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Como alguns países se ajustam à inteligência artificial

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A inteligência artificial vai impactar a sociedade de diversas formas. Ao mesmo tempo em que, segundo a consultoria McKinsey, é esperada uma adição de cerca de US$13 trilhões à economia mundial até 2030 em função da tecnologia, há uma clara preocupação sobre como ela irá mexer com o mercado de trabalho. Quantos empregos serão criados ou eliminados são números impossíveis de se prever com exatidão, mas é certo que haverá transformações. Os profissionais vão precisar ampliar suas capacidades para estarem preparados para as novas oportunidades que surgirão. Ano passado, um relatório do Fórum Econômico Mundial afirmou que 54% de todos os trabalhadores terão que passar por algum tipo de treinamento em habilidades tecnológicas até 2022.

De olho na tendência, a Finlândia não quis ficar para trás. O país nórdico planeja ensinar os conceitos básicos de inteligência artificial para 1% da população (cerca de 55 mil pessoas) nos próximos anos. O objetivo, pelo menos por agora, não é formar desenvolvedores especializados na construção de aplicações que utilizem a tecnologia, mas sim aumentar o conhecimento dos cidadãos sobre as oportunidades e riscos atrelados a ela. Por ser um país menor, o foco não é competir com EUA e China pela liderança global em IA, mas fazer com que os finlandeses saibam de que maneira podem usá-la para melhorar suas vidas. A iniciativa começou com um curso online gratuito oferecido pela Universidade de Helsinki, mas que foi posteriormente adotado por entidades governamentais e mais de 250 empresas locais, que se comprometeram a treinar suas forças de trabalho. Até dezembro de 2018, cerca de 10.500 pessoas já haviam se formado. O curso é parte de uma estratégia nacional exclusiva para inteligência artificial, na qual a Finlândia planeja lançar um relatório final em abril.

Outras nações também lançaram planos específicos para estimular a pesquisa e adoção de IA - Tim Dutton, um especialista no tema, escreveu um ótimo artigo sobre isso no Medium e é nele que me baseio aqui. A já citada China tem o plano mais completo de todos. Em 2017, foi lançado o AI 2030, que tem como grande objetivo fazer do país asiático a referência mundial na tecnologia até 2030. Os EUA, apesar da posição proeminente, curiosamente não tinham uma estratégia coordenada até maio de 2018, quando, talvez ao perceberem o avanço chinês, criaram um comitê especial para aconselhar a Casa Branca no assunto. Ainda é algo bem aquém do que se espera da maior potência em inteligência artificial do mundo, mas não deixa de ser um começo.

Valem destacar também: o Canadá, o primeiro país a lançar uma estratégia nacional oficialmente, onde se comprometeu a investir cerca de US$ 130 milhões em pesquisa e na formação de novos profissionais; a França, cujo presidente Emmanuel Macron afirmou que irá investir 1,5 bilhão de euros na tecnologia até o final do seu mandato; e a Coreia do Sul, que vai destinar aproximadamente US$ 2 bilhões para criação de faculdades especializadas e o desenvolvimento de aplicações com IA. Dutton comenta até sobre planos de países basicamente sem tradição tecnológica alguma, como Tunísia, Emirados Árabes Unidos, México e Malásia.

Infelizmente o Brasil não foi incluso, por não ter uma estratégia definida. Talvez por isso a McKinsey, em estudo do ano passado, dividiu 41 países em quatro grupos de acordo com suas capacidades e nos colocou entre o terceiro e o quarto piores. Não é por incompetência de nossos profissionais. Quando entrevistei Marcelo Labre, diretor do Morgan Stanley e especialista em inteligência artificial, o executivo elogiou bastante os brasileiros. O problema é que as iniciativas por aqui são individuais, seja de pessoas ou empresas. Falta ao governo reconhecer a importância do assunto e fazer sua parte, lançando um plano maior e integrado com o setor privado para preparar a população para a Quarta Revolução Industrial.