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Parabéns, Rodolfo Caesar

Reprodução -
Rodolfo Caesar
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Amanhã é aniversário de um dos compositores mais especiais da música eletroacústica (ME) brasileira. Rodolfo Caesar, que faz parte da segunda geração de compositores da ME no Brasil, foi essencial durante as décadas finais do século passado, tanto na criação de diversas obras para este gênero como para sua divulgação.

A música eletroacústica surgiu na década de 1940 e tem suas origens na Musique Concrète francesa e na Elektonische Musik alemã, uma mistura de música concreta com música eletrônica. O termo “música concreta” se deve a que as peças são criadas a partir de sons gravados, de algo concreto mesmo, que depois são transformados. Foi na França que surgiu a ideia de música concreta e teve como principal criador o engenheiro e compositor Pierre Schaeffer. Grosso modo a ME é criada em laboratórios/estúdios e sua partitura, em vez de escrita e interpretada por músicos, lida com os parâmetros físicos do som como, por exemplo, as frequências e amplitudes de ondas sonoras. Com o avanço da tecnologia, a manipulação desses parâmetros e de muitos outros passou a ser realizada com o computador, dando origem a uma outra vertente, a música computacional. Uma composição eletroacústica é uma obra que mexe nos detalhes da origem do som. Sendo assim, é uma música que difere muito de outros gêneros, e talvez por isto restrita a um público pequeno, mas nem por isso menos “bela”.

Caesar, depois de ter iniciado seus estudos no Rio, foi para Paris, ou seja, foi à fonte de tudo que estava sendo criado nesse campo e onde compôs suas primeiras peças eletroacústicas, “Curare I” e “Les Deux Saisons”.

Macaque in the trees
Rodolfo Caesar (Foto: Reprodução)

Nos anos 80, já de volta ao Rio...Passo a palavra para o compositor Tim Rescala, a quem pedi um depoimento sobre o amigo: “Conheci Rodolfo Caesar na casa de Vania Dantas Leite. Meses depois, numa situação inusitada, nos reencontramos. Diante da dificuldade de vender seus discos na saída de um concerto, pois estava com uma perna engessada, me ofereci para desempenhar a tarefa por ele. Como jovem candidato a ingressar no mundo da música eletroacústica, vi ali a chance de me aproximar de alguém que admirava e que acabara de chegar de Paris, onde havia estudado com um mito do gênero, Pierre Schaeffer. Contrariando a lógica, me saí muito bem como vendedor e acabei sendo presenteado por ele com um dos discos, e para mim não poderia ter havido pagamento melhor. Devorei o disco em diversas escutas, encantado com sua abordagem estética e seu estilo próprio. Ali começou uma amizade longeva e um trabalho em conjunto, incluindo a criação do Estúdio da Glória, uma cooperativa de compositores que se cotizaram para tornar possível o sonho de utilizar um estúdio de música eletroacústica. Sim, pois estávamos ainda longe da era digital e do computador pessoal. Trabalhávamos com fita magnética, DX-7 e outras maravilhas tecnológicas da época. A convivência com Rodolfo propiciou a compositores mais jovens, como eu e Tato Taborda, um aprendizado natural e de grande riqueza.Enfim, parabéns, Rodolfo, Duda para os íntimos, pela sua trajetória exemplar como compositor de linguagem genuína, professor de recursos inesgotáveis e amigo de coração aberto e sensível”.

Caesar é professor da UFRJ e em seu último livro, “O enigma de lupe”, expõe a continuidade de seu trabalho e aborda uma nova área da música, desembocada da ME e da computação musical: a “sonologia”. Como sempre, Caesar está adiante no tempo. Pelo menos do meu, que desconhecia até mesmo a palavra “sonologia”. Obrigada!