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Gigantes do petróleo de olho na eletrificação

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Há duas semanas escrevi neste espaço sobre como as grandes montadoras estavam fechando parcerias entre si e com empresas de outras áreas para investimentos em veículos elétricos e autônomos. Porém, quando falamos em eletrificação, há outro setor que também será impactado: óleo e gás. Afinal, se em 2018 a venda de carros elétricos representou cerca de apenas 2% das vendas totais em todo mundo, entre 2030 e 2040 este número deve chegar a mais de 50%, o que diminuirá bastante a demanda por combustíveis fósseis. Mas engana-se quem pensa que as grandes companhias de petróleo estão paradas assistindo à revolução na indústria automotiva. Elas começaram a se movimentar nos últimos anos, adquirindo e investindo em empresas e tecnologias que possam coloca-las em posição de destaque nesta nova Era.

Um dos segmentos que tem recebido mais atenção é o de pontos de recarga de bateria. A iniciativa mais recente nesta linha foi da Shell, que, no final de janeiro, anunciou a compra da Greenlots, uma startup americana que desenvolve soluções em hardware e software para recarga de veículos, além de operar uma rede de pontos própria. Esta não foi a primeira incursão da Shell na área: em 2017, ela adquiriu a holandesa NewMotion, que possui uma das maiores redes de recarga da Europa, com mais de 30 mil pontos privados (casas, escritórios, shoppings e supermercados, por exemplo) e 50 mil pontos públicos. Outra companhia que seguiu o mesmo caminho foi a BP, que ano passado pagou US$ 170 milhões pela Chargemaster, dona de uma rede de 6.500 pontos no Reino Unido. A Chevron e a norueguesa Equinor ASA (antiga Statoil) são investidoras da americana Chargepoint, a empresa com a maior rede de pontos de recarga do mundo, com valor de mercado avaliado em US$ 1,5 bilhão. A francesa Total comprou a PitPoint e a G2Mobility, além de, em 2016, ter se comprometido a investir US$ 300 milhões para adaptar os 5 mil postos de combustível que possui no mundo para receber veículos elétricos. A Petro-Canada e a portuguesa Galp também adicionaram pontos de recarga em suas redes de postos. Até a Exxon Mobil, a maior empresa de petróleo do mundo, está considerando entrar na área, de acordo com um estudo do Atlantic Council, um think tank americano.

Estas iniciativas são muito importantes, pois um dos principais obstáculos para a massificação de carros elétricos é justamente a falta de infraestrutura. Inclusive isso fez com que montadoras criassem suas próprias estações, como forma de estimular os clientes - a Tesla, por exemplo, tem mais de 10 mil pontos de recarga pelo mundo. Porém, segundo estimativas, apenas uma pequena parte das recargas será feita em trânsito, ou seja, em postos; a maioria será realizada em casa ou durante o período de trabalho. Isso faz com que as companhias de óleo e gás passem a ter como concorrentes as concessionárias de distribuição de energia, que também começaram a olhar para os veículos elétricos como uma nova fonte de receita. Alguns players de O&G, inclusive, se adiantaram à tendência: a Shell comprou a First Utility, sétima maior fornecedora de energia elétrica do Reino Unido, e a Total adquiriu a Direct Énergie, que presta o mesmo serviço, mas na França.

No Brasil, o mercado para carros elétricos ainda engatinha. Segundo a Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), são cerca de 10 mil pelas ruas do país. O alto custo dos automóveis e a falta de infraestrutura para atendê-los são os principais motivos. Segundo o aplicativo PlugShare, que lista pontos de recarga pelo mundo, são apenas pouco mais de 100 locais públicos disponíveis, a grande maioria nas regiões Sudeste e Sul. Em meados de 2018, porém, a Aneel regulamentou o serviço de abastecimento de carros elétricos, o que promete acelerar o desenvolvimento deste segmento no país. A Petrobras, entretanto, ainda precisa divulgar seus planos para eletrificação.