é formado pela pianista argentina, radicada no Brasil, Estela Caldi e seus filhos, Alexandre Caldi (sopros) e Marcelo Caldi (acordeom). O repertório inclui, entre outras peças, ‘Tango’, de Stravinsky; ‘Inverno Porteño’, de Piazzolla, ‘Nove de julho’, de Nazareth e mais obras dos próprios integrantes (Alexandre e Marcelo Caldi). Sem dúvida vai ser um concerto e tanto!

Macaque in the trees
Grupo LiberTango (Foto: Crédito: Cyntia C Santos)