ASSINE
search button

Lothar Opilik/Divulgação -
Kukuruz Quartet
Compartilhar

Quatro pianos juntos! E tocados por quatro excelentes pianistas suíços. É o caso do Kukuruz Quartet, fundado em 2014 e composto pelos pianistas Philip Bartels, Duri Collenberg, Simone Keller e Lukas Rickli. Os pianistas trazem em suas bagagens formações muito distintas, o que permite ao grupo se dedicar a um repertório eclético que mistura música clássica, jazz e improvisação. Entre as peças que fazem parte do repertório do quarteto está “A Arte da Fuga”, de Bach, que o grupo executa em pianos preparados (um piano que tem o som alterado ao se colocar objetos sobre ou entre as cordas). Kukuruz significa “milho” em vários idiomas. Keller conta de onde veio o nome: “Quando fundamos o quarteto estávamos num campo de milho, durante um projeto específico de arte da terra que era bastante complicado. Daí nasceu o ambíguo nome da expressão suíço- alemã “Mais machen” (literalmente “fazer o milho”, que significa agitar o mal).

Macaque in the trees
Kukuruz Quartet (Foto: Lothar Opilik/Divulgação)

O quarteto tem também o mérito de contribuir para o resgate do compositor americano Julius Eastman (1940-1990), ainda não tão conhecido do público. Compositor e pianista que fez parte da cena ‘avant-garde’ minimalista em Nova York nos anos 70 e trabalhou com artistas como Meredith Monk (participou como vocalista no álbum “Dolmen Music” da compositora), Robert Wilson e Pauline Oliveros. Eastman teve boa parte de suas partituras perdidas devido ao final trágico de sua vida. Em 1981 foi despejado de seu apartamento no East Village, passando a viver como um sem-teto, além de sofrer com problemas de alcoolismo e drogas. Morreu sozinho, aos 49 anos, de um ataque cardíaco.

Macaque in the trees
Julius Eastman (Foto: Donald Burkhardt/Divulgação)

O reconhecimento a Eastman começou a ocorrer há uns 20 anos e tomou fôlego quando foi lançado o álbum “Unjust Malaise”, em 2005, pelo selo New World Records. Sua obra, como ele próprio descreveu, obedece a “princípios orgânicos” (organic music), onde cada nova seção de uma peça deve conter todas as informações das seções anteriores. Entre as peças notáveis desse período estão as escritas para vários pianos e lançadas em 2018 num álbum pelo Kururuz Quartet.

No álbum “Julius Eastman piano interpretations”, o quarteto executa quatro peças escritas entre 1970 e 1984. A mais conhecida, “Evil Nigger” (1979), é uma viagem quase hipnótica que lembra um pouco outras peças minimalistas da época, como “Piano Phase”, de Steve Reich. Evil Nigger tem algo transgressor e é dolorosamente bonita. As outras peças do álbum são “Fugue no.7”, “Budah” e “ Gay Guerrilla”, completando uma bela amostragem da atmosfera musical que Eastman nos deixou. O lançamento deste álbum no ano passado foi considerado por críticos um dos melhores do ano no gênero.

Macaque in the trees
. (Foto: Reprodução)

Keller define um dos propósitos do grupo como: “ Nós somos atraídos por oportunidades de dar voz a compositores maravilhosos que foram negligenciados ou que precisam ser ainda descobertos”.

Donald Burkhardt/Divulgação - Julius Eastman
Reprodução - .
Tags:

coluna | m?sica | pauta